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Museu do Horizonte celebrará a ciência no PTHI

publicado: 22/01/2023 00h00, última modificação: 07/02/2023 10h47
Parque Tecnológico Horizontes da Inovação terá um espaço para educar população sobre assuntos como a emergência climática
Divulgação

Setor do PTHI em reforma onde será a sede do Museu do Horiozonte/ foto: Delmer Rodrigues

 

 

 

Gilson Renato e Márcia Dementshuk

 

O Projeto de Planejamento e Implantação do Parque Tecnológico Horizontes de Inovação (PTHI) e de Requalificação do Centro Histórico de João Pessoa prevê a instalação de um museu de ciências, que está sendo nominado Museu do Horizonte. Ele ocupará um dos prédios em recuperação, pelo Governo da Paraíba, no antigo Colégio Nossa Senhora das Neves, conjunto arquitetônico do século XIX, situado na Praça Dom Ulrico.

O novo Museu do Horizonte contempla a demanda, contida na ideia original do PTHI, por um equipamento que, aberto ao público, fomente e inspire a diversidade e a sustentabilidade através de experiências variadas. Para a coordenadora do PTHI, professora Francilene Procópio, o novo equipamento terá, principalmente, a função de educar a população sobre o estado de emergência climática e sobre os desafios socioambientais que precisam ser enfrentados pelo conjunto da população global.

Segundo a coordenadora Francilene, “o Museu do Horizonte, em parceria com instituições científicas e com empresas, deverá promover agendas que fomentem a difusão de conteúdos de ciência, arte, cultura e educação para a população paraibana, com um olhar especial para jovens mulheres que aspiram seguir carreiras científicas”. Ao destacar o foco na população feminina, Francilene destaca o viés histórico da iniciativa ao lembrar que o Colégio das Neves abrigou a primeira ação formal de educação para mulheres na Paraíba.

O projeto museológico está em curso sob a responsabilidade da arquiteta e urbanista Maria Botelho Lima. Segundo ela, “o Museu do Horizonte integra o amplo programa Horizontes de Inovação, implantado pelo Marco Legal da Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba, tem o objetivo de impulsionar o ecossistema de inovação e de fortalecer os sistemas científico e de empreendedorismo geradores e produtores de tecnologia no estado da Paraíba”.

A arquiteta afirma que o museu cumprirá os seus propósitos, “através da difusão do desenvolvimento científico e tecnológico sustentável a partir das energias renováveis e da educação climática. De forma ética e transdisciplinar, a instituição atuará na interface entre a ciência e a sociedade, integrando conteúdos de ciência, arte, cultura e educação para expandir as fronteiras do conhecimento, valorizar o patrimônio histórico e a identidade cultural do povo paraibano”.

Para o Secretário Executivo de Ciência e Tecnologia, professor Rubens Freire, “uma instituição como o PTHI, promotora de desenvolvimento tecnológico e de inovação, precisa informar e colocar à disposição da comunidade, que não tem uma ligação direta com a instituição, os resultados do seu trabalho e precisa também facilitar, na medida de suas possibilidades, o acesso da população às informações e conteúdos que circulam e são produzidos naquele ambiente”. Rubens Freire acredita que há uma tendência mundial, entre importantes instituições e empresas, de promoção do conhecimento através do contato direto com a história e os processos produtivos e criativos da determinada empresa ou instituição. O museu de ciências, segundo o professor, “cumprirá esse papel no âmbito do PTHI”.

 

 

Museu usará conhecimento como instrumento

 

Quando o cantor e compositor Cazuza escreveu “eu vejo um museu de grandes novidades”, trecho da canção “O tempo não para”, usou a ironia certeira e a sua poesia para garfar os que maquiam velhas coisas e ideias para apresentá-las como novas e inovadoras. A poesia de Cazuza jamais envelhecerá, mas a referência semântica que possivelmente o conduziu a escrita envelheceu, pois, a cada dia, é mais fácil acessar museus de grandes novidades. Estes e os tradicionais convivem agora, com suas tipologias diversas, mas com o mesmo propósito e a mesma importância. São os museus do passado, do presente e do futuro da humanidade.

Muito além dos marcos temporais os paradigmas da Museologia Social, em seu estatuto preconiza, “enquanto princípios fundamentais dos museus: a valorização da dignidade humana; a promoção da cidadania; o cumprimento da função social; a valorização e preservação do patrimônio cultural e ambiental; a universalidade do acesso; o respeito e a valorização à diversidade cultural e o intercâmbio institucional”.

O projeto do Museu do Horizonte, em seus conceitos norteadores, destaca, inclusive, a localização do museu em zona especial de preservação como referência para concebê-lo como um equipamento científico inovador de prerrogativas híbridas vinculadas aos Centro de Ciências e aos Centro de Intepretação do Território e, portanto, capaz de criar enlaces entre os patrimônios científico, tecnológico, histórico e a comunidade local.

Desta forma o Projeto Museológico define o Museu do Horizonte como uma unidade de Ciências Aplicadas capaz de usar o conhecimento como instrumento para a solução de problemas práticos, através da sua fusão, interação e experimentação, próprias aos Centros de Ciências, com as  metodologias empregadas nos Centros de Interpretação do Patrimônio Turístico e Cultural.

O Projeto Museológico registra que, “o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico atenta para o fato de que cada vez mais a população mundial busca por um entendimento mais amplo do papel social da ciência, já que as pesquisas e descobertas científicas têm influenciado e interferido diretamente no cotidiano da humanidade”. Isto para destacar o papel dos centros e museus de ciências enquanto instituições que apoiam a construção da cultura científica e da cidadania, na medida em que auxiliam no processo de aprendizado, por atuar na interface entre a ciência e a sociedade.

 

 

Museus ganham um novo conceito

 

Há os museus tradicionais, onde o observador não se aproxima da obra e é expressamente proibido de tocá-la; a contemplação do belo emerge da experiência visual. E os interativos, que têm atraído jovens e estudantes, um público que tende a preferir programas de lazer ou estudos mais dinâmicos do que contemplativos. Em vista dessas transformações sociais, o Conselho Internacional de Museus (Icom) estabeleceu em agosto do ano passado uma nova definição de museu – ampliando o conceito, com o objetivo de alinhá-lo às mudanças no papel desses institutos, voltadas à inclusão, diversidade, participação da comunidade e sustentabilidade. A nova definição é a seguinte:

“Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o patrimônio material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento”.

O texto foi o resultado de um processo colaborativo que durou quase dois anos e envolveu milhares de profissionais de todo o mundo. Só no Brasil, mais de 1.600 pessoas participaram dos debates promovidos pelo Comitê Brasileiro.

No Brasil há vários exemplos de museus com exposições interativas como o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. Em dezembro de 2022 inaugurou na Bahia o Centro Cultural e Museu de Ciência 4.0 que proporciona ao visitante uma viagem pelos grandes experimentos que marcaram a humanidade, sempre tendo Salvador como referência, utilizando recursos avançados, como tecnologia 4.0 e imagens em 3D, touchscreen e realidade virtual, além de experimentos lúdicos e interativos voltados para a ciência.

Com o novo paradigma, o Estatuto de Museus, previsto na Lei 11.904/2009, que é o instrumento normativo federal que prevê os princípios e as regras que devem ser seguidas para o bom funcionamento dos museus, podem sofrer adaptações.

As mudanças determinadas pelo Icom, no entanto, segundo a arquiteta Maria Botelho, responsável técnica pelo Projeto do Museu do Horizonte do PTHI, “não alteram a forma que os museus trabalham, elas alteram apenas a definição da terminologia dos museus”.