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Pesquisas enfrentam um duro percurso entre patente e mercado

publicado: 14/10/2019 11h51, última modificação: 14/10/2019 12h46
Foto: divulgação
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Integrar a pesquisa científica aplicada às necessidades do mercado é desafio para os pesquisadores. Cereus é um cacto comum no Sertão, tem um formato hexagonal. Essa planta gerencia com inteligência natural a água disponível pra sua existência. A natureza inspirou o apelido para o projeto da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Catolé do Rocha, que foi patenteado e licenciado para comercialização. É uma máquina para produzir água destilada com total aproveitamento, sem nenhum desperdício. Normalmente, se perde 50% de água nesse processo. O equipamento será lançado em breve pela Tecnal Equipamentos Científicos. O fato é comemorado na comunidade científica paraibana por causa da dificuldade de transferir a tecnologia desenvolvida na universidade para o mercado.

Patentes são consequências da pesquisa em cima de uma ideia. Para assegurar a propriedade, a invenção é patenteada no Brasil no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Faz-se um “depósito” do projeto, que é o pedido para o registro. Desde então, a propriedade é garantida e a ideia pode ser negociada, mas o projeto passará por um período de avaliação até ganhar o certificado final. Esse período pode demorar até dez anos. O pesquisador Aldre Jorge Moraes Barros, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), revelou que “a planta que produz o algodão colorido com as características que temos hoje foi trabalhada em laboratório a partir de 1984, até chegar ao ponto para a produção do tecido de algodão colorido natural”.

Cada etapa, desde a ideia, a pesquisa, até o registro, requer dedicação; mas a transferência de tecnologia - a licença para a fabricação, quando o produto final poderá ser usado pelas pessoas - é o ponto mais difícil para se alcançar, como concordam plenamente os pesquisadores gestores das agências e Polo de inovação das instituições de ensino superior na Paraíba.

Na universidades paraibanas, a prática de registrar patentes se intensificou a partir de cerca de 2012, 2014, segundo Petrônio F. De Athayde Filho, Diretor Presidente da Agência UFPB de Inovação Tecnológica (Inova). No período de 2000 a 2017 foram 631 pedidos de depósito de patente de invenção (INPI) originadas no estado. Mas transformar essa pesquisa em produtos comercializáveis é outra história. Em um levantamento feito para esta reportagem, contabilizamos 7 propriedades intelectuais licenciadas e 4 em negociação para serem licenciados na Universidade Federal da Paraíba (UFPB); 9 patentes em fase de negociação para o licenciamento na UFCG; 1 patente licenciada pelo IFPB; e uma patente licenciada pela UEPB, além de uma em negociação. Nesse levantamento contamos apenas os licenciamentos de patentes de invenção.

Pesquisadores buscam o mercado para apresentar soluções

Quando questionado sobre a dificuldade para integrar a pesquisa científica aplicada às necessidades do mercado, o professor Petrônio de Athayde falou que “o ideal é desenvolver a tecnologia em parceria com a empresa. A solução é integrar a universidade e o setor produtivo.

A universidade tem se dedicado mais à pesquisa de grande interesse científico, mas sem o interesse imediato de mercado. Muito bom cientificamente. Mas éramos doadores de patentes para o exterior. Nossos artigos científicos eram publicados internacionalmente e as ideias não eram patenteadas aqui. Lá fora, faziam pequenas modificações e geravam a patente.

A inovação, hoje, requer agilidade na concepção do problema, de como solucioná-lo, construir a solução, testar, aprimorar e usar. Temos que saber as dores do mercado e desenvolver a tecnologia para acabar com essas dores.

 Fazer ciência + empreender = indústria 4.0

 O professor Josemir Moura Maia, do Curso de Ciências Agrárias da UEPB, campus de Catolé do Rocha, também da Agência de Inovação Tecnológica da UEPB, a Inovatec responde por que é tão difícil integrar universidade e empresa: “Um dos gargalos, isso dito por um empresário, é que a universidade não tem preparado pessoas que o empresariado possa absorver. O que eu vejo é que as universidades não têm a mesma linguagem que o empresário. Outro problema é a pressa que o empreendedor tem para lançar um produto. Ele não tem disponibilidade de esperar o desenvolvimento. E a tecnologia precisa ser testada, aprimorada, até chegar ao mercado.

Uma das soluções que encontramos foi criar empresas com base em conhecimento científico – iniciativas de geração de startups. Estamos com a HidroTech, de hidroponia, em fase experimental. Essa empresa vai absorver muitas das tecnologias que serão desenvolvidas na universidade, pois ela está configurada para receber novas pesquisas. Estamos com projetos para estudantes que tenham vontade de empreender com inovação tecnológica e ganhar dinheiro com base em conhecimento científico, como a empresa Anac Júnior, com fins educacionais e sem fins lucrativos.”

Incentivos federais para empresas são revertidos em pesquisa de inovação

 Um dos caminhos para a empresa acessar os potenciais de pesquisa na universidade é por meio de leis federais, como explica Aldre Jorge Moreas Barros, Coordenador do Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia, da UFCG:

“Existem a “Lei do Bem” e a “Lei da Inovação”, que são incentivos do Governo Federal para a empresa promover a pesquisa na universidade. As empresas podem fazer convênio com as universidades via fundações e os recursos são direcionados exclusivamente para aquela pesquisa. A UFCG tem relações assim com a Petrobras, com a Brasken… Fizemos uma solução para uma indústria que gastava um trilhão de dólares por ano com energia elétrica. Com a pesquisa em eficiência energética que fizemos, a economia chegou a mais de 40 milhões de dólares por ano, equivalente à folha de pagamento anual da empresa.”

Maioria das empresas parceiras do IFPB não são do Nordeste

 O Polo de Inovação  João Pessoa, do IFPB, tem pouco mais de um ano de existência, mas já comemora muitas vitórias. Maxwell Amaral, Diretor de Inovação Tecnológica do IFPB, afirma que “qualquer ideia que surge entre estudantes ou professores no IFPB, nós analisamos para ver se é industrializável, se essa ideia pode virar uma patente. Mas quem confirma isso é o INPI.

Vender uma ideia no Brasil não é tão fácil. É mais comum a patente ser licenciada para uma empresa do exterior. No IFPB, a maioria das empresas que atendemos são fora do Nordeste.

A saída é ir atrás da empresa, ou receber quem nos procura, entender qual é a necessidade e, com a expertise da pesquisa e da ciência, criar a solução. É mais vantajoso criar algo sob a demanda das empresas. Obrigatoriamente, por lei, o IFPB tem que exercer a pesquisa aplicada, a ciência com utilidade para a sociedade.”

Ranking

Patentes e programas de computador:

 UFPB:

323 depósitos de patentes

95 programas de computador

7 propriedades intelectuais licenciadas

4 em andamento para serem licenciados

UFCG:

169 depósitos de patentes

47 programas de computador

09 em fase de negociação para o licenciamento

IFPB

52 depósitos de patentes

50 programas de computador

01 patente licenciada

 UEPB:

39 depósitos de patente de invenção.

04 programas de computador

1 patente licenciada

1 em fase de negociação para o licenciamento