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Educação: Programa Ouse Criar inova em empreendedorismo

publicado: 18/06/2020 19h35, última modificação: 22/06/2020 11h34
Iniciativa conduz a comunidade escolar aos acontecimentos sociais e econômicos da localidade onde ela está inserida
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Campus Academy - foto 01
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Campus Academy - Iolanda e Giovania
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Campus Academy
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Márcia Dementshuk

 

A suspensão das aulas presenciais da Rede Pública de Ensino da Paraíba não impede que programas pedagógicos planejados para este ano sejam aplicados. O Ouse Criar é um deles, uma proposta de ações educacionais voltadas a um conceito diferenciado de empreendedorismo. Conduzem a comunidade escolar aos acontecimentos sociais e econômicos da localidade onde ela está inserida, a uma análise e à busca de soluções inovadoras e sustentáveis para os problemas identificados.

É um programa “ousado”, diferente e inédito na rede pública de ensino. Está sendo desenvolvido por especialistas da Secretaria de Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba desde 2017, primeiro com experiências piloto nas Escolas Cidadãs Integrais e Técnicas - o projeto adquiriu corpo, apresentou resultados positivos e agora, em 2020, no “ano da pandemia da covid-19”, começa a ser implementado remotamente, pela Internet, em todas as escolas públicas de Ensino Médio da Paraíba.

O Secretário Executivo de Gestão Pedagógica da Secretaria Estadual da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT), Gabriel Gomes, salienta que o Ouse Criar “traz uma visão real do conceito de empreendedorismo, não relacionando apenas à ação de ser empresário, dono de empresa, mas a situações da vida em que o estudante poderá empreender e ter soluções para sua vida pessoal. É natural que possa despertar vocação para o comércio, ou para os negócios, mas o objetivo da nossa educação é partir do princípio de que o estudante é o condutor de seu próprio processo, que aprenda a usar ferramentas de análise crítica e de gestão para que possa usar, inclusive, em o seu crescimento pessoal, tomar as decisões acertadas; ser protagonista de sua vida”.

De acordo com a coordenadora do programa Ouse Criar, Joedna Sabino, a pandemia forçou um breve adiamento no calendário das ações, já ajustadas: “No início, quando as aulas presenciais foram interrompidas, nós arregaçamos as mangas na Secretaria para adequar o programa a esse ‘novo normal’ imposto pela epidemia. Ao invés de barreiras, vimos oportunidades para desenvolver aptidões nas ferramentas tecnológicas que usaremos para aplicar o Programa. Elas já existiam, mas como não precisávamos usá-las, não sabíamos operá-las”.

 

Programa “Ouse Criar” propõe inovação

 

Pensando bem, para implementar o Ouse Criar foi preciso pôr em prática as orientações que o próprio programa apresenta: analisar o ambiente, detectar o problema e buscar uma solução inovadora. O programa é um bom exemplo do que pretende transferir aos estudantes.

Tome-se as escolas de Ensino Médio na Paraíba, são 455 ao todo (fonte: Plataforma Saber), agrupadas em 14 Gerências Regionais de Ensino: cada regional tem uma característica cultural e econômica singular. Portanto, a forma de executar a primeira fase do programa é diferente em cada localidade. Existem metas que devem ser cumpridas, objetivos comuns; mas a forma como cada escola cumprirá as metas não é rígida, ocorre de acordo com os recursos e facilidades. As ferramentas variam para alcançar o objetivo, o que já é um exercício de empreendedorismo para os gestores e professores, dentro do conceito explicado por Gabriel Gomes, quando empreender é um processo de aquisição de conhecimento para crescimento pessoal e profissional.

Antonio de Pádua Caetano de Lima  Sobrinho,  Assessor da Técnico 4ª Gerência Regional de Educação de Cuité, onde estão 17 escolas, falou como o programa está andando:

“Seguindo as recomendações do programa, cada escola indicou um professor para essa primeira etapa na escola. O professor divide a turma do 1º ano do Ensino Médio em grupos de 5 estudantes. Esses grupos são os times que trabalharão em propostas para solucionar os desafios.”

