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MEIO AMBIENTE

Expedição em reserva ecológica da PB reúne pesquisadores nacionais e internacionais

publicado: 25/07/2021 00h00, última modificação: 26/07/2021 10h46
Dados coletados podem ajudar a avaliar o risco de extinção das espécies por causa das mudanças climáticas globais
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Pesquisadores estudam fauna de répteis e anfíbios em Picuí/ foto: Valécia Estrela/ divulgação
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Pesquisadores estudam fauna de répteis e anfíbios em Picuí/ foto: Valécia Estrela/ divulgação
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Pesquisadores estudam fauna de répteis e anfíbios em Picuí/ foto: Valécia Estrela/ divulgação
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Equipe de pesquisadores em Picuí/ foto: Valéria Estrela (divulgação)
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Helda Suene

 

Um bioma muitas vezes visto com preconceito como pobre e estéril, a caatinga é o foco de estudo de um grupo de pesquisadores de universidades do Brasil e dos Estados Unidos que está em expedição pela Reserva Ecológica Olho D'água das Onças, localizada no município de Picuí, no seridó paraibano. Nove professores e alunos de graduação e pós-graduação de cinco universidades estão estudando a fauna de répteis e anfíbios da área. Eles integram o Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FapesqPB) e pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os pesquisadores estão capturando espécies para coletar material genético e tentar avaliar o risco de extinção dessas espécies considerando um cenário provável de mudanças climáticas. O projeto é intitulado “Passado, presente e futuro da caatinga: história, ecologia e conservação da herpetofauna frente às mudanças ambientais”, sendo herpetofauna a população de reptéis e anfíbios de uma área.

Com os conhecimentos produzidos e divulgados, a ideia é promover a conservação e uso sustentável da região: identificar padrões e processos da distribuição espacial e temporal da biodiversidade da caatinga; definir estratégias e ações; e formar recursos humanos altamente qualificados. O projeto está orçado em R$ 405.230,00 oriundos do CNPq e do Governo do Estado por meio da Fapesq.

“Nessa pesquisa a gente vai coletar dados genéticos para identificar como a distribuição das espécies de hoje em dia e a diversidade genética refletem nessas barreiras geológicas que existem na caatinga”, disse Daniel Mesquita, doutor em Ecologia Animal pela Universidade de Brasília (UnB), professor do curso de Biologia da UFPB e coordenador do projeto. A investigação vai analisar como as espécies estão interagindo, como se relacionam, do que se alimentam, quem se alimenta delas, em que época do ano cada espécie se reproduz, e se as populações estão aumentando ou não. Vai coletar também dados de parasitas dessas espécies, entre outras informações.

Uma das etapas do estudo em Picuí diz respeito ao mencionado “futuro da caatinga”: é nela que a pesquisa está mais debruçada no estágio atual. “Estamos coletando dados de ecofisiologia de anfíbios e répteis, analisando a temperatura máxima que os bichos podem resistir, para usar modelos de risco de extinção das espécies”, explica Daniel. “A gente sabe que o tempo está mudando de forma mais acelerada e essas mudanças têm consequências nas espécies, devido a limitação de oportunidades de termorregulação, porque o ambiente está ficando mais quente”. As espécies dependem da temperatura ambiental para controlar a temperatura do corpo: se fica muito frio ou muito quente, os animais tendem a ficar ativos por menos tempo. “Daí eles têm menos oportunidades para se alimentar e para encontrar parceiros e deixam menos descendentes. Isso pode fazer com que as populações fiquem menores, aumentando o risco de extinção”, explicou o pesquisador.

Para Roberto Germano, presidente da Fapesq, apoiar pesquisa de excelência como essa é pensar no futuro das espécies e também das pessoas. “A preservação do meio ambiente e da biodiversidade é fundamental para a humanidade, para o bem das gerações futuras. Por isso que a Fundação tem um olhar atencioso para os grupos de excelência que trabalham com a preservação do meio ambiente”, ressaltou Germano.

