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Seminário nacional em Campina Grande debateu o desenvolvimento sustentável da caatinga

publicado: 02/07/2023 00h00, última modificação: 03/07/2023 12h11
No bioma, as energias renováveis são potencial econômico, mas desertificação é um problema ambiental atual
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Monica Tejo, diretora do Insa, abre o Seminário / foto: Mateus de Medeiros
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O secretário executivo Rubens Freire esteve no evento/ foto: Mateus de Medeiros
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Adriana Alves representou o Governo Federal e falou à plateia/ foto: Mateus de Medeiros
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O professor Jonas Duarte falou sobre preconceitos envolvendo o Nordeste/ foto: Mateus de Medeiros
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Adriana Alves, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, e Monica Tejo, do Insa/ foto: Mateus de Medeiros
2023.07.02 - A União - I SEMINAC - abertura - foto Mateus de Medeiros
2023.07.02 - A União - I SEMINAC - Rubens Freire - foto Mateus de Medeiros-06
2023.07.02 - A União - I SEMINAC - Adriana Alves - foto Mateus de Medeiros-26
2023.07.02 - A União - I SEMINAC - Jonas Duarte - foto Mateus de Medeiros
2023.07.02 - A União - I SEMINAC - Adriana Alves e Monica Tejo - foto Mateus de Medeiros-09

A consciência da necessidade de preservação dos biomas brasileiros começou pela Amazônia, depois incluiu a Mata Atlântica e finalmente chegou à caatinga. A preocupação com a região abrange diversos temas que foram assunto dos debates no I Seminário Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Caatinga (Seminac), realizado de quarta, 28 de junho, a sexta, 30, na sede do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), em Campina Grande. Pesquisadores e representantes dos governos Federal e Estadual e de diversas entidades estiveram presentes para falar de desenvolvimento social, mudanças climáticas, desertificação e energias renováveis entre outros tópicos.

O secretário executivo de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Rubens Freire, o presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB), Rangel Junior, a Secretária de Estado do Meio Ambiente e Sustentabilidade, Rafaela Camaraense, estiveram presentes ao evento. Adriana Alves, secretária nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional e Territorial do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, representou o Governo Federal. A diretora do Insa, Monica Tejo, falou à plateia na abertura oficial, assim como representantes de entidades como o Banco do Nordeste, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

“O evento agrega pesquisadores, público, pessoas curiosas, promovida pela comunidade acadêmico-científica para discutir um assunto extremamente importante que é o destino do bioma caatinga”, comentou o secretário executivo Rubens Freire. “É um momento importante de paradigma no financiamento da política nacional de ciência e tecnologia. E aí retomamos temas que estavam adormecidos”.

“Existe uma preocupação muito grande agora. O Ministério do Meio Ambiente vem retomando com muita força a questão da preservação dos biomas. E a gente tem também uma necessidade de investimento”, afirmou Adriana Alves, secretária nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional e Territorial do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Além dos debates oficiais, conversas paralelas entre os participantes podem gerar também projetos futuros. “Estive conversando com colegas, notadamente a comunidade de dirigentes das políticas públicas de ciência e tecnologia da região, e há uma intenção de reproduzir uma experiência bem-sucedida que é o programa Amazônia + 10”, conta Freire. “É um assunto que está sempre sendo pautado e vai ser retomado com mais intensidade a partir de várias conversas que estamos tendo aqui. Não no escopo do evento, mas conversas, digamos assim, paralelas, com pessoas que estão aqui. É uma ideia que atraiu bastante a comunidade de dirigentes de políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação no ambiente Nordeste para reproduzir aqui. Esse assunto está pautado na câmara temática do Consórcio Nordeste”.

 

 

Imagem de ‘pobreza’ da região foi construída

 

O professor e economista Jonas Duarte, do Departamento de História da UFPB, representou a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), defende que a ideia estereotipada sobre a caatinga e o semiárido foi construída, “O Nordeste, na divisão nacional do trabalho, terminou sendo a região empobrecida, pela lógica do capital”, contou. “Agora a gente precisa criar aqui uma educação decolonial, contrária a essa visão de inferiorização do Nordeste. E precisa desenvolver na área da economia, na área da política, um desenvolvimento econômico, social, e um empoderamento político das camadas populares”.

Para ele, há duas visões sobre o Nordeste, que são um pouco estereotipadas e também um pouco verdade. “Uma é que no Nordeste há muita pobreza. Há realmente, isso é fato. E outra é que o Nordeste é dominado por oligarquias familiares, isso também é verdade”, disse. “Agora, também é verdade que há muita riqueza no Nordeste. Também é verdade que a região deu uma lição política ao país e tem muita organização civil. Tem um pulsar da vida no Nordeste muito interessante”.

 

 

Desertificação está presente na pauta

 

Ficou também evidente o dilema envolvendo a política de energias renováveis: os pesquisadores defendem que os grandes parques de energia solar e eólica trazem, como efeitos colaterais, problemas ambientais e até de saúde da população próxima. “Existe esse dilema entre como essa riqueza das zonas áridas do semiárido brasileiro pode ser utilizada com justiça social, que efetivamente beneficie os seus moradores”, disse o professor Aldrin Martín.

“Esses megaprojetos privados, em lugar de favorecer a luta contra as mudanças climáticas, eles incrementam essas mudanças climáticas porque cortam a vegetação onde os parques serão instalados. E isso provoca que o carbono, tanto o que está nas plantas quanto o que está no solo, seja liberado”, continua. Para ele, isso também provoca efeitos no solo, que fica impermeável e a vegetação não se desenvolve e a água nas profundezas seja reduzida.

“As energias limpas e renováveis são uma prioridade com a transição energética”, afirma Adriana Alves. “O que a gente consegue é conciliar isso: garantir o processo de preservação, mesmo com a geração e o aproveitamento do potencial do semiárido, que é a energia solar e a energia eólica”.

“Nossos projetos produtivos são pautados na sustentabilidade, na mitigação de efeitos da desertificação e na redução da desertificação também”, continua ela. “A política de desertificação não está a cargo do Ministério da Integração, está a cargo do Meio Ambiente, mas nós trabalhamos, em todas as nossas iniciativas, processos sustentáveis”.

“Isso é uma discussão que tem sido levada no âmbito do Consórcio Nordeste. A energia renovável tem sido encarada pelos atores políticos atuais como uma grande oportunidade para o desenvolvimento econômico e social dos estados da região”, contou Fábio Guedes, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e que também está à frente da Câmara Temática de Ciência e Fomento ao Conhecimento do Consórcio Nordeste. “É importante que as universidades e os centros de pesquisa possam também avaliar qual o impacto disso na vida das pessoas, do ponto de vista social, e também os frutos da geração de riqueza com base no potencial da produção de energia limpa no Nordeste”.

 

Texto: Renato Félix