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Eclipse raro acontece sábado e pode ser observado em diversos pontos da Paraíba

publicado: 08/10/2023 00h00, última modificação: 09/10/2023 12h18
Encontro Nacional de Astronomia será realizado de quinta a sábado em Araruna, mas também haverá eventos voltados para o eclipse anular em outras cidades

Há mais de 100 anos cientistas britânicos estiveram no Nordeste brasileiro para acompanhar um eclipse total do sol que se deu na região de Sobral, no Ceará. A intenção era fotografar a luz de estrelas ao redor do sol para corroborar a Teoria da Relatividade Geral. A expedição teve sucesso, inserindo o Brasil neste momento histórico da ciência. No próximo sábado, dia 14, ocorrerá outro eclipse do Sol visível no Nordeste e a Paraíba está em local privilegiado, no centro da faixa de visualização - mas, desta vez, será um eclipse anular. O fato atraiu a atenção de cientistas e amadores astrônomos que estarão reunidos no 23º Encontro Nacional de Astronomia (Enast), em Araruna, que começa na próxima quinta-feira, dia 12 e finaliza no sábado (14) com a observação do eclipse. O evento conta com o apoio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior. Mas outras cidades também já anunciaram eventos de observação.

O eclipse que acontecerá no sábado tem uma diferença com relação ao visto em 1919. Jamilton Rodrigues, professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e coordenador do 23º Enast, explica que em Sobral, “a gente teve um eclipse total, porque o disco da Lua cobriu completamente o Sol. O eclipse que vamos ter neste ano será um eclipse anular, porque a Lua estará mais longe da Terra. Quando está mais longe, o disco da Lua não consegue cobrir completamente o Sol e forma-se, então, o ‘anel de fogo’, um círculo brilhante ao redor dela”.

O eclipse poderá ser visto em todo o território brasileiro, mas os únicos estados que irão poder observar o ‘anel de fogo’ completo serão o Amazonas, Pará, norte do Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Os horários se diferem, conforme o local. Em João Pessoa a luz do dia começará a escurecer às 15h31min e a partir das 16h30 deverá estar como a noite.

No primeiro dia do Enast, os participantes poderão ir para o santuário de Nossa Senhora de Fátima, na Pedra do Letreiro, no Parque Estadual da Pedra da Boca, para a “Star Party”, uma atividade com exposição de meteoritos e uma noite de observações com telescópios. Haverá vários pontos de observações com orientações de astrônomos em Araruna: no campus da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB); na pousada do seu Raul, próxima ao mirante; na Pedra do Lagarto. No dia do eclipse, o fenômeno será transmitido em telões na praça central de Araruna, captado por câmeras instaladas no alto da torre da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

A Associação Paraibana de Astronomia (APA) divulgou alguns dos palestrantes do evento, como Carlos Alexandre Wuensche de Souza, pesquisador da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que vai falar sobre “Cosmologia, energia escura e o Bingo”, a respeito da colaboração científica que está construindo um radiotelescópio no município de Aguiar, com o apoio do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior. O professor Amilcar Rabelo de Queiroz, membro do grupo de coordenação do Bingo, também fará uma palestra.

O Enast está com as inscrições encerradas. Estão inscritos 650 participantes, um número limitado em função das acomodações na cidade.

 

Outros eventos pelo estado

 

Além do Enast, em Araruna, outros eventos serão realizados em outros pontos da Paraíba reunindo divulgadores científicos ou promovendo observações do fenômeno. O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) está promovendo eventos de observação em diversas cidades do Norte e Nordeste, sendo três delas paraibanas: Patos, Picuí e Sousa.

Em João Pessoa e Cabedelo, Sérgio Sacani, geólogo, professor e criador do Space Today, um dos maiores canais de astronomia do mundo, com 1,5 milhões de seguidores, será o anfitrião de eventos voltados para o eclipse. Ele recebe outros três divulgadores científicos de sucesso na internet – Pirulla, Schwarza e Paulo Cacella – para um workshop de observação noturna na capital (em lugar ainda a ser definido), na quinta; palestras sobre o Sol, na sexta, no Intermares Hall; e, no sábado, também a observação do eclipse em João Pessoa (em lugar ainda a ser divulgado).

Mas vai ser possível ver o eclipse anular do Sol até mesmo de casa: o canal no YouTube do Observatório Nacional, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (ON/MCTI), será um dos que transmitirão ao vivo o fenômeno (https://www.youtube.com/watch?v=SoS0tV61z9Y).

 

 

Eclipse no Nordeste ajudou teoria de Einstein

 

Foi durante a passagem da Lua entre o Sol e a Terra que cientistas da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Brasil fotografaram a luz de estrelas próximas ao Sol em 29 de maio de 1919, em Sobral, no Ceará, demonstrando que a trajetória da luz das estrelas “seria desviada ao passar por uma região com forte campo gravitacional, no caso o entorno do Sol”, ajudando a provar a Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein.

Jamilton Rodrigues contou a relevância do fato. “Em termos físicos, as fotos registraram a distorção da trajetória da luz pelo espaço quando ela é atraída pela gravidade, o campo gravitacional do Sol. Nessa época, Einstein tentava provar teoricamente que matéria e energia distorceriam a malha do espaço-tempo e, consequentemente, a trajetória da luz”.

A expedição científica internacional trouxe para Sobral os pesquisadores Charles Davidson e Andrew Crommelin, da Inglaterra. Dentre os brasileiros estavam Luiz Rodrigues, Theophilo Lee, Henrique Morize (então diretor do Observatório Nacional), Allyrio de Mattos, Domingos Costa, Lélio Gama, Antônio C. Lima e Primo Flores. Os ingleses trouxeram dois telescópios refratores, um deles retirado do Observatório de Greenwich. Outros cientistas e a população se juntaram em Sobral, como Daniel Wise e Andrew Thomson, dos Estados Unidos, mas estes não tinham como objetivo a comprovação da teoria de Einstein.

 

 

Eclipse atraiu astrônomos a Patos, em 1940

 

Em 1940, um eclipse do Sol atraiu expedicionários para o município de Patos. Cientistas estadunidenses vieram à cidade sertaneja observar o eclipse de 1º de outubro daquele ano em expedições organizadas pela National Geographic Society (NGS) e a National Bureau of Standards.

Antigamente, as expedições exigiam um planejamento rigoroso por causa da logística para o transporte e montagem de grandes instrumentos. Telescópios, máquinas de fotografia, de filmagem, aparelhos de medições, eram equipamentos grandes a serem transportados de navio. E ainda, havia preocupações com a condição sanitária e de saúde dos visitantes em locais, por vezes, inóspitos.

No dia do eclipse o céu ficou nublado em Patos. Ainda assim, foi possível realizar coletas de dados. O Sol apareceu por cinco minutos.

Patos ficou conhecida como a cidade da “Morada do Sol”, designado pelos cientistas estadunidenses por terem dito que o Sol “descansou” em Patos por cinco minutos, ou seja, veio para a sua morada.

Mas há que se acrescentar o início de uma abertura para as relações de cooperação, amizade e política externa entre Brasil e Estados Unidos através da ciência a partir dessa expedição a Patos.

 

Texto: Márcia Dementshuk e Renato Félix