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FAPESQ-PB, 30 ANOS

Fapesq-PB começou vendendo ideias de sala em sala

publicado: 06/03/2022 00h00, última modificação: 24/03/2022 19h55
A história dos primeiros passos da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba, que completa 30 anos em 2022
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A Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba foi fundada há 30 anos/ foto: arquivo pessoal
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Prédio da Fapesq-PB em construção/ foto: arquivo pessoal
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O então governador Cícero Lucena e o ministro de ciência e tecnologia, Israel Vargas, na inauguração/ foto: arquivo pessoal
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Lindolpho Dias, presidente do CNPq, e Geraldo Baracuhy, primeiro presidente da Fapesq-PB, na inauguração do prédio/ foto: arquivo pessoal
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Visita do então ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, à recém-inaugurada sede da Fapesq-PB/ foto: arquivo pessoal
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Renato Félix

 

“Essa fundação passou muitos meses funcionando através de uma portaria com a qual eu andava dentro da minha pasta. Era o que existia da fundação: a minha nomeação para criar toda uma logística para a existência dessa fundação. E o escritório dela era a minha sala na universidade”. Quem conta isso é Geraldo Baracuhy, primeiro presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB), falando sobre os primeiros dias da fundação, que completa 30 anos este ano. Este começo, partindo do zero, foi marcado pela luta para a instalação na prática do órgão, incluindo conseguir uma sede e funcionários, além de conseguir os recursos para financiamento dos projetos.

Baracuhy, como presidente, e Alexandre Moura, como diretor administrativo e financeiro, foram nomeados pelo então governador Cicero Lucena e trabalharam juntos para fazer a Fapesq-PB acontecer, a partir da lei estadual que instituiu a fundação: a Lei 5624, de 6 de julho de 1992.

“Na época, eu era um jovem de 39 anos. Num primeiro momento, não aceitei o convite”, lembra. “O campo de atuação era muito amplo, eu achava que não tinha a capacidade intelectual de assumir uma fundação dessa magnitude”. Ele foi convencido por Telmo Araújo, então presidente da Fundação Parque Tecnológico da Paraíba.

“Cheguei a ele e disse: ‘Estou até sem dormir à noite’. Ele me perguntou: E você acha que vai existir alguém com a capacidade de entender de tudo?’”, recorda. “E disse: ‘Isso faz parte. Foi por isso que eu lhe escolhi. Essa sua preocupação é sinônimo de responsabilidade’”.

“Telmo Araújo tinha sido um dos grandes articuladores dessa fundação”, afirma Baracuhy. “Cientista renomado no Brasil. Tenho a convicção de que ele deveria ter sido o primeiro presidente. Mas ele tinha a necessidade de formar novos líderes no campo da ciência e da tecnologia”.

Araújo acabou dando outra ajuda importante, ao ceder duas salas do Parque Tecnológico para a Fapesq-PB, com direito a funcionários e computadores. “A dificuldade que nós tínhamos nesse primeIro passo era ter uma pessoa para atender telefone, escrever, digitar, marcar agenda, fazer as formalidades dos convites”, conta. “Comecei a visitar algumas instituições do estado que tinham funcionários em Campina Grande para ver se conseguiria selecionar alguns funcionários do próprio Estado para organizar um pouco as coisas. Trouxemos umas três ou quatro pessoas. Alguns desses funcionários foram muito importantes e continuaram a vida na fundação durante décadas”.

A chegada da Fapesq-PB nesse cenário foi bem recebida pela comunidade científica e acadêmica. “Foi uma polvorosa”, lembra Moura. “A comunidade já pedia há muito tempo por essa fundação. A vantagem era a expectativa de todo mundo ajudar. E a desvantagem era a expectativa alta: a gente não podia errar”.

Um aspecto que já existia na época era a ação da Fapesq-PB para colocar academia, Estado e empresas trilhando o mesmo caminho rumo ao desenvolvimento da Paraíba. “Está no DNA da Fapesq essa colaboração com as empresas”, diz Moura. “A gente via o que acontecia lá fora, nos EUA, no Canadá, na Europa, na Ásia. A gente falava que era preciso apoiar o desenvolvimento local e gerar negócios”.

