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ACERVO

Museu de Biodiversidade da UFPB reúne quase um milhão de ítens

publicado: 20/02/2022 00h00, última modificação: 22/02/2022 16h43
Projeto soma coleções existentes há décadas de áreas como répteis, mamíferos e peixes formando um banco de informações para pesquisa científica
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Exposição Semana Nacional de Ciencia, em 2017/ foto: divulgação
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Lote de lepidopteras/ foto: divulgação
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Pesquisadores de répteis em coleta de material na reserva Olho d'Agua das Onças/ foto: divulgação
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Renato Félix e Márcia Dementshuk

 

Catorze coleções biológicas da UFPB reúnem 970 mil espécimes-lote e 270 mil exemplares registrados. Um acervo inestimável resultado de anos de pesquisas, agora reunida sob um mesmo guarda-chuva: o Museu de Biodiversidade. O projeto foi iniciado durante a pandemia com visitações públicas agendadas e fomentar pesquisas sobre o tema. “Iniciamos o projeto durante a pandemia para dar acesso virtual e uma introdução ao publico sobre estes acervos”, explica Pedro Estrela, do Laboratório de Mamíferos da UFPB e coordenador do museu. “Realizamos visitações sob agendamento, principalmente para escolas e preferencialmente associadas ao estágios pedagógicos de futuros professores, o alunos de licenciatura em biologia”. A iniciativa é apoiada pela da Rede de Extensão Universitária de Museus da UFPB (Reumus).

“Estas ações já existiam, de forma pontual durante o ano e sistematicamente nas semanas nacionais de ciência e tecnologia, antes da criação deste projeto guarda-chuva que tem como objetivo dar mais visibilidade aos acervos”, continua. A filosofia de um museu como este não é a de focar principalmente na exposição destinada ao público em geral, embora não deixe de se prestar também a isso.

“Em todo o mundo, os museus de biodiversidade ou historia natural são instituições de  pesquisa, de divulgação científica e às vezes de ensino”, explica. “São instituições diferentes da maioria dos museus de artes e cultura que, em sua maioria, são instituições primariamente de divulgação. A pesquisa está no DNA dos museus de biodiversidade e história natural desde as primeiras instituições deste tipo no século XIX”.

Os acervos reunidos agora no museu já haviam crescido muito por causa da intensa atividade de pesquisa nos campi de João Pessoa e Areia. E esse aumento na atividade também faz crescer a necessidade de melhores condições de conservação, além de proteção adequada contra pragas e incêndios. “Os incêndios de grades acervos como o do Museu Nacional, em 2018, e do Butantã, em 2010, nos lembram o quão frágeis são estas coleções”, aponta o professor. “Os acervos também requerem uma melhoria de capacitação de recursos humanos em termos de gestão, informatização e disponibilização”.

O museu, que ainda não conta com uma exposição fixa, conta com seis coleções visitáveis (os agendamentos voltarão quando as condições sanitárias da pandemia permitirem): o herbário; insetos; invertebrados marinhos; mamíferos; peixes; e répteis e anfíbios. “Ainda não temos um exposição fixa fisicamente, por falta de espaço adequado, pois o museu foi idealizado durante a pandemia”, conta. “No site, temos o histórico e descrição dos acervos, galeria de fotografia de animais, fungos e plantas, materiais expositivos didáticos de exposições passadas. Temos um canal de YouTube com vídeos sobre biodiversidade e os acervos”. Quando os agendamentos são possíveis, há também realizações de oficinas na Casa da Ciência.

A união das iniciativas ajuda a enfrentar em conjunto gargalos administrativos, físicos, financeiros e de gestão. “Estes gargalos nos impedem de dar respostas científicas a um mundo que exige das instituições de biodiversidade análises de problemas globais”, opina. “Os dados de coleções auxiliam em determinar se uma espécie está em extinção, qual o impacto das mudanças climáticas na saúde humana e agricultura ou na quantificação monetária de serviços prestados pelo ecossistemas às sociedades humanas”. (RF)

 

 

Como funciona a preservação

 

Existem varias formas de preservar os exemplares dos acervos e as técnicas de conservação permitem manter as características dos seres vivos por centenas de anos. “Eu mesmo já estudei um exemplar empalhado de um camundongo-do-campo coletado por Charles Darwin em 1832”, afirma Estrela.

