Notícias

MERCADO

Núcleo da UEPB em tecnologias estratégicas em saúde vai receber investimento da Embrapii

publicado: 15/01/2023 00h00, última modificação: 07/02/2023 09h34
Nutes é credenciado por empresa financiada pelo Governo Federal para apoiar instituições de pesquisa tecnológica
Divulgação

Pesquisas do Nutes estão conectadas ao mercado/ foto: Leonardo Alves - Ascom Nutes

Renato Félix

 

No ápice da pandemia, o Ministério da Saúde se deparou com um problema grave: para a instalação das UTIs emergenciais para atender os pacientes com covid-19, eram fundamentais monitores multiparamétricos e já não haviam mais disponíveis no Brasil. A solução foi encontrada em Campina Grande: o ministério contratou o Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (Nutes), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), para construir monitores capazes de atender 5 mil leitos, e que foram espalhados pelas unidades da federação. Este tipo de expertise credenciou o Nutes para ser escolhido, no fim do ano passado, como uma das novas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) para atuar na área de desenvolvimento de software e hardware para a saúde.

A Embrapii, financiada pelo Governo Federal para apoiar instituições de pesquisa tecnológica, tem 82 unidades pelo Brasil, somando já as novas 10 anunciadas em dezembro. Delas, o Nutes é a quarta na Paraíba. As três primeiras são a Unidade Embrapii de Tecnologias em Otimização de Energia, do Centro de Energias Alternativas e Renováveis da Universidade Federal da Paraíba (Cear/ UFPB), a Unidade Embrapii de Sistemas para Manufatura, do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), e a Unidade Embrapii de Software e Automação, do Centro de Engenharia Elétrica e Informática (Ceei) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

O Nutes foi formado em 2008 e o professor Misael Elias de Morais, coordenador do núcleo, participou de sua instalação. “Como núcleo dentro da universidade, a gente trabalha com vários departamentos”, explica. Existe um mestrado em Tecnologias de Saúde (e um doutorado já autorizado e em vias de implantação) e as pesquisas ligadas à cadeia produtiva da saúde, principalmente na área de dispositivos médicos: empresas contratam o Nutres para desenvolver soluções e equipamentos. A esses investimentos privados, agora soma-se o aporte da Embrapii, um investimento total de R$ 45 milhões para as 10 novas unidades.

Além do Nutes, as novas unidades Embrapii no país estão em São Paulo (Embrapa Instrumentação, Universidade de São Paulo/ICMC, Universidade de São Paulo/IQ, e Universidade Estadual de Campinas/FEQ), Minas Gerais (Fundação para Inovações Tecnológicas, e Universidade Federal de Minas Gerais/CTNano), Pernambuco (Senai/DR, e Universidade Federal do Pernambuco/FITPEG) e Paraná (Senai/DR). Na área de equipamentos médicos, só o Nutes foi credenciado nessa leva.

“O nosso objetivo foi sempre tentar fomentar na Paraíba e principalmente em Campina Grande, pelas aptidões que temos aqui, fomentar uma indústria do setor da saúde, fortalecendo o parque do setor industrial da saúde no Brasil”, explica Misael Morais. “A UEPB é muito focada nas questões regionais, locais. E Campina Grande é um celeiro de serviços na área da saúde”.

E investimento é fundamental. “A Embrapii ajuda a financiar e tem toda uma metodologia de acompanhamento dos projetos”, diz o coordenador, lembrando que a relação da universidade com o setor industrial é a base do núcleo. “Todo o nosso trabalho, nosso desenvolvimento, tem um solicitante por trás, uma empresa por trás. Tudo o que estamos fazendo é porque tem alguém financiando”.

No ano passado, o investimento por parte de empresas no Nutes girou em torno de R$ 12 milhões. Entre elas, estão nomes poderosos do mercado, como a Famen, companhia que projeta berços neonatais e que produzia tudo na Índia, a Siemens, e a Lifemed, mais fabricante na área de desfibrilador cardíaco no Brasil. “Atualmente temos uma pessoa contratada em são Paulo apenas para captar projetos para o Nutes”, revela Morais. O núcleo conta atualmente com cerca de 15 projetos em andamento, alguns deles com rigorosos acordos de confidencialidade.

