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Ciclo de debates da FCJA debate racismo estrutural no Brasil

publicado: 23/09/2020 09h20, última modificação: 23/09/2020 09h21

“Racismo estrutural e democracia brasileira” foi o tema escolhido pelo público para o terceiro debate do 2º Ciclo de Debates Diálogos Presentes da Fundação Casa de José Américo (FCJA). Ocorrido nessa terça-feira (22), pelo canal da instituição no YouTube, o encontro teve como convidados o professor Waldeci Ferreira Chagas, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e a mestra Ana do Coco, do Quilombo do Ipiranga, localizado no município de Conde-PB.

O painel, que teve mediação da historiadora Ana Paula Brito, é parte do evento virtual “Democracia? Responsabilidade política e cidadania consciente”, que ocorre até o próximo dia 29.

Para o professor Waldeci, a base do racismo estrutural está na naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que promovem a discriminação racial. “Apesar de ainda sermos educados com essa perspectiva, há mudanças no sentido de desnaturalizar a condição de excluídos a que fomos submetidos desde a colônia”, diz. Historicamente, segundo ele, as populações negras ficaram à margem do processo de criação do Brasil como nação. “As instituições são fundamentais para romper com isso, pois não é uma patologia individual, mas uma construção social e estruturante.” 

As políticas públicas inclusivas, o debate aberto nas mídias e a inserção do ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo das escolas, entre outros, são apontados por Waldeci como caminhos viáveis para enfrentar o racismo. “Ficou enraizado, no inconsciente coletivo da sociedade brasileira, um pensamento que marginaliza as pessoas negras, que as impede de se constituírem como cidadãs plenas. Não haverá democracia se não passarmos por essa desconstrução. É preciso coragem”, acrescenta.

Essa luta diária é velha conhecida de pessoas como Ana do Coco, filha da Mestra Dona Lenita e neta do Mestre Zé Pequeno, que usa o coco para dar visibilidade a sua comunidade, educar, fortalecer laços e manter viva uma cultura centenária. “A gente ainda sofre muito por causa do racismo. Mas hoje temos a oportunidade de tomar consciência do nosso valor, aceitar a nossa origem e ter orgulho de quem somos”, conta. Participante do Fórum dos Mestres de Cultura Popular da Paraíba, Ana do Coco realiza festas e encontros no Quilombo Ipiranga para estimular a autovalorização. 

Para ambos, o Estado precisa assumir a dívida histórica com os afro-brasileiros e motivar reflexões em toda a sociedade – sobretudo, nas instituições escolares. O racismo estrutural desvaloriza a cultura, o intelecto e a história da população negra, mina as suas potencialidades e, principalmente, aumenta o abismo criado por desigualdades sociais, políticas e econômicas.

Aflitos – O encontro desta terça teve ainda a participação do escritor Abilio Ferreira, que coordena o Movimento pela Valorização do Sítio Arqueológico dos Aflitos, no bairro paulistano da Liberdade. “A urbanização e o crescimento de São Paulo apagaram a história dos negros que viveram aqui antes da chegada dos imigrantes. O objetivo do memorial é refletir a complexidade do racismo estrutural nesta cidade”, diz ele.