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Estreia com teatro lotado: Peça que conta a história da primeira trans a se casar em solenidade coletiva no Sistema Penitenciário da Paraíba
Ressocialização, dignidade no cumprimento da pena. Bruna e Josimar, reeducandos que cumprem suas penas na Penitenciária de Segurança Máxima Desembargador Sílvio Porto, na capital paraibana. Tornaram-se protagonistas de suas próprias histórias. Ela a primeira mulher trans a se casar em uma cerimônia coletiva, no Sistema Penitenciário da Paraíba, teve a sua história contada por meio de uma peça teatral apresentada no Teatro Ednaldo do Egypto, na capital paraibana. Um expressivo público lotou o teatro, incluindo autoridades (50 lugares), 49 familiares dos privados de liberdade. Expectadores e personagens, juntos, vivenciaram momentos emocionantes.
Estreia marcante — O teatro é libertário e socializador. Com esta convicção a professora de dança, Germana Dália, coordenadora do Projeto MoveMente organizou a ação ressocializadora. Ela pensou em todos os detalhes para tornar o momento especial e pela primeira vez realizou o sonho de reunir 23 reeducandos, “mulheres trans”, que após os ensaios, pisaram no palco de um teatro e mostraram talento, irreverência e muita superação, ao interpretar uma peça teatral fora do ambiente prisional. Jamais esquecerão a quinta-feira, 25 de julho de 2024, o dia em que se transformaram em atores, auxiliares de camarins, entre outras funções, se revezaram no palco e expressaram talento e vocação para a arte.
Promovido pelo Projeto MoveMente: a Peça teatral — “Aventuras em série, a história por trás da história” foi marcado pela emoção, alegria e cativou o público, que lotou as dependências do teatro. No ato 1 — contou um pouco a história de Bruna, uma mulher trans que enfrentou as adversidades da vida, que se supera a cada dia. Ambos trabalham na unidade prisional. Ela no escritório e Josimar na manutenção. O 2º ato — mostrou a realidade do ambiente carcerário e a importância do apoio e o acolhimento dos diretores Ivan Gonçalves, Gilberto Rios e Sérgio Souza, e a equipe Seap (policiais penais da unidade prisional). Destaca a policial penal Mirtes Daniele, como ela contribuiu com o desempenho positivo do MoveMente dentro da Penitenciária. Já no 3° ato — apresentou como foi possível conciliar os trâmites legais da cerimônia dos nubentes.
A produção teatral foi inspirada no cotidiano das reeducandas e reeducandos, com bom humor apresentou algumas situações de encontros e reencontros, evidenciando que o respeito e a dignidade no cumprimento da pena são de grande importância e contribuem nas mudanças dos comportamentos.
Iniciativa — Uma realização do Tribunal de Justiça da Paraíba, por meio da Vara de Execução Penal (VEP) de João Pessoa; Governo do Estado, através da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária; Projeto MoveMente – Saúde Mental; e Conselho da Comunidade.
O secretário João Alves prestigiou o espetáculo. “Me sinto bastante satisfeito e agraciado com este momento, nossos reeducandos se apresentaram aqui no teatro, com toda a segurança e estrutura necessária para a sua realização. Um evento bastante prestigiado por várias autoridades. Vamos seguir em frente valorizando e possibilitando a ressocialização dos privados de liberdade”, declarou o gestor Seap.
A juíza Andréa Arcoverde (VEP) assistiu à peça e enfatizou: “Muita alegria. Um orgulho para a Vara de Execução Penal, apresentamos a primeira peça do Projeto Movemente, com as mulheres trans da Penitenciária Sílvio Porto, um projeto que tem forte caráter de humanização e dignidade no cumprimento da pena. Mulheres antes invisíveis no Sistema Penitenciário, hoje são protagonistas de projetos de ressocialização da Seap”.
MoveMente – É um projeto da professora Germana Dália, que trabalha em parceria com a Vara de Execução Penal de João Pessoa. Iniciou em 2016, na Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão, e em 2017 conquistou a remição de pena para os participantes. Em 2022 se estendeu para a Penitenciaria Desembargador Sílvio Porto, para a população LGBT+.
A professora Germana com maestria dirigiu a peça e também se apresentou como atriz, e deu um show de interpretação. Ela comentou: “Foi muito bonito, o espaço hoje, o teatro foi para a família, aqui a gente teve muita criança, os filhos dos diretores vieram, para você ver como foi algo grandioso e voltado para a família”.
O espetáculo contou com a participação especial de Letícia Rodrigues, atriz e diretora do Teatro Ednaldo do Egypto. “Compartilhar também esse momento com as meninas também do LGBT do Silvio Porto é essencial, porque meu corpo tá ali. É um corpo político, é um corpo apontado”. A artista ressaltou: “Sabemos que a cultura salva, a cultura liberta, a cultura TRANSforma”.
Uma experiência de inclusão — Ao término do espetáculo aconteceu um momento de homenagens aos apoiadores do projeto. O Secretário João Alves foi um dos homenageados. Em seguida, o gestor Seap autorizou que os familiares presentes subissem ao palco para abraçar os seus parentes. Entre abraços e despedidas eles falaram da oportunidade de participar da ação ressocializadora.
“A gente merece uma segunda chance. Eu senti uma grande emoção, protagonizando, fazendo um personagem que é uma grande amiga minha, que é Bruna, já conheço ela há anos. E para mim foi uma experiência nova e única, foi muito gostoso”, disse Melissa Kelly.
A reeducanda que interpretou uma policial penal — bastante emocionada falou sobre o que representou para ela vestir-se de tão importante personagem: “Nunca imaginei que iria representar um policial penal. Muito especial para mim. É de grande satisfação está aqui, conhecer novos horizontes, tanto de trabalho como de pensamentos. O projeto que nos deu uma oportunidade de nos ressocializar, literalmente como diz o nome MoveMente. Movimenta nossa mente”, comentou.
Protagonista — De repente Bruna surge na passarela, ela desceu em meio a plateia e participou do final do terceiro e último ato. “Para mim foi um grande privilégio, participar e ver os outros fazendo a minha história, em cima do palco, foi muito gratificante”, externou.
Josimar também falou do quanto foi emocionante ter sua vida representada num palco: “Fico muito emocionado. Nossa história contada num teatro. Não tenho palavras para expressar o que sinto agora. Muito emocionante!”, disse.
Já na saída do palco, outro reeducando sorridente mencionou: "Foi uma sensação emocionante. Tudo de bom, maravilhoso. Isso mexe muito com a mente, não está ocupando os pensamentos com coisas ruins, tranquiliza a noite. Isso é muito maravilhoso para nós”, descreveu.
Do princípio ao fim, a apresentação de cada ato foi além do processo criativo, e mostrou a realidade dos privados de liberdade. Foi uma experiência de inclusão social e afirmação de identidade, de reflexão, e aprendizado. Para os atores e o público foi um momento ímpar: a ressocialização e reinserção social caminharam juntas em direção da cidadania.
Aplausos!
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Ascom-Seap/PB
Por Josy Gomes Murta
Fotos: JGM - Cintya Almeida