“Depois, o professor busca no município um ou mais profissionais dentro do arranjo produtivo local para interagir com os estudantes sobre sua atividade. As Gerências Regionais receberam três grandes eixos para selecionar a atividade profissional: 1) Soluções Governamentais; 2) Inovação e Desenvolvimento Regional; e 3) Tecnologias Sociais. Nós ficamos com o segundo, por isso, orientamos os professores a fecharem parcerias na agropecuária, no setor produtivo, especialistas da Empaer-PB, etc.”

“Eles farão lives com os estudantes e professores para contextualizar a atividade os problemas e essas lives ficarão gravadas para aqueles que não têm acesso no momento. Os times analisam os debates, conversam entre si, podem fazer contato com os profissionais… Muitos estudantes já vivenciam o tema, pois faz parte de seu dia a dia. Daí, passaremos para uma etapa na qual os estudantes entrarão em contato com as metodologias de gerenciamento, planos de negócios, canvas, entre outros e, enfim, estarão com subsídios para formularem soluções para os problemas apresentados”, explicou Antonio de Pádua.

Todos os contatos, reuniões, debates, conversas, serão feitos pela Internet, ou pelo telefone, usando o whatsapp, a rede social da escola, o Google Meet… As propostas de soluções dos grupos serão apresentadas através de um Pitch através de um vídeo de até 3 minutos. Especialistas irão avaliar as soluções mais inovadoras e aplicáveis; a maneira de se expressar no vídeo e outros critérios. A equipe com a melhor solução irá representar a escola na segunda etapa, que é a escolha de um time que representará a Regional.

Segundo levantamento realizado pela SEECT, as Gerências informaram que há uma disponibilidade dos estudantes para essa apresentação do Pitch remota. E ainda, para reforçar uma possível lacuna, a SEECT orientou a presença dos “mentores”, professores que acompanharão o desenvolvimento dos grupos e estarão atentos para as necessidades de recursos tecnológicos.

 

Proposta pedagógica se origina na Finlândia

 

O Programa Ouse Criar surge a partir de experiências pedagógicas vivenciadas por professores estaduais da Paraíba na Finlândia. As professoras Giovania Lira e Iolanda Cortez participaram da primeira turma do Programa Gira Mundo Professor, em intercâmbio para o país escandinavo, na Universidade de Tampere, em 2017. Atualmente elas trabalham como Analistas Pedagógicas de Projetos na Secretaria da Educação e da Ciência e Tecnologia, no desenvolvimento e aplicação do conceito ampliado de empreendedorismo.

“Nós entendemos que o empreendedorismo está relacionado com o desenvolvimento de vida. É o empreender com o ‘ser’. Como eu posso ‘ser’ um agente de impacto?”, explicou a professora Giovania Lira.

De volta ao Brasil, elas trouxeram uma proposta de produto pedagógico na área do empreendedorismo educacional e iniciaram estudos para adaptações ao contexto paraibano. As Escolas Cidadãs Integrais (ECIs) e as Técnicas (ECITs) passaram a empregar metodologias de ensino voltadas ao aprendizado do empreendedorismo a partir de 2017 e os resultados surpreendem ao observar-se as transformações de vidas dos estudantes.

“A proposta pedagógica com base no empreendedorismo é orientar o jovem na busca pelo que ele ou ela se identificam, o que querem fazer e o que precisam para realizar. E essa trajetória inicia com o sonho. O que o jovem sonha para sua vida?”, falam Iolanda e Giovania. A partir dessas experiências surge a disciplina “Colabore Inove” nas ECIs e o “Método ECIT”, nas Escolas Cidadãs Integrais Técnicas. Em seguida, são iniciados os programas de maratonas de empreendedorismo junto aos estudantes, o que leva à criação do “Ouse Criar”.