 

 

Embaixada no Parque Tecnológico Horizontes de Inovação

 

O Nutes da UEPB pode ganhar uma embaixada em João Pessoa, com uma base instalada no Parque Tecnológico Horizontes de Inovação (PTHI), cuja sede física está prevista para ser inaugurada em maio, no antigo Colégio Nossa Senhora das Neves, em fase final de reforma na Praça Dom Ulrico, no Centro Histórico de João Pessoa. “Nós pleiteamos um espaço para a gente no Parque Tecnológico e o Governo está muito receptivo”, afirma Misael Morais.

Por enquanto, ele não pode afirmar que projetos o Nutes deve tocar no PTHI, dada a grande atividade do núcleo. “O surgimento de projetos ainda é muito dinâmico”, explica ele. Essa nova base será importante também para que projetos de empresas concorrentes possam ser tocados distantes um do outro. “Às vezes precisamos procurar outro lugar para desenvolver um projeto e há empresas que proibe até o uso de celulares na área do seus projetos”.

Mas certamente a filosofia do Nutes será mantida no parque. “Acho que precisa muito focar nos arranjos produtivos locais (APLs) e ver a necessidade mais próxima”, diz. “Estamos sempre pensando nisso. Mas sem esquecer que estamos num país continental”.

 

 

Monitores ajudaram a salvar pacientes de covid-19

 

“5 mil leitos de UTI para tratamento da covid-19 não teriam sido montados, se não fosse nós”, afirma Misael Morais. Ele se refere à produção de monitores multiparamétricos, que estavam em falta no mercado brasileiro no ponto mais grave da pandemia.

“O monitor multiparamétriico, que mede sinais do paciente, sumiu do mercado na pandemia”, lembra. “O ministério dizia que não se pode intubar uma pessoa sem esse equipamento, e procurou a gente para que se fizesse um esforço para entregar mais equipamentos”. Para o coordenador, a tarefa foi urgente, mas não das mais complicadas. “Já tínhamos a tecnologia, foi só montar”.

Com esse esforço, incontáveis vidas foram salvas e a marca do Nutes, nos monitores, se fez presente nos 27 estados da federação. O núcleo conta, hoje, com a certificação ISO 13485. “É a norma de maior relevância para equipamentos médicos”, diz Morais.

 

 

As outras unidades Embrapii na Paraíba

 

Centro de Engenharia Elétrica e Informática (CEEI) da UFCG – Desenvolve projetos na área de software e automação. Tem mais de 130 projetos contratados com mais de 70 empresas parceiras da indústria, em diversos domínios de aplicação, incluindo saúde, entretenimento, eletroeletrônicos, alimentos, educação, comércio, jurídico, transportes, segurança, energia e TIC.

Centro de Energias Alternativas e Renováveis (CEAR) da UFPB – É credenciada para atuar na área otimização de energia, inclusive as renováveis, com foco nas áreas de gerenciamento de energia e sistemas de conversão e eficiência de energia. A infraestrutura conta com equipamentos de ponta que possibilitam protótipos físicos alinhados com o mercado, emulação de pequeno porte, simulação em tempo real (Hardware in the loop e Power Hardware in the loop) e medição de alta resolução.

Instituto Federal da Paraíba – Dentre os projetos já executados, a maioria está ligada a tecnologias necessárias para a execução das sublinhas definidas sob a área de competência de credenciamento em sistemas para manufatura. Destacam-se neste contexto tecnologias como software embarcado, eletrônica e sistemas inteligentes. Entre seus laboratórios estão o Assert, o de Instrumentação, Sistemas de Controle e Automação (Lisnca), o de Acionamentos Controle e Automação (Laca), o de Automação de Processos e Manufatura Integrada e o de Eletrônica.