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No Canal da FCJA: música e poesia celebram os 40 anos da Fundação

publicado: 06/12/2020 11h06, última modificação: 06/12/2020 11h06

O calendário de celebrações pelos 40 anos da Fundação Casa de José Américo (FCJA) dedicou esse sábado (5) à música e à poesia. José Américo, o patrono da casa, não era músico, mas escreveu poemas que ganharam melodias assinadas pelo maestro José Siqueira – e quatro delas foram apresentadas dentro da live Sala de Concerto, realizada no canal da FCJA no YouTube.

Mediado pelo professor Carmélio Reynaldo, o encontro teve a participação da professora Josélia Vieira (sobrinha-neta do maestro), o regente e professor Carlos Anísio, o cantor, compositor e secretário executivo de Cultura da Paraíba, Milton Dornellas, e o diretor artístico do Prima, Rainere Travassos.

A obra, a atuação política e a relevância nacional e internacional de José Siqueira, como também o seu “apagamento” na história da música brasileira, foram temas discutidos pelos participantes. A conversa começou com Josélia Vieira, que trouxe um breve histórico do parente homenageado.

Conforme contou, o maestro começou a trilhar o caminho da música ainda na infância, em Conceição, onde o seu pai era o regente da banda municipal. “Dos 13 aos 17 anos, ele tocou, regeu e até criou uma banda de música, na cidade de Bonito de Santa Fé. A partir de sua ida para o Rio de Janeiro, no fim dos anos 1920, ele se profissionalizou, tornou-se professor, compôs, regeu grandes orquestras, publicou livros, criou a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra de Câmara do Brasil e a Ordem dos Músicos”, disse.

Para Carlos Anísio, falar sobre o maestro não é difícil – mas não cabe em uma live: “Se você pegar apenas um aspecto da vida de Siqueira, terá um mundo de informações para compartilhar”, disse. Já Milton Dornellas, ciente da magnitude da obra e da vida desse personagem, sinalizou para a realização de um Ano Cultural dedicado ao maestro. “Temos uma dívida muito grande com Zé Siqueira. Precisamos fazer esse reconhecimento”, afirmou. Raniere Travassos corrobora: “As homenagens não podem se encerrar aqui”.

Perseguição – Durante a ditadura militar, José Siqueira foi perseguido por ter uma atuação combativa em nome dos profissionais da área musical e pela luta para democratizar o acesso a essa arte. Destituído de seus cargos e proibido de lecionar, gravar e reger no Brasil, ele encontrou abrigo na extinta União Soviética, onde regeu a Orquestra Filarmônica de Moscou – e onde boa parte de sua obra foi preservada.

O seu legado foi “apagado” pelo regime ditatorial, mas começa a ser reavivado a partir de eventos como o desse sábado e o da próxima quinta-feira (10), data de aniversário da FCJA. 

Nesse dia, a instituição, por meio do Memorial da Democracia, concederá o seu primeiro Certificado de Reparação Histórica (CRH) a um artista paraibano – e esse artista será o maestro José de Lima Siqueira (1907-1985). A ação objetiva reparar o dano causado às vítimas (ou a seus familiares) durante esse período nefasto da história brasileira.

Poesia musicada – A amizade entre José Américo e José Siqueira, que durou longos anos, deu frutos que ficaram para a posteridade. Os dois Josés, gigantes em suas áreas, além de amigos, tornaram-se parceiros na arte. Sete poemas do autor de ‘A Bagaceira’ foram musicalizados pelo maestro de Conceição. Desses, quatro foram apresentados na live deste sábado: “Meu Rastro” e “Infância”, com voz da professora Elóide Lima (acompanhada, ao piano, por Edmilson Falcão e Mateus Falcão, respectivamente); e “A Rede” e “A Única Voz”, cantadas pela soprano Izadora França, acompanhada do pianista José Henrique Martins. Ao final da live, os músicos do Prima fizeram uma apresentação da música “Toada”, também de José Siqueira.