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Projeto apoiado pela Secties impulsiona produção de hidrogênio verde na Paraíba
Na última matéria da série especial sobre sustentabilidade e a COP 30, produzida pela Ascom da Secties para o Jornal A União, destaca-se um projeto que simboliza a aposta do Governo da Paraíba em ciência, tecnologia e inovação como resposta à crise climática. No âmbito do Laboratório de Referência em Dessalinização da Universidade Federal de Campina Grande (LABDES/UFCG), uma equipe de pesquisadores desenvolve, com apoio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), uma iniciativa inovadora com a produção de hidrogênio verde a partir da água.
“O apoio a iniciativas como esta reforça a estratégia da Paraíba de investir em pesquisa aplicada, formação de talentos e geração de soluções que impactam diretamente o desenvolvimento do estado. Quando fortalecemos laboratórios como o LabDes e incentivamos projetos, criamos condições para que o conhecimento produzido aqui chegue mais longe”, enfatizou o secretário da Secties, Claudio Furtado.
O projeto, coordenado pelo professor Kepler Borges França (PhD), integra a agenda estadual de sustentabilidade e enfrentamento às mudanças climáticas, alinhando-se aos debates da COP 30. “O hidrogênio verde é um projeto que visa à descarbonização global do planeta”, explica o professor.
Ele recorda que combustíveis fósseis como gasolina, lenha, carvão e GLP liberam CO₂ e monóxido de carbono, gases que agravam o aquecimento global. A proposta do hidrogênio verde, segundo ele, oferece um combustível “ultra sustentável”, com poder calorífico superior ao de derivados de petróleo. “A poluição é zero. O que sai da queima do hidrogênio é vapor d’água. Se eu condensasse, virava água líquida de novo.”
No mundo, há apenas cerca de 1.500 usinas de hidrogênio verde em fase inicial de operação. Países e grandes grupos disputam espaço nessa corrida tecnológica, especialmente nos setores metalúrgico, automobilístico, aeronáutico, químico e de saúde. Mas a Paraíba busca um caminho próprio. O protótipo instalado no LABDES transforma água em chama utilizando energia solar captada por painéis fotovoltaicos que se encontram instalados no teto do laboratório.
Dentro do eletrolisador, a molécula de água (H₂O) é separada em hidrogênio e oxigênio. O hidrogênio gerado abastece um forno experimental, onde os pesquisadores testam aplicações como panificação, cerâmica e secagem de grãos. “Imagina uma padaria usando a própria água para produzir combustível. Imagina fazer pizza, tijolos, cerâmica, secar grãos… A chama chega a quase 3 mil graus Celsius, muito mais do que combustíveis convencionais”, destaca o professor.
O hidrogênio permite que fornos atinjam temperaturas que variam de cerca de 180 °C, ideais para pães, acima de 600 °C para outras em aplicações industriais, como olarias e cerâmicas. “Aqui não estamos gastando energia nenhuma. Tudo vem do sol”, reforça Kepler.
A pesquisa também dá atenção especial à segurança, um ponto sensível no uso de hidrogênio: o grupo desenvolveu sistemas contra retorno de chama, válvulas de segurança e dispositivos que impedem riscos de explosão. “É tecnologia de ponta, mas precisa ser segura, acessível e simples para o uso cotidiano. É para isso que estamos trabalhando”, afirma o pesquisador.
Para tornar o processo mais viável e eficiente, o eletrolisador usa eletrodos porosos de níquel, material escolhido por oferecer durabilidade, boa eficiência elétrica e custo mais baixo que outros metais tradicionalmente usados. A porosidade dos eletrodos aumenta a área de contato com a água, acelerando a reação e reduzindo consumo energético, o que torna o hidrogênio verde competitivo e sustentável.
A iniciativa reúne pesquisadores, técnicos e estudantes de pós-graduação, e representa um marco para a transição energética no Nordeste, promovendo inovação tecnológica com foco em impacto social e industrial.
A próxima fase do projeto é ampliar a escala: construir um forno maior, capaz de atender padarias, olarias e pequenos negócios, gerando combustível limpo a partir de água. “Estamos começando com um forno pequeno, mas o próximo passo, com apoio da Secties, é expandir. Queremos abastecer um forno de grande escala apenas com hidrogênio”, afirma Kepler.
Ele reforça ainda: “Sabemos que grandes polos estão investindo em hidrogênio para exportação, como Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. Mas aqui fazemos diferente: produzimos conhecimento, desenvolvemos tecnologia própria e pensamos no impacto social.”
Entenda o LABDES/UFCG
O LABDES/UFCG foi criado em 2003 no Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Campina Grande, com foco inicial em tecnologias de dessalinização e purificação de água para regiões com escassez hídrica. Desde então, tornou-se referência nacional ao unir pesquisa, desenvolvimento e implementação de soluções que ampliam o acesso à água potável no país.
O laboratório conta com infraestrutura completa para análises de água, linhas consolidadas de pesquisa e uma oficina própria, capaz de projetar e fabricar seus próprios equipamentos e protótipos de dessalinização.
Nos últimos anos, com apoio do Governo da Paraíba por meio da Secties, o LABDES ampliou sua atuação ao integrar energias renováveis, como solar e eólica, ao desenvolvimento de sistemas de eletrólise para produção de hidrogênio verde, posicionando-se na fronteira das tecnologias ambientais e energéticas. Assim, o LABDES/UFCG evoluiu de um laboratório de dessalinização para um centro multidisciplinar, pioneiro na criação de soluções integradas para água, energia e sustentabilidade, combinando ciência aplicada, inovação e impacto social.