Notícias
PESQUISA
Investimento em pós-graduação incentiva pesquisas em áreas estratégicas
Renato Félix
Elane da Silva Salvador é estudante do mestrado em Química na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desde março de 2020. Morando com a família em Campina Grande, ela não chegou a precisar arranjar um emprego em tempo integral para se sustentar, mas ainda deu aulas de reforço e vender semijoias. Em maio deste ano passou a receber uma bolsa, o que a ajuda a focar no seu projeto de pesquisa acerca de aplicações biomédicas na medicina regenerativa e na engenharia de tecidos. “A bolsa ajuda muito, muito, muito mesmo”, afirma. “Se o foco era 50%, ela aumenta mais 50% (risos). Sem as bolsas, isso limita as idas ao laboratório, gera desmotivação e dificulta o processo do desenvolvimento da pesquisa”.
Elane passou em maio a receber uma das bolsas do edital Capes/FapesqPB para pós-graduação, um dos editais através dos quais o Governo do Estado vem incentivando a pesquisa nas universidades. Na semana passada, mais um edital da Fapesq foi divulgado, com aporte de R$ 20 milhões do Tesouro Estadual, e 326 bolsas distribuídas entre Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), UEPB e Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), para alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
“Com esse edital, vamos ter investimentos em pesquisa em quase todos os eixos estratégicos do estado”, diz Francisco Jaime, pró-reitor de graduação da UEPB. “A gente trabalha muito para que essas pesquisas sejam alinhadas com as necessidades estratégicas do estado: sejam pesquisados os problemas e encontradas soluções”.
O mestrado em química vinha funcionando com 45 estudantes e apenas três deles recebendo bolsa. O edital Capes/Fapesq de 2020 trouxe seis novas bolsas de mestrado, mais uma do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD), além de R$ 64 mil para o custeio das pesquisas. E, em 2021, mais duas de mestrado – uma das quais, a de Elane Salvador.
No recente edital da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FapesqPB), divulgado semana passada, a destinação das bolsas foi a seguinte: para a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 84 bolsas de mestrado, 77 de doutorado e 26 de pós-doutorado; para a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), 35 bolsas de mestrado, 34 de doutorado e 12 de pós-doutorado; para a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), 28 bolsas de mestrado, 18 de doutorado e 6 de pós-doutorado; para o Instituto Federal da Paraíba (IFPB), uma bolsa de pós-Doutorado; e para a Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), 5 bolsas de pós-doutorado.
Cada bolsa de mestrado receberá R$ 1.500 mensais, com duração máxima de 24 meses; Cada bolsa de doutorado, R$ 2.200 mensais com duração máxima de 36 meses. E o valor mensal da bolsa de pós-doutorado é de R$ 4.100, com duração máxima de 12 meses podendo ser renovada por mais 1 ano.
Pesquisa pode ajudar a regenerar ossos e cartilagens
Pesquisas relacionadas ao meio-ambiente, tanto no semiárido quanto no litoral, soluções para a agricultura e na área da saúde estão entre os temas dos estudos que o financiamento de bolsas pelo Governo do Estado, através da FapesqPB, podem abordar. É o caso da pesquisa de Elane Salvador, que procura encontrar meios para ajudar células a se regenerarem.
“O estudo é focado na parte de ossos e cartilagens”, conta ela. “Ossos e cartilagens possuem um processo de autoregeneração. No entanto, esse processo pode se tornar limitado: com o tempo, com a idade, por causa de algum tipo de patologia. Por esses motivos, pode acontecer um desgaste da cartilagem e dos ossos”.
A pesquisa, então, procura desenvolver um material que “incentive” as células a se regenerarem. Para chegar aí, ela pesquisa materiais conhecidos como coacervados, definidos como um aglomerado de moléculas proteicas envolvidas por água. Os coacervados são conseguidos através de interações entre biopolímeros de cargas opostas. Biopolímeros são compostos químicos produzidos a partir da ação de seres vivos ou de matérias primas de fontes de energia renováveis.
“A interação entre polifosfato e cálcio tem se mostrado promissora para aplicação em medicina regenerativa”, afirma a pesquisadora. “Células-tronco, quando inseridas nesse meio de coacervação, foi observado que há maior proliferação”. O material também tem sido biocompatível: isso é importante para não gerar reações ou rejeições.
A pesquisa ainda está em desenvolvimento, mas a expectativa é que esse biomaterial possa induzir células regeneradoras a agirem com mais eficiência. “Ele poderá ‘conduzir’ as células”, conta ela, que pretende seguir com a pesquisa no doutorado.
Bolsas podem segurar talentos na Paraíba
Esse investimento por parte do Governo do Estado surge em um cenário no qual o Governo Federal corta investimentos na pesquisa. “Temos que realçar a importância do Estado no reconhecimento do nosso sistema estadual de pós-graduação”, conta Roberto Germano, presidente da Fapesq. “A aplicação do novo método de distribuição de bolsas pela Capes penalizou alguns programas – sobretudo cursos com conceitos mais baixos, 3 e 4 – trazendo prejuízo, sem dúvida nenhuma, para o desenvolvimento científico e tecnológico do estado da Paraíba. Dessa forma você praticamente dificulta o acesso dos alunos que não têm como se manter na universidade sem bolsa”.
Para ele, o programa lançado pelo Governo do Estado possui um viés muito claro de fortalecer esses programas que foram penalizados com a nova sistemática de distribuição de bolsas da Capes. “A comunidade reconhece a importância desse apoio institucional”, afirma. “Mas temos que reconhecer que a grande importância desses editais é a fixação de talentos humanos, talentos jovens, através da bolsa de pós-doutorado. Que tem sido reduzida, tanto pela Capes quanto pelo CNPq”.
As bolsas de pós-doutorado totalizam 50 do total de 326 distribuídas pela FapesqPB através do edital mais recente. “E este montante de bolsas tem um significado muito importante para fixar esses recém doutores aqui no próprio estado da Paraíba, contribuindo com o desenvolvimento científico e tecnológico dessas instituições e dos projetos de pesquisa realizados por esses cursos”, opina.
Ele também chama a atenção para, além de projetos mais gerais, a interação dos programas de pós-graduação com as necessidades do estado. “Sobretudo em setores que a gente considera estratégicos para o desenvolvimento”, diz Germano. “Como, por exemplo, um foco na requalificação do centro antigo de João Pessoa, envolvendo projetos dentro da área de arquitetura, história...”.
Outras abordagens incentivadas dizem respeito a setores produtivos como o da floricultura, caprinocultura – com a questão de leite de cabra e queijos finos. “Além de outros temas importantes, como o desenvolvimento tecnológico para a cachaça”, conta. “São áreas que estão sendo contempladas para que esses programas possam destinar essas bolsas para desenvolver teses com esses focos”.