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Educação no Estado orienta jovens ao empreendedorismo
Empreender é mudar.
Normalmente, a palavra “empreender” está associada a “abrir uma empresa”, “negócios”, “capital”. Um conceito distante de um sonho de vida idealizado na juventude. Se o sonho de uma pessoa for ser artista? Se for ensinar? Ser inventor? O “ser” não seria um empreendedor? As experiências vividas por estudantes do Ensino Médio da rede pública da Paraíba comprovam que sim: o sonhador pode se tornar um empreendedor e realizar seu propósito de vida.
As Escolas Cidadãs Integrais (ECIs) e as Técnicas (ECITs) passaram a empregar metodologias de ensino voltadas ao aprendizado do empreendedorismo a partir de 2017 e os resultados surpreendem ao observar-se as transformações de vidas dos estudantes. Mas o empreendedorismo em questão é um pouquinho diferente do vago conceito que a maioria das pessoas conhecem.
“Depois de passarmos um período na Universidade de Ciências Aplicadas de Tampere, na Finlândia (TAMK, na sigla em Finlandês) entendemos que o empreendedorismo está relacionado com o desenvolvimento de vida. É o empreender com o ‘ser’. Como eu posso ‘ser’ um agente de impacto?”, explicou a professora Giovania Lira.
Giovania e Iolanda Cortez participaram da primeira turma de professores no intercâmbio para a Finlândia, na Universidade de Tampere, pelo Programa Gira Mundo, em 2017. Atualmente elas trabalham como Analistas Pedagógicas de Projetos na Secretaria da Educação e da Ciência e Tecnologia, no desenvolvimento e aplicação desse conceito ampliado de empreendedorismo.
Para o Secretário da Educação e da Ciência e Tecnologia, Claudio Furtado, o Programa Gira Mundo “abre uma perspectiva de inovação na Paraíba. Os participantes executam seus projetos ao retirnar para o Estado com uma bagagem diferenciada”. Os depoimentos das professoras e dos estudantes são a melhor maneira para contar como ocorreu essa transformação:
“Nós saímos da Paraíba com a proposta de voltarmos com um produto na área do empreendedorismo educacional; jamais imaginávamos que a nossa própria vida iria ser impactada com essa experiência”, revelou Giovania.
“O que normalmente acontece hoje: Vemos o jovem ingressar na universidade com, digamos, 19 ou 20 anos. Depois de acabar o curso, ele tenta se candidatar a vários empregos, demora a encontrar uma atividade com a qual ele se identifique ou nem encontra, fica desempregado e, só então, alguns deles partem para o ‘negócio próprio’. Mesmo depois da graduação, a maioria não sabe conduzir uma atividade empreendedora; ou não aprendeu, ou não tem experiência e, à essas alturas, já alcançou os 30 anos de idade, quando, depois de muitos erros, começa a encontrar o caminho - se for uma pessoa persistente.”
“A proposta pedagógica com base no empreendedorismo é orientar o jovem na busca pelo que ele ou ela se identificam, o que querem fazer e o que precisam para realizar. E essa trajetória inicia com o sonho. O que o jovem sonha para sua vida?”
“O sonho é diminuir a dor física, cuidar das pessoas, dos animais, do meio ambiente; é participar de conferências na ONU; é inventar novos sabores culinários, ou novas tecnologias? Onde está a sua realização? Essa resposta conduz a trajetória que o estudante deverá percorrer para realizar seu sonho. Mas nada é definitivo e, sim, ajustável, conforme as oportunidades se descortinam. As chances de oportunidades se abrirem quando se está direcionado nessa trajetória são muito maiores e aproxima o jovem da realização de seu sonho.”
“Assim, trazemos para os 20 anos de idade a realização do empreendimento encurtando em 10 anos essa trajetória.”
Novo conceito quebra estereótipos
Na Universidade de Tampere, os participantes do Programa Gira Mundo entenderam que empreendedorismo e competências estão relacionados a uma proposta de vida, aos problemas da comunidade, aos desafios de sustentabilidade. Giovania segue o relato:
“O estudante chega do Ensino Fundamental com o estereótipo daquele “ser” que tem que passar no Enem. Não temos mais um jovem engessado para fazer o Enem. Mas trabalhar por uma causa. Quando ele se dá conta de que ele tem a liberdade de formular um projeto de vida, dentro de várias possibilidades que ele pode ter, ele não aceita mais esse estereótipo. Ele trabalha com base no ‘eu no mundo’. Dá mais sentido para o jovem entender que ele pode ser um agente transformador no lugar onde ele vive - que a fome não está longe, mas, talvez, a família de colega dele esteja atravessando dificuldades e ele pode empreender na busca de uma solução. Quando o jovem muda o meio local, ele quer mudar o mundo, e ninguém mais o segura.”