Plantas e fungos são preservados por secagem. Invertebrados marinhos (ouriços, crustáceos, moluscos aquáticos) e peixes são conservados predominantemente em alcool 70 º e/ou em formol. Insetos podem ser secados ou mantidos em álcool 70º. Vertebrados podem ser empalhados (aves e mamíferos) ou guardados em álcool 70º depois de passar pelo formol, como no caso de anfíbios e repteis.

“Mas existem muitos tipos de preparações diferentes para fins específicos”, explica Estrela. “Dos golfinhos e baleias, por exemplo, preservamos somente os ossos, pois são grandes e a pele é muito fina”. Ha também coleções de microalgas, que são organismos vivos e que já geraram oito patentes, mantidas vivas em meios de cultura. “Esta é um das mais delicadas e que estamos à beira de perder por falta de técnico capacitado”, alerta. Há até coleções mantidas em formato digital, como coleções de sons de aves, anfíbios e morcegos. (RF)

 

 

Coleções reúnem milhares de exemplares

 

A coleção de microalgas marinhas e de água doce é o maior banco de cultura de microalgas da região Norte e Nordeste do Brasil. Já serviu para estudos para o desenvolvimento biodiesel derivado de óleo de microalgas; para estudos em ensaios toxicológicos com agrotóxicos; para estudos sobre cultivo de microalgas para fins alimentícios. Foi e é instrumento para a formação de pessoas qualificadas por meio da vivência em pesquisas integradas e multidisciplinares, envolvendo aspectos da biologia, da biotecnologia, e engenharia de processos, nas áreas de alimentos, fármacos e energia renováveis.

As primeiras amostras do banco foram coletadas a partir de 1983 em pesquisas coordenadas pelo professor Dr. Roberto Sassi, junto ao Laboratório de Fitoplâncton do Núcleo de Estudos e Pesquisas dos Recursos do Mar (Nepremar). Atualmente, o banco de microalgas, com 700 cepas, faz parte da infraestrutura do Larbim. O banco está codificado, organizado em formato digital, com as informações atualizadas constantemente.

“Hoje a gente tem mais de 12 mil lotes catalogados na coleção”, conta o professor Ricardo Rosa, da coleção de peixes. Uma coleção que cresceu ao longo dos anos, graças a pesquisa de professores e alunos de pós-graduação, com peixes preservados desde 1977, quando Rosa chegou à UFPB. “Na época já existia uma coleção incipiente de mamíferos e insetos”, lembra. “Uma coisa que vale destacar é o interesse pessoal. Eu já vinha com essa vocação porque trabalhei no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, justamente na coleção de peixes”.

Apesar do foco ser em peixes atuais, não fósseis, há representantes de várias espécies ameaçadas de extinção. “Quando eu cheguei aqui, eu coletei peixes que eram, na época, comuns e hoje já são extremamente raros, ou até mesmo não se encontram mais no nosso litoral”, diz. “Tem vários tubarões nessa condição e um peixe muito emblemático, o mero, uma garoupa gigantesca que era muito comum aqui nas nossas praias

A coleção de mamíferos da UFPB foi iniciada em 1979 e conta com 12 mil exemplares tombados. “Isso a coloca como a quinta coleção de mamíferos do Brasil e abriga aproximadamente um terço das espécies de mamíferos do Brasil. E merece especial destaque o acervo inestimável de exemplares de baleias que, após a proibição da caça em 1986, são impossíveis ou extremamente difíceis de se obter”. Além disso, ele conta que os exemplares coletados na Mata Atlântica do nordeste, ao norte do Rio São Francisco, são extremamente valiosos uma vez que essa é a região mais desmatada e ameaçada de toda a Mata Atlântica.

A coleção de répteis e anfíbios conta com 20 mil exemplares catalogados e também conta com espécies que eram comuns e hoje são ameaçadas de extensão, conta o professor Daniel Mesquita. “Como valor de informação da biodiversidade, esse trabalho é imensurável”, afirma. “A coleção é um depósito de informação, que, se bem usados, podem ser usados ad eternum”.

Ele reforça o sonho de que o museu ganhe vida fisicamente. “O museu ainda é virtual, mas a gente sonha que ele se torne – quem sabe? – um museu físico. Mas isso implica na construção de um prédio específico para abrigar o museu”. (MD/ RF)