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Idosos realizam sonho de infância em Curso de Teatro do Cearte
O curso de Teatro para Melhor Idade do Centro Estadual de Arte (Cearte) possibilitou que idosos, entre 63 e 82 anos, aprendessem técnicas teatrais para realizar o sonho de subir no palco. Mas, para além da proposta de possibilitar o contato de uma linguagem artística, o Teatro foi terapêutico e ajudou a resgatar memórias e aptidões.
O grupo, composto por Maroni Pessoa (63 anos), Joana D’Arc Filizola (67 anos), José Nunes Santiago (78 anos), Mônica Marne de Mendonça (69 anos) e Marlene Câmara (82 anos), e tendo a frente a professora de teatro Nayara Ranne, se reuniu durante o segundo semestre de 2019 e finalizou o módulo do curso com uma apresentação na Usina Cultural Energisa.
O texto era "Quando a Velhice Chegar", da mineira Cyrlene Rita, e explicitava dificuldades vividas por homens e mulheres ao entrar na velhice, onde muitos acreditam que o tempo para viver novas experiências acabou. “Quando a Velhice Chegar” faz um contraponto a esse pensamento ao incentivar os sonhos, estimulando aqueles que não puderam realizar desejos do passado, devido a obrigações profissionais, com a família, ou por viver uma realidade dura demais. O texto aponta que este pode ser o melhor momento para investir em sonhos que tiveram que ser guardados.
O Sonho do Teatro
Esse contexto faz parte da vida de Marlene Câmara, carioca, hoje com 82 anos. Ela buscou o teatro para realizar um sonho do passado. “Fiz teatro quando criança, numa cidadezinha pequena do interior. Depois meu pai proibiu. Tive convites quando jovem, no Rio, para atuar na TV Tupi, quando ela surgiu, para participar de novela, mas minha família também não deixou. E assim casei, vim para João Pessoa, cuidei da família e fui professora 31 anos”. Marlene atuou no magistério como se vivesse um pouco o seu sonho. “Eu entrava na sala de aula e tinha a sensação de representar uma cena. Sempre achei o professor um artista, porque ele tem que vibrar, se emocionar”.
Já a mais jovem do grupo, Maroni Pessoa, apesar de confessar um desejo antigo de fazer teatro, contou que a maior motivação foi enfrentar a timidez. “Fiz quando eu era criança, mas adulta tive que me envolver com minha profissão (psicóloga escolar) e não pude. Então chegou a oportunidade e eu fiquei muito feliz em fazer”, explica. A irmã de Maroni, Mônica Marne, foi arrastada para o curso. Com formação voltada para Educação Artística, além de Serviço Social, Mônica diz que estava querendo fazer cerâmica, mas acabou resolvendo fazer teatro junto com a irmã. “Fiz e adorei”, garante.
A motivação para Joana D´Arc (professora e bibliotecária) foi o contato com as pessoas. Ficou sabendo do curso e resolveu experimentar. Também havia a curiosidade de saber como as pessoas conseguiam decorar aqueles textos enormes na televisão, mesmo sendo idosas. Isso estimulou a enfrentar o desafio.
O único homem da turma, o bem-humorado José Nunes, é um assíduo na dança de salão do Cearte. Uma vez uma amiga lhe disse que ele tinha muito jeito para o teatro. Ele resolveu experimentar. “Realmente quando eu estou dando aula ninguém dorme, porque eu conto uma piada, recito um verso. Então nas minhas aulas eu já fazia isso, encenava o que eu estava ensinando. Por isso que eu fui fazer”. José Nunes conta que quando foi apresentar viu a colega que sugeriu que ele fizesse teatro na plateia. “Ela disse: Santiago eu vim vê-lo estrear. Para mim foi muito feliz isso!”.
O ponto alto
Para todos o mais fácil foi o entrosamento do grupo. Outro ponto alto do curso foi o trabalho com as emoções. “Trabalhamos as emoções de uma forma boa, gostosa de sentir”, garante Joana D’arc. Enfrentar o público não foi problema, apesar do nervosismo da estreia. “Eu me surpreendi. Fui pronto para depois da peça a gente mesmo bater palma, porque ninguém iria. Mas foi uma surpresa porque as palmas foram muitas. E um pouco antes de começar a professora fez uma leitura para nos tranquilizar. Ai aquela prisão que tinha na gente saiu”, conta José Nunes.
O mais difícil
Entre dificuldades, a maior foi decorar. “A gente se entrega ao personagem... em casa conseguia fazer a fala bem direitinho, mas quando ia para o grupo a coisa ficava bem diferente”, pontua Mônica. A insegurança em fazer a cena sem o texto fez com que todos entrassem no palco segurando o texto. “A gente já tinha trabalhado leitura dramática na sala e então foi continuação do trabalho”, frisa a professora Ranne.
A Proposta
A professora Nayara Ranne explica que o plano para o curso é sempre trabalhar as técnicas teatrais a partir da memória pessoal de cada um, e utilizar esse estímulo. “Eles geralmente vêm com ‘eu já não lembro como antes’, mas basta uma conversa, uma troca, a coisa sai. Vai saindo e a gente vai colocando as técnicas no meio”, revela. Ranne ressalta ainda que a apresentação não é obrigatória. “O importante, além de aprender todo o conhecimento das técnicas, é nos divertir”, garante. No fim a professora achou o texto, acrescentou umas características do grupo que não tinha no original e foi chegando no resultado apresentado.
Nova turma
“Eu vou ofertar uma turma para iniciante novamente. E se demonstrarem interesse de continuar, eu vou abrir uma turma de intermediário, já que eles têm um conhecimento prévio. Mas essa turma também estará aberta para outras pessoas que possam comprovar que já tenham alguma experiência”, frisa Ranne. Os alunos estão entusiasmados: “A perspectiva é, se prepare, que nós vamos para a TV apresentar uma peça lá”, brinca José Nunes.
Serviço:
Curso: Teatro para a Melhor Idade
Turmas: Iniciante e Intermediário
Local: Grupo Escolar Thomaz Mindelo (Centro)/ Escola de Dança (Espaço Cultural)
Informações: (83) 3214-2923 ou 3221-4504.