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Coral Eu Cuido

Projeto elabora propostas para preservar recifes de corais na PB

publicado: 29/12/2021 09h46, última modificação: 29/12/2021 10h07
Equipe de pesquisadores da UFPB vai receber apoio financeiro da Fundação Grupo Boticário para execução da iniciativa
Seixas_Piscinas

Em dia de maré favorável para o mergulho, oito catamarãs, lotados por turistas, ancoram próximo aos corais das piscinas do Seixas

Em um sábado de verão, anterior à pandemia por covid-19, pesquisadores contaram a presença de cerca de 400 pessoas visitando a principal piscina natural da área costeira do Seixas, em João Pessoa. A cada dia de maré favorável para o mergulho, oito catamarãs, lotados por turistas, ancoram próximo aos corais. Essa grande movimentação preocupa os biólogos marinhos pelas ameaças de degradação aos corais e esta foi uma das motivações para a elaboração do projeto “Coral Eu Cuido”, pelo Laboratório de Ambientes Recifais e Biotecnologia com Microalgas, o Larbim/UFPB. Em 2021 o projeto passou pela experiência do Camp Oceano, uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário, em parceria com a Fundação Araucária; foi selecionado e receberá apoio financeiro para execução, iniciando nesta temporada de verão 2022.

O fluxo de visitantes nas piscinas naturais do Seixas cresce a cada temporada, acendendo uma luz vermelha para os biólogos marinhos, temerosos pelo desgaste do ambiente natural, devido ao uso intenso. Quanto mais pessoas, maior a dificuldade de controlar a conduta de uso do local. Tanto com relação aos turistas quanto aos serviços prestados por empreendedores de turismo náutico.

Os recifes de corais marinhos são ambientes frágeis, com uma diversidade de vegetais, animais e sedimentos rochosos interagindo pela sobrevivência. Há espécies que só existem nessa área do Atlântico. É onde os peixes, caranguejos, moluscos encontram alimento e segurança para a fase inicial da vida. Sendo base da cadeia alimentar, as consequências da degradação terão reflexos na produção de alimentos para as pessoas.

Conscientes desse valor, os pesquisadores do Larbim, que está associado ao Laboratório de Estudos Ambientais da Universidade Federal da Paraíba e atende aos acadêmicos do curso de Ecologia da Universidade Federal da Paraíba, estruturaram o projeto “Coral Eu Cuido”, que oferece um modelo de gestão integrada e participativa visando a preservação dos recifes costeiros da Paraíba.

O projeto foi desenvolvido há cerca de três anos e terá sua continuidade garantida pelos próximos 30 meses com financiamento por meio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

A coordenadora do projeto, professora Cristiane da Costa Sassi, da UFPB, explica que serão realizadas ações para promover um turismo responsável e sustentável, “com ênfase no monitoramento da saúde do ecossistema e engajamento permanente dos usuários em medidas de conservação”. O monitoramento dos corais é essencial para compreender a evolução da saúde do ambiente marinho. Pois, além das ameaças por causa da presença massiva de turistas, o oceano vem apresentando alterações na temperatura da água, com períodos em que a superfície da água está mais quente, o que também prejudica a saúde dos corais.  

“Esse conjunto de fatores pesquisados por especialistas precisa se tornar conhecido da população para que ela entenda como o ecossistema funciona e, assim, ajude a preservar”, ressalta a professora. Nesse sentido, o projeto desenvolverá campanhas de sensibilização ambiental para promover o engajamento permanente dos usuários das piscinas naturais em medidas de conservação.

 Coral com branqueamentoCoral apresenta sinais de branqueamento, indicando que sua saúde está frágil

Saúde dos corais do Seixas será monitorada cientificamente

A tecnologia digital é uma das ferramentas essenciais para alcançar a população e possibilitar o monitoramento ecossistema. A proposta do projeto “Coral Eu Cuido” é monitorar a saúde dos recifes do Seixas por meio de inspeções de campo e pelo levantamento de conflitos sociais de usos e os impactos causados por esses usos. Assim, será possível estimar a capacidade desses recifes para receber turistas, sem prejuízo ambiental. Os dados serão inseridos em plataforma interativa com participação de agentes de turismo, pescadores e visitantes.

Para motivar a participação das pessoas que trabalham nesse setor e pensando em fortalecer o engajamento para a conservação, monitores e guias turísticos serão treinados quanto ao uso da plataforma e para a disseminação das condutas conscientes entre os agentes de turismo e visitantes dos recifes. Serão realizadas campanhas educativas junto às embarcações; será sugerido o uso de sinalizações com instruções educativas relacionadas a saúde dos recifes e sobre condutas conscientes.

A proposta ainda prevê um trabalho articulado junto aos gestores ambientais, empresas de turismo e associações de moradores e pescadores, e visitantes da área, a fim de delimitar o zoneamento da área, os pontos de instalação das boias sinalizadores móveis e outros equipamentos para organização do fluxo de ocupação.

Dessa forma, pretende-se viabilizar o ordenamento das atividades turísticas nos recifes do Seixas. Além disso, os dados serão disponibilizados para elaboração do plano de manejo da APA Naufrágio Queimado, onde os recifes do Seixas estão inseridos.

 Coral sadioAmbiente de recifes de corais são fonte para a sobrevivência de espécies desde a base da cadeia alimentar

Estudo tem equipe multidisciplinar

Na equipe do projeto “Coral Eu Cuido” estão profissionais das áreas de biologia, ecologia, gestão de meio ambiente, turismo, psicopedagodia, jornalismo, geografia e mídia digital, vinculados à UFPB, ou colaboradores pelo Instituto InPact Pesquisa e Ação. Eles participaram do Camp Oceano, “uma iniciativa da Fundação Boticário de capacitação que busca o desenvolvimento de soluções práticas para alguns dos desafios costeiros e marinhos, de forma multidisciplinar e colaborativa”.

A equipe paraibana apresentou a proposta e frequentou uma série de capacitação online com palestras e workshops para desenvolver, aprimorar e aumentar o impacto da solução proposta. No caso do projeto da Paraíba, o desafio é fomentar o turismo responsável, conservando a biodiversidade. Os outros dois desafios foram reduzir a poluição no oceano e incidentes ambientais; e mitigar os efeitos da crise climática nas cidades costeiras.

O Camp Oceano – edição da teia de soluções, promovida pela Fundação Grupo Boticário – teve 138 propostas inscritas de solução, envolvendo cerca de 900 participantes e registrou uma maioria de mulheres participantes (54%). “As 40 melhores soluções apresentadas avançaram para um evento on-line de três dias de imersão, capacitações e conexões para aprimorarem suas ideias. Na sequência, 25 soluções seguiram para uma etapa de mentoria e detalhamento para aprofundarem as propostas”.

Ao final, 19 propostas foram selecionadas para os “desafios do oceano” e os projetos contarão com o apoio financeiro total de R$ 3,7 milhões da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.

 

Por Márcia Dementshuk - Assessoria da SEC&T