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Fórmula UFPB

Na UFPB, automobilismo ajuda a formar alunos de Engenharia

publicado: 05/10/2020 08h02, última modificação: 05/10/2020 08h41
Fórmula UFPB completa 10 anos: estudantes projetam carros de corrida e participam do Fórmula SAE, uma competição nacional
Fórmula UFPB

Equipe reúne estudantes de vários cursos e participa da competição Fórmula SAE em São Paulo

 

Por Márcia Dementshuk

No Fórmula UFPB, projeto do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal da Paraíba, estudantes vivenciam a engenharia. A equipe composta atualmente por 52 integrantes desenvolve um carro de corrida estilo fórmula e participa da competição automobilística estudantil nacional, o Fórmula SAE. O projeto na UFPB completa 10 anos em 2020; os estudantes que passam pela experiência são valorizados no mercado de trabalho; os que seguem na pesquisa acadêmica produzem inovações que geram depósitos de pedidos de patentes. E mesmo com recursos escassos a equipe conquista boas posições no ranking nacional.

As corridas de Fórmula 1 atraem até aos menos entendidos de automobilismo. Acompanhar um Grande Prêmio - que seja pela televisão - ativa a adrenalina e gera forte emoção. Mais emoção ainda vivem os integrantes da equipe Fórmula UFPB vendo na pista em alta velocidade um carro de corrida planejado, construído e testado por eles.

Logomarca Fórmula UFPBOs estudantes desenvolvem desde o conceito inicial do protótipo, sua fabricação, experimentação, inclusive a culminância: colocar o carro lado a lado com outros adversários em uma competição Fórmula SAE. O Fórmula SAE é organizada pela entidade americana  “Society of Automotive Engineers”, (Sociedade de Engenheiros Automotivos) uma “competição de desenvolvimento de produto, onde os estudantes devem conceber, projetar, fabricar, e competir com pequenos carros de corrida estilo fórmula”, realizada em vários países. No Brasil, o autódromo fica em Piracicaba, interior de São Paulo, para onde a equipe do Fórmula UFPB viaja a cada temporada de provas.

“Trabalhamos com a realidade projetando soluções para o veículo dentro do orçamento que temos. O objetivo é fazer um desenho que seja viável economicamente, pensar no desempenho do carro, no motor, freios, ergonomia, suspensão... Mas os estudantes também são desafiados a elaborar o Plano de Negócios considerando a análise de mercado, o produto, o processo de manufatura, a estratégia de marketing e a lucratividade para os patrocinadores”, explica o coordenador, professor Doutor Koje Mishina.

É um projeto multidisciplinar, envolve alunos de outros cursos como Administração e Marketing. A equipe batalha por recursos financeiros contactando patrocinadores, promovendo cursos e outras ações. Conta com apenas duas bolsas de auxílio estudantil, uma do Programa de Bolsas de Extensão (Probex) e outra do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic).

É 100% prático, mas rende teorizações em trabalhos de conclusão de curso e dissertações. Em 2019 o mestrando Felipe Maraschin Pereira de Souza defendeu a dissertação que descreve o desenvolvimento de um atenuador de impacto de alumínio, “um equipamento que tem o propósito de absorver a energia do impacto no caso de uma colisão”, aumentando a segurança dos passageiros. Para o projeto ele usou os critérios do Fórmula SAE. O equipamento tem um custo baixo e mais eficiência do que os disponíveis no mercado atualmente. Segundo Koje Mishina será realizado o depósito de pedido de patente deste equipamento pelas características inovadoras no uso de tecnologia computacional. Também estão em desenvolvimento uma solução para a suspensão e um passador automático de câmbio, projetos que renderão patente.

Estudantes executam todas as fases do projeto em grupos divididos por subsistemas (Divulgação)

Experiência no Fórmula UFPB é valorizada no mercado de trabalho

O Fórmula UFPB se tornou referência no mercado de trabalho. Estudantes que passaram pelas oficinas e certamente viraram noites em claro terminando o veículo para viajar ao local da competição, em Piracicaba, estão em postos de trabalho valorizados em montadoras de veículos, ou em grandes empresas. De acordo com Koje Mishina, um dos pré requisitos para a contratação em montadoras é a participação do candidato no Fórmula SAE.

