Notícias

EMPREENDEDORISMO

Kombucha produzida na Paraíba começa a disputar espaço com outras bebidas

publicado: 18/04/2021 00h00, última modificação: 21/04/2021 18h28
Produção foi viabilizada pelo Programa Centelha, que possui recursos dos governos Federal e Estadual
1 | 2
Andressa Araújo e Nayara Barbosa/ foto: arquivo pessoal
2 | 2
Kombucha Bauá e seus três sabores/ fotos: divulgação
Divulgação
Divulgação

 

 

 

Renato Félix

 

Entre a cerveja, a cachaça, o suco e o refrigerante, é bom arrumar um espacinho para a kombucha. A bebida fermentada e gaseificada, de origem chinesa e de antes de Cristo, vem se tornando popular e uma opção leve e refrescante. Na Paraíba, ela já pode ser encontrada na Grande João Pessoa, através de uma marca que obteve financiamento do Programa Centelha – oferecido pelo Governo da Paraíba por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (FapesqPB).

Duas engenheiras químicas encabeçam o projeto: Nayara Barbosa dos Santos e Andressa Aziz Diniz Araújo. Nayara é mestranda focada em processos fermentativos e sócia-diretora produção/ pesquisa. Andressa também é mestranda, por sua vez focada em desenvolvimento de materiais para tratamento de efluentes, além de ser sócia-diretora administrativo/ financeiro.

Quanto à bebida, o produto da dupla é a kombucha Bauá. “A kombucha é uma bebida fermentada naturalmente gaseificada, de origem milenar chinesa, de 220 a.C.”, conta Nayara. “É consumida, hoje, no mundo todo. Feita à base de chá verde adoçado, é um alimento transformado por micro-organismos bons (ditos probióticos) que dão origem a uma bebida leve, de sabor marcadamente refrescante, cheia de bolhinhas e substâncias benéficas a saúde”.

Um refrigerante natural, define a engenheira química. “Ele é enaltecido por suas propriedades desintoxicantes e energizantes”, conta. “Isso porque, dentre outros benefícios, a ingestão frequente da kombucha fortalece o sistema imunológico, melhora a absorção de nutrientes e o funcionamento do metabolismo. A bebida possui ainda, ação antioxidante e anticancerígena, fundamentais para a prevenção de diversos tipos de canceres”.

Atualmente, a kombucha Bauá possui três opções de sabores: caju; limão, gengibre e hortelã; e hibisco e canela. E é vegana. “A Bauá trabalha com kombuchas não alcoólicas e probióticas (não pasteurizadas), feitas de forma 100% natural, sem nenhum tipo de aditivo químico ou conservantes e livre de qualquer contato animal”, afirma Andressa.

 

 

Investimento de R$ 58 mil

 

Nayara conheceu a bebida no interior de São Paulo, durante um período de estágio. “Achei a bebida fascinante em todos os aspectos e quis muito apresentá-la a todo mundo. Comecei a pós-graduação na área de fermentados e parimos a Bauá”, lembra, rindo.

O Centelha apareceu como a oportunidade de tornar realidade algumas capacitações e a possibilidade de expansão do produto, com um investimento de R$ 58 mil. “O programa proporcionou a realização do sonho em termos financeiros”, afirma. “Antes disso, já trabalhávamos com kombucha, porém, em escala caseira – vendendo para amigos e familiares”. 

O resultado é a primeira fábrica de kombucha e seus derivados da Paraíba, em Cabedelo, com capacidade de produção de cerca de 4 mil litros por mês. Ter duas mestrandas em Engenharia Química à frente do projeto garante que a ciência e a pesquisa sejam também protagonistas. “O projeto é encabeçado por duas mestrandas da área de engenharia química e apoiado por pesquisadores que são experts na área de bioengenharia e alimentos fermentados”, explica Nayara. “Atualmente desenvolvemos pesquisa, em parceria com a UFPB, focada no desenvolvimento e padronização de kombuchas de sabores nordestinos”.

 

 

Bebida surgiu na China antiga

 

Um dos desafios foi o de pegar esse produto que vem da China antiga e criar uma versão paraibana, mais identificada com o paladar e a cultura locais. Por aí passa o nome do produto. “A inspiração do nome veio de um pássaro simpático e cantador, que no Brasil é especialmente encontrado na região Nordeste”, explica Nayara. “Na Paraíba, conhecemos esse pássaro como xexéu-bico-de-osso. Porém ele também é conhecido por iraúna-de-bico-branco, xexéu boé ou simplesmente bauá”.

A pandemia, claro, complicou a trajetória do produto. “Antes da pandemia, já esperávamos um grande desafio pela frente: o de comercializar um produto praticamente desconhecido em nossa região. Desafio esse que tomamos com garra e coragem, pois acreditamos no potencial do nosso produto”, conta Andressa. “Ninguém passou intocado pela pandemia e conosco não tem sido diferente. O descontrole da pandemia da covid-19 vem impossibilitando o retorno à normalidade de atividades e causando quedas de vendas em lojas físicas. Temos tentado nos adaptar a esta realidade interagindo com nossos clientes de forma virtual e vendendo através de plataformas online”. 

No momento, o produto está à venda em alguns pontos físicos, mas também pelo whatsapp e pelo Instagram.

 

 

Centelha aprovou 28 projetos na PB

 

O Programa Centelha é promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), operada pela Fundação Certi e executada na Paraíba pela Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia (Seect) e Fundação de Apoio à Pesquisa (Fapesq).

O programa está investindo na Paraíba recursos na ordem de aproximadamente R$ 1,7 milhão, sendo 570 mil de contrapartida do Estado, com cada projeto aprovado no edital recebendo até R$ 60 mil. Foram 28 projetos aprovados, divulgados em março de 2020.

“O Centelha foi de fundamental importância pra tirar o projeto do papel”, afirma Nayara. “Sem ele, estaríamos em escala caseira ainda”.