O Pronex prevê coletas em até seis localidades de caatinga. Já foram coletados dados na Serra Vermelha, no Piauí. O próximo destino pode ser o Parque Nacional Boqueirão da Onça, na Bahia – outros lugares ainda estão a definir. O projeto teve início em 2019 e se estenderá até o ano de 2022.

Além de Daniel Oliveira, o grupo de pesquisadores é composto por: Guarino Rinaldi Colli, doutor em Organismic Biology pela University of California, de Los Angeles (EUA); Frederico Gustavo Rodrigues França, coordenador do programa de pós-graduação em Ecologia da UFPB; Victor Hugo G. L. Cavalcante, professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI); Cecília Rodrigues Vieira, doutora em Biology – Insect Ecology na Utah University, de Logan (EUA); Paulo Eduardo Silva Bezerra, doutorando em Ecologia Animal pela UFRN; Tayná Barbosa Ferrari, doutoranda em Ecologia pela UNB; e Gabriel David Moura Figueiredo, graduando em Ciências Biológicas pela UFPB.

 

 

Caatinga ainda é pouco estudada

 

Apesar dos esforços nas últimas duas décadas, a caatinga ainda é pouco estudada e sua riqueza ainda subestimada. Mesmo assim são reconhecidas 3.150 espécies de plantas (788 endêmicas). Embora existam cerca de 183 espécies de mamíferos na caatinga, a riqueza do grupo é relativamente baixa quando comparada a outros. A avifauna é diversa, com cerca de 548 espécies conhecidas, distribuídas em 74 famílias, sendo que 91,96% se reproduzem na região.

Para a herpetofauna, atualmente estão descritas para este bioma cerca de 312 espécies, sendo 79 de lagartos, 10 de anfisbênias, 112 de serpentes, 10 de quelônios, três de crocodilianos e 98 de anuros (que é a ordem de sapos, rãs e pererecas). Isso sem contar com os remanescentes de florestas, como os brejos de altitude e outros tipos de paisagens, que certamente contribuem muito para o incremento da sua diversidade.

Esses números devem aumentar muito, uma vez que, de acordo com dados do projeto coordenado por Daniel Mesquita, 40% do bioma nunca foram investigados, e 80% permanecem sub-amostrados, mesmo com esforços recentes, e muitos grupos taxonômicos são na verdade complexos de espécies..

 

 

Pronex apoia pesquisadores consolidados

 

O Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) tem como objetivo apoiar a execução de projetos de grupos consolidados de pesquisas científica, tecnológica e de desenvolvimento, dando suporte financeiro à continuidade dos trabalhos desses grupos. É classificado como Núcleo de Excelência um grupo de pesquisadores com reconhecida competência e tradição em suas áreas de atuação, capaz de funcionar como fonte geradora e transformadora de conhecimento científico-tecnológico para aplicação em projetos de relevância para o desenvolvimento do país.

 

 

Picuí terá projeto de educação ambiental, executado pela Fapesq

 

Rubens Freire, secretário executivo de Ciência e Tecnologia do Estado, Roberto Germano, presidente da FapesqPB, e o deputado Buba Germano participaram do início da expedição na Reserva Ecológica Olho D’água das Onças, no dia 18. Na oportunidade, foi apresentado o projeto de Educação Ambiental que será desenvolvido na região, financiado com recursos provenientes de uma emenda parlamentar do deputado Buba – no valor de R$ 300 mil – e executado pela Fapesq. Trata-se de um projeto voltado para a capacitação das escolas da rede pública da 4ª Região de Ensino, em Picuí.

Também participaram do encontro Luciano Pacelli, diretor do Instituto Federal do Estado da Paraíba (IFPB), campus Picuí, e Jeane Martins, a coordenadora do curso de Agroecologia do IFPB, que apresentaram o projeto de Educação Ambiental. Além deles, estavam presentes Maricleferson Gomes, gerente regional da 4ª Gerência Regional de Educação do Estado da Paraíba; Maria Queiroz, mestre em Ciências Agrárias pela UEPB e membro da Reserva, além de alguns membros da Associação Trilhas na Caatinga de Picuí (que acompanham a expedição).