Notícias

MEIO AMBIENTE

Governo da Paraíba debate mudanças climáticas

publicado: 17/04/2022 00h00, última modificação: 18/04/2022 10h48
Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia traça planejamento estratégico para propor direcionamentos e discute tema em lives com especialistas
Divulgação

Paulo Artaxo, Patrícia Pinho e Clayton Campagnolla foram os convidados das primeiras lives/ fotos: divulgação

 

 

 

Renato Félix

 

O nosso planeta está cada vez mais em uma encruzilhada na qual está em jogo sua própria sobrevivência: agir a tempo para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Além de manifestações extremas do clima cada vez mais recorrentes (fortes chuvas, secas, tornados, etc), as repercussões já podem ser notadas nas mais diferentes áreas. E uma série de lives promovida pelo Governo do Estado, através da Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia, debate o assunto com alguns dos principais especialistas brasileiros da área. Três já foram realizadas e continuam podendo ser acessadas no canal da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia. Outras ações já estão em planejamento para aprofundar a questão por aqui.

Batizada de A ConsCIÊNCIA pelo Conhecimento, grafada assim para ressaltar o papel da ciência, a série de lives não se propõe a reverberar o alarmismo, mas, sim, a fazer da difusão do conhecimento e das informações uma maneira para conscientizar as pessoas para a importância do assunto. “A mensagem é conscientizar não pelo terrorismo, mas pelo conhecimento”, afirma Daniel Benitez, gerente executivo da SEC&T, que idealizou a live tendo em vista o Dia Nacional da Conscientização sobre Mudanças Climáticas, que foi dia 16 de março.

Serão, ao todo, seis lives. As seguintes discutirão os impactos ambientais, como introduzir o tema das mudanças climáticas no ensino público fundamental e as políticas públicas a respeito do assunto. As lives são o começo de um plano estratégico elaborado pela Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia.

Este plano estratégico em relação ao tema das mudanças climáticas é formado por quatro momentos diferentes. As seis lives serão realizadas até 25 de maio. “O segundo momento será estadual: de juntar, mapear, saber o que está sendo feito e por quem no estado, com uma reunião que será realizada na segunda quinzena de julho”, informa Benitez. “Onde se pretende formalizar o Fórum Paraibano de Mudanças Climáticas”.

No terceiro momento, este fórum vai contactar outros fóruns estaduais para realizar, em novembro, um Fórum Nordestino de Mudanças Climáticas. “Se pretende encerrar esse fórum com um documento para ser entregue às autoridades do Consórcio Nordeste”.

 

 

Conferências pelo clima não têm tido resultados

 

A estreia da série recebeu Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU),e Rubens Freire, secretário executivo de Ciência e Tecnologia. A conversa segue disponível para ser assistida a qualquer momento no canal do YouTube da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia.

A live foi realizada poucos dias depois que o IPCC, que é o o painel cientifico para o clima da ONU, lançou seu sexto relatório em que alerta para os riscos que a humanidade vai enfrentar nas próximas duas décadas por conta do aquecimento global. A cada relatório divulgado, os alertas são mais diretos e mais graves. “Esses relatórios, quando começaram, falavam apenas dos impactos climáticos e econômicos. Agora, já falam dos impactos na saúde, na educação e na marginalização de populações carentes. Passou-se a se discutir a sociedade como um todo”, analisa Daniel Benitez.

“A questão importante sobre as mudanças climáticas é que nosso sistema sócioeconômico  está mudando nosso planeta de muitas maneiras – muitas delas que a gente nem percebe”, disse Artaxo, na live. “População mundial crescendo exponencialmente, investimento estrangeiro crescendo, uso de fertilizantes, produção de papel, uso de água – todas essas tendências sócioeconômicas estão tendo crescimento exponencial. Bem, num planeta onde os recursos naturais são limitados, evidentemente que isso não pode crescer ad infinitum. E este crescimento está tendo impactos importantes nas tendências do sistema climático que controla o clima no nosso planeta”.

Ele também mostrou com dados e gráficos que pouco mudou após eventos como a Rio+20 e a COP-26. “Basicamente elas não tiveram nenhum efeito em qualquer mudança nas emissões de gás do efeito estufa e no aquecimento global”, analisou. Sua fala se dedicou a mostrar as razões disso.

 

 

Desigualdades sociais são reforçadas

 

Patricia Pinho, doutora em ecologia humana pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e diretora científica adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) foi a convidada da segunda edição, que também teve a participação também do secretário Rubens Freire. O tema foi  “Impactos sociais das mudanças climáticas” e ela também segue disponível no canal da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia no YouTube.

Ela é a autora-líder do capítulo sobre pobreza, modos de vida e desenvolvimento sustentável para o sexto relatório do IPCC. “O que está realmente em jogo é a própria existência humana e de que forma ela vai se dar agora num mundo completamente alterado antropogenicamente”, disse ela em sua participação. “Existe um componente muito forte de desigualdade. Os países desenvolvidos são historicamente mais responsáveis pelas maiores emissões de gases de efeito estufa. Mas também existe uma desigualdade no que tange ao impacto. Os maiores impactos negativos têm sido observados no ‘sul global’”.

Ela conta que mesmo dentro desses países abaixo na linha do Equador as desigualdades sociais fazem com que certas regiões ou grupos humanos sofram mais com as mudanças climáticas que outros e falou sobre o conceito de “justiça climática”. “A gente tem que conseguir uma habilidade de resposta global quanto a estratégias de adaptação às mudanças climáticas, aos impactos que se projetam em riscos futuros, e tentando evitar limites de adaptação”, explicou. “Esses limites seriam referentes a pobreza, desigualdade, realocação de pessoas em situação de vulnerabilidade ou limites mais duros como o colapso de alguns ecossistemas”.

 

 

Destruição de ecossistemas impacta produção de alimentos

 

Clayton Campagnolla, consultor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), foi convidado da terceira edição do ciclo de lives, com a participação de Daniel Benitez. O vídeo pode ser assistido neste link. O assunto foi justamente “efeitos das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos".

Campagnolla também foi presidente da Embrapa e, na FAO, atualmente é diretor da Divisão de Produção e Proteção Vegetal. Ele começou por um estudo do Fórum Econômico Mundial publicado recentemente, em que foram entrevistadas 12 mil pessoas, líderes em diversos setores da sociedade, que elencaram os maiores riscos globais para os próximos 10 anos. “Dos dez, cinco são riscos climáticos”, apontou.

Em seguida, ele abordou a evolução dos eventos extremos do clima, numa tendência que prevê mais eventos e em menos tempo. Os impactos indiretos incluem a degradação de ecossistemas, com a perda de diversidade e de serviços ambientais. “Quando você destrói um ecossistema você está criando problema para a oferta e qualidade de água, interferindo nos ciclos na natureza, desprezando a utilização benéfica de organismos que fazem controle natural de pregas e doenças, afetando os polinizadores”, explicou.

Estima-se que a remoção completa de polinizadores – não só abelhas, mas também pássaros – poderia reduzir a oferta global de frutas em 23%, de vegetais em 16% e de nozes e sementes em 22%. “Aí, obviamente agravando toda a questão de deficiência de nutrientes, doenças relacionadas à desnutrição e a falta de uma alimentação adequada”, alerta.

Para ele, mudanças incrementais não serão suficientes. “Há a necessidade de fazer uma grande transformação ativa para promover a adaptação dos sistemas produtivos agropecuários às mudanças climáticas”, afirma. “Não é um desafio qualquer”.