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Pesquisa mostra relação entre vacinação e redução de mortes por Covid na Paraíba

publicado: 15/08/2021 00h00, última modificação: 18/08/2021 17h29
Dados cruzados pelo Labimec, da UFPB, mostram que mulheres estão mais imunizadas e que coronavac tem quase 70% das vacinas aplicadas no estado
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Foto: arquivo
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Carlos Besarria, coordenador da pesquisa/ foto: arquivo pessoal
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Flávio Macaúbas, pesquisador responsável/ foto: arquivo pessoal
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Gráfico mostrando índice de vacinação e de mortes por covid/ imagem: Labimec
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Gráfico sobre vacinação por faixa etária/ imagem: Labimec
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Renato Félix

 

A pandemia ainda não acabou, os números ainda estão altos, mas já não estão tão terríveis quanto há alguns meses. E hoje o Brasil ultrapassou a marca de mais da metade da população vacinada com a primeira dose de vacina contra a covid-19 e mais de 20% vacinada com as duas doses ou com a vacina de dose única. Mera coincidência? O trabalho de levantamento de dados do Laboratório de Inteligência Artificial e Macroeconomia Computacional (Labimec), da Universidade Federal da Paraíba, mostra que não. O laboratório vem divulgando dados que revelam o comportamento da pandemia desde seu início, no ano passado, e, recentemente, se voltou também para esses novos dados: o efeito da vacinação na Paraíba.

A pesquisa é financiada pelo governo do estado, através da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FapesqPB) e seu edital covid-19, e coordenada por Cássio da Nóbrega Besarria e Maria Daniella de Oliveira, e tem como pesquisador responsável Flávio Macaúbas Torres Filho, usando dados do Open Data SUS e do IBGE. Daniel Campesi, Pierre Nascimento Silva, Rodrigo Ruiz e Wellington Nóbrega também integram a equipe. Os dados são divulgados pelo Instagram do Labimec.

O principal gráfico mostra que o índice de mortes diárias por covid-19 na Paraíba tem uma queda consistente a partir de junho, à medida que a vacinação ganha corpo no país. “Quanto mais pessoas vacinadas, menor a quantidade de pessoas contagiosas e consequentemente menor a quantidade de novos casos da doença, implicando em uma menor quantidade de óbitos”, explica Besarria. “O que tentamos captar com esses gráficos foi a relação com a quantidade de pessoas imunizadas e facilidade com a qual a vacina se prolifera na sociedade”.

Não se trata só de um cruzamento de dados cuja resposta era a esperada por qualquer um que não seja negacionista (maior vacinação igual a menos mortes), mas o pesquisador aponta que esse acompanhamento pode ajudar a compreender o avanço e efeitos da variante delta. “Entender esse mecanismo ajuda a entender também a preocupação com a nova variante delta, pois, mesmo entre os vacinados, a variante revela-se extremamente contagiosa”, alerta. “O que pode mitigar o que define-se como ‘imunidade de rebanho’, que é uma espécie de bolha de proteção que os indivíduos vacinados criam para aqueles não vacinados”.

Ele também pede cautela quanto ao otimismo dos dados referentes à queda de mortes. “Evidências do Projeto S do Butantan, que é um estudo da eficiência da vacina realizado na cidade de Serrana, demonstra que quando as segundas doses da Coronavac são aplicadas em toda população adulta do município, os casos sintomáticos reduziram 80%, internações 86% e mortes 95%”, diz o pesquisador. “Juntamente com este resultado, o estudo revelou que a imunização indicou uma considerável redução na circulação do vírus, revelando que a vacina é uma medida de saúde pública e não apenas individual”.

A cautela se faz necessária porque o índice de vacinados está crescendo, mas ainda está baixo. “Os dados da Paraíba indicam que apenas 26% da população está globalmente imunizada – que são aquelas pessoas que tomaram a segunda dose ou dose única”, explica Besarria. “Alia-se este fato à presença da nova variante delta e é perceptível que ainda não estamos no patamar de total segurança em relação a disseminação do coronavírus. Dessa forma, mesmo com o otimismo da redução da doença no estado, devemos continuar com as medidas de proteção”.

Então há a nacessidade de cuidado, sem deixar de lado uma boa perspectiva para o futuro. “O que pretendemos com nossa publicação é mostrar que mesmo sem atingir todos os pré-requisitos para controlar a doença, já conseguimos perceber ótimos resultados. O que nos deixa extremamente entusiasmados, dado que podemos, no futuro próximo, ter resultados ainda mais animadores”.

 

 

População abaixo do 60 ainda aguarda imunização completa

 

Há também gráficos que mostram quais faixas etárias estão mais próximas da segunda dose – e, portanto, da imunização completa. A ilustração que mostra a diferença de aplicação entre a primeira e a segunda doses deixa claro que a faixa de população a partir dos 65 anos está quase completamente vacinada e a população entre 60 e 65 também se encaminha para isso. Mas aqueles entre 25 e 59 anos ainda estão um pouco longe.

“O resultado ótimo seria se todas as barrinhas estivessem em zero, ou seja, todas as pessoas tomaram as duas doses da vacina. Logo, quanto mais próximo de zero a barrinha está, melhor está nossa situação”, confirma Besarria. “Quanto mais próximo de zero o gráfico de diferença entre a primeira e segunda doses estiver, mais próximo aquela faixa-etária está da imunização global”. A maior diferença, na faixa entre 40 e 44 anos, chega a um déficit de 200 mil doses.

No entanto, é preciso ler o gráfico com cuidado. As barras correspondentes à população com menos de 25 também estão próximas de zero, mas isso não significa imunização completa – pelo contrário. “Existe uma parcela da população que sequer tomou a primeira dose e isto pode fazer com que a barra dessa faixas-etárias se aproximem de zero e isto não significa que ela está próxima da imunização global”, conta o pesquisador.

A totalização da população paraibana para a pesquisa é uma projeção do IBGE para 2021, já que não houve o Censo que deveria ter sido realizado no ano passado. “Além disso, por razões diversas pode ocorrer de um individuo tomar a primeira dose e não a segunda, e, principalmente, cerca de 1,87% da população tomou dose única – e no caso deste gráfico, consideramos apenas aqueles que tomaram ou vão tomar 2 doses (98,13% da população)”, informa ele.

 

 

Coronavac é a mais aplicada, Janssen a menos

 

A publicação também mostra dados sobre quais vacinas são mais atuantes no estado. A publicação de quarta passada contava 2.981.502 doses recebidas de vacinas. 1.957.381 foram usadas como primeira dose; 720.948, como segunda; e 60.586 foram doses da vacina de dose única. A população totalmente imunizada na Paraíba chegou a 26% - índice maior que o nacional, que está em 23%. As mulheres estão mais imunizadas que os homens: 56,1% contra 43,9%.

A Coronavac é a mais presente na Paraíba, com 68,1% das vacinas aplicadas no estado. Em seguida, a Astrazeneca, com 37,86%. A Pfizer vem em terceiro, com 15,52%. E finalmente, a Janssen, que é a de dose única, com apenas 1,87% das aplicações em paraibanos. A vacinação começou tarde no Brasil e foi preciso uma iniciativa de pesquisa brasileira para que a imunização começasse por aqui, mas a perspectiva é de que os números melhorem à medida que ela continue avançando.