A função do Capitão do Fórmula UFPB, posição ocupada hoje por Monã Garcia, é acompanhar e facilitar a execução dos projetos de cada subsistema da equipe. Trabalhar a sequência do cronograma, atender as necessidades dos gerentes, dos líderes de subsistemas, dos patrocinadores, entre outros. “No Fórmula SAE eu percebi, com o tempo, que o carro não é o ‘lance’. O ‘lance é a equipe. Se você tem uma boa equipe, o carro é consequência. Fazer uma equipe construir um carro é a grande sacada; é isso o que traz um resultado melhor que vai refletir no mercado de trabalho. Por isso, grandes referências que temos da nossa equipe hoje ocupam postos de destaque, não necessariamente no setor de veículos, mas em outros também”.

Para falar da experiência, a voz de Monã Garcia transmite a euforia dos espectadores diante de um Grande Prêmio. É paixão pelo projeto. O coordenador, professor Koje, garante que são todos assim: “Depois se estarem formados, empregados, eles retornam para cá para transmitir as experiências aos novatos”.

Monã continua relatando suas responsabilidades: “Minha preocupação como Capitão é incentivar a participação dos colegas na sala de aula não é permitido estar no projeto se as notas são baixas. Nas aulas aprendemos a calcular e no projeto a montar um veículo. As duas coisas são importantes”.

A competição Fórmula SAE são cinco dias intensos, de fortes emoções. Em 2019 a equipe da UFPB foi o 9º melhor projeto de engenharia do Brasil e o 11º melhor Plano de Negócios do Brasil, entre mais de 70 equipes competidoras. “Essa conquista foi uma vitória, diante das condições que temos. Ainda por cima, o nosso carro sofreu uma quebra do motor e não pode ir pra pista, o que diminuiu nossa pontuação geral; ficamos em 23º. Se tivéssemos ido pra pista, íamos arrebentar”, diz Monã.

A competição é dividida em duas partes, a estática e a dinâmica. Na estática, os projetos são avaliados de acordo com a criatividade e a eficiência das soluções. Mesmo um carro caríssimo, pode não ter uma boa pontuação. Na parte Dinâmica, o veículo é avaliado na pista; foi nessa que não conseguimos apresentar. Os pontos são somados e o resultado final é lançado.

Neste ano, com a pandemia e o isolamento social, a equipe decidiu preparar a estrutura para a temporada de 2021 que será realizada por volta de janeiro de 2022, por ter tido a agenda alterada.

Estudante da ECIT Senador Humberto Lucena lidera subsistema da equipe

Guilherme Félix fez o Ensino Médio na Escola Cidadã Integral Técnica (ECIT) Senador Humberto Lucena, em Cacimba de Dentro, interior da Paraíba, e hoje é líder do Subsistema de Motor do Fórmula UFPB integrada por oito pessoas. Sua trajetória o levou a retornar às escolas para levar sua experiência:

“O princípio básico na ECIT era tornar a escola um ambiente familiar, amigável, como se fosse a nossa casa. Nosso Diretor, Robson Wesley, falava que essa era a nossa segunda casa e deveria ser um ambiente agradável para nós.”

“No segundo ano entrei para o Grêmio Estudantil. A nossa gestão me preparou por completo para situações que eu nem imaginava que eu iria enfrentar. Nós deixamos a escola mais divertida, menos formal; criamos competições esportivas, fizemos viagens culturais, reativamos o laboratório de computação, consertamos os computadores - são 18, a maioria precisava de manutenção simples, como solda e parafuso, que aprendemos nas aulas de robótica - estão até hoje funcionando bem. Consertamos a quadra de esportes e fizemos até um São João, com banda de forró e tudo! As verbas vinham da cantina que tínhamos no Grêmio.”

“O modelo da escola integral nos fortaleceu para encontrarmos soluções de problemas do dia a dia. Quando entrei na universidade, em 2019, e, logo em seguida, no Projeto Fórmula UFPB, já era parte da minha rotina identificar as necessidades e buscar alternativas.”

“No ano passado fizemos apresentações em duas escolas Cidadãs Integrais Técnicas em João Pessoa, a ECIT Dora Santiago Rangel, no Bairro José Américo e a ECIT Alice Carneiro, em Manaíra. Em ambas escolas, o impacto foi semelhante: “Enquanto apresentava o projeto, o bicho de sete cabeças que as pessoas pensam ser a engenharia se tornava mais amistoso. Quando eles souberam que construímos um carro de corrida na universidade, ficaram eufóricos. Queriam saber como entrar no Fórmula!”