A partir dessas experiências surge a disciplina “Colabore Inove” nas ECIs e o “Método ECIT”, nas Escolas Cidadãs Técnicas. Em termos gerais, os estudantes são conduzidos a elaborarem uma proposta para suas vidas que resultarão no seus empreendimentos.
Em seguida, Giovania e Iolanda começam a aplicar programas de maratonas de empreendedorismo aos estudantes, o que leva à criação do “Ouse Criar”. As maratonas culminaram no evento Campus Academy, um momento em que as equipes de estudantes formadas durantes as aulas no ‘Colabore Inove’ passam por experiências concretas.
Kelson Adrian - 18 anos - Egresso da Escola Cidadã Integral Severino Cabral, de Campina Grande
Conhecemos o empreendedorismo enquanto estávamos empreendendo; não apenas como um conceito literário. Jovens protagonistas - jovens empreendedores. No Campus Academy de 2018, aprendemos muitas ferramentas. Não sabíamos o que era um planejamento estratégico. Conhecemos o canvas, e era uma coisa que executamos e não algo teórico.
O incentivo dos professores foi muito importante, mostrando como éramos capazes quando ainda não sabíamos que éramos capazes.
Havia equipes na escola nas quais ninguém acreditava e elas deram um show. E isso não terminou aí, foi levado para as nossas vidas. Temos um projeto de vida. Ter experiências do empreendedorismo, como estudante e do Ensino Médio transformou o jovem que eu era para o jovem que eu sou hoje. Antes, tinha um jovem que não planejava, esperava as coisas acontecerem e não tinha tanta perspectiva de futuro, e agora tem um Kelson que planeja, que tem perspectiva de futuro bem maior.”
“Eu sou porque nós somos.” “Eu sou quem eu sou e estou onde estou porque há pessoas que também foram comigo.”
Estudante Jonathan Marques, da ECIT Presidente João Goulart, João Pessoa - 1º lugar em Ciência de Dados e IA 2020.1 na UFPB (cotas escolas públicas)
“Estava no segundo ano durante a primeira edição da Campus Academy, em 2018. A professora se reunia conosco em todos os intervalos, usava vídeo-aulas, trazia experiências e aprendemos as ferramentas. Uma delas, que mais gostei, foi a ‘Design Thinking‘ - ninguém conhecia a existência dessa ferramenta na escola. Elaboramos uma proposta com o uso da tecnologia no meio rural. Em 2019 eu fui mentor no Ouse Criar, que na época foi feito em algumas escolas. Aprendemos que empreender estava ligado a suprir uma necessidade. Aprendemos a identificar qual era o problema e se propor a resolver esse problema.”
Professora finlandesa se impressiona com desempenho de estudantes da PB
A professora Hanna Saraketo, facilitadora dos intercambistas na Universidade de Tampere, na Finlândia, trabalha no programa de graduação em Empreendedorismo e Liderança de Equipe com estudantes maiores de 18 anos. Após 3 anos e meio no programa onde estudam administrando seus próprios negócios, 37% deles continuam como empreendedores logo após a formatura; 100% deles estão empregados. Ela acompanhou a edição do Campus Academy em 2019 e disse que nunca viu tamanha intensidade de energia dos jovens:
“O evento da Campus Academy foi incrível e a atmosfera era enérgica. O evento funcionou muito bem para o seu grupo-alvo (jovens estudantes), e acredito que as empresas que deram os desafios obtiveram boas soluções e idéias para seus planos futuros.”
“O evento Campus Academy foi o maior hackathon para alunos do Ensino Médio e Técnico que já experimentei. Todos os hackathons têm suas especialidades; aqui apreciei o entusiasmo e a energia dos estudantes - e da equipe. Isso indica que a Paraíba tem uma mentalidade orientada para o futuro.”