 

 

Conselho ajudava a definir projetos

 

Nesse começo, a Fapesq-PB não tinha recursos: não havia entrado ainda na lei orçamentária. “Era você vender a ideia visitando sala por sala. A principal ação era a visita mesmo”, diz Baracuhy. A busca por recursos federais acabou sendo uma solução para aquele primeiro ano.

“A gente tinha três linhas de ação. A primeira, era instalar. A segunda, ir atrás de recursos federais. A terceira, montar os programas que deveriam ser implantados”, enumera Moura. Para essa terceira linha, a ideia foi montar um conselho que pudesse analisar as propostas de financiamento.

“Haviam cinco grandes áreas na fundação: agricultura, engenharia, tecnologia, ciências da saúde, ciências sociais”, conta Baracuhy. “Comecei a selecionar pessoas para criar um conselho técnico e começamos a manter reuniões com esse grupo para definir as linhas de ação”.

Eram reuniões com 20 ou 30 pessoas de cada área, em uma verdadeira “brainstorm”. Mas havia também o que o primeiro presidente chama de carteira espontânea. “A gente tinha que deixar a porta aberta para novas ideias, sem um edital específico”, explica. “E o Tribunal de Contas do Estado questionou. Fui lá defender: ‘Como vou saber as melhores ideias que há no mundo?’”.

 

 

Prédio foi erguido pensando em sustentabilidade

 

“Como vamos fazer para dar visibilidade à Fapesq escondidos aqui em duas salas do Parque Tecnológico?”, se perguntava Baracuhy. “Vamos pensar em construir alguma coisa”. Assim surgiu a iniciativa da construção de um prédio que viria em 1994 a ser a sede da fundação, e onde ela está até hoje.

O terreno foi cedido pelo Parque Tecnológico, mas não havia dinheiro para a construção do edifício. A solução acabou vindo da Companhia de Desenvolvimento da Paraíba (Cinep).

“Comecei a dividir meu problema com campinenses que poderiam ajudar”, recorda. “E conheci Geraldo Dias, que era assessor de Abdias de Sá, diretor-presidente da Cinep, e pedi que nos arranjasse uma audiência”.

Dias conseguiu a audiência, mas tratou de avisar: Sá era um homem prático. Se ele concordasse com a ideia, o ideal era aproveitar para sair de lá já com algo assinado. “Ele me disse: leve uma planta, que, se ele autorizar, autoriza na própria planta”.

Não havia planta nenhuma, mas Baracuhy e Moura conseguiram produzir uma com um engenheiro e treinaram os argumentos para o “embate”. “Foi uma semana de planejamento para enfrentar Abdias”, brinca Baracuhy. Na reunião, pediram a Sá essa ação para a história da Paraíba. Quando o diretor-presidente da Cinep topou a empreitada, sacaram a planta do prédio e saíram de lá com a assinatura que viabilizaria a construção.

“Primeiro, a gente fez uma construção bastante espartana para ter um custo mínimo”, lembra Moura. “Usando tecnologias que na época estavam sendo desenvolvidas aqui em Campina Grande, o mais ventilado possível, pra não precisar ter ar refrigerado. E o mais eficiente possível com relação à iluminação natural”. São elementos que, 30 anos depois, estão na ordem do dia da arquitetura: a sustentabilidade no uso dos recursos naturais de iluminação e ventilação.

“Na época, os computadores precisavam de uma sala específica”, lembra Baracuhy. “Era necessário uma ambiente com ar condicionado... Eles tinham mais luxo que nós, seres humanos”. “Evidentemente, hoje, depois de 30 anos, muita coisa mudou e o crescimento da fundação já demanda mais espaço”, completa Moura.

Pouco antes da inauguração do prédio, ele recebeu a visita de Israel Vargas, então ministro da Ciência e Tecnologia. Na inauguração, em 21 de agosto, esteve presente Lindolpho Dias, presidente do CNPq, e Arlindo Almeida, secretário estadual de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia. E depois da inauguração, o ministro da Fazenda Rubens Ricúpero também visitou a Fapesq-PB.