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Cooperação entre Secretarias de Estado qualifica projeto de astronomia em presídio na Paraíba
O que já é bom pode ser melhorado? Uma parceria entre a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária da Paraíba (Seap) vai mostrar que sim. O projeto ‘Esperança no Espaço’, em que os reeducandos fabricam telescópios astronômicos na Cadeia Pública de Esperança, no Agreste do estado, une-se ao projeto de construção do ‘Radiotelescópio Bingo’, em andamento no Sertão.
Os pesquisadores e cientistas do Bingo irão compartilhar tecnologia e conhecimento. Eles irão atuar na qualificação científica do projeto Esperança no Espaço, que está em andamento e tem entre seus objetivos a produção de telescópios como produto didático para utilização em escolas e universidades.
Um telescópio com capacidade de aproximação e funções didáticas e de uso amador semelhantes aos que são produzidos pela equipe do projeto na cadeia pública de uma pequena cidade do interior da Paraíba é encontrado no mercado por cerca de R$ 3,5 mil. Os reeducandos e pesquisadores reduzem seu valor para cerca de R$ 700, garantindo qualidade e precisão.
A produção que acontece na oficina do projeto da Cadeia pública do município de Esperança não tem fins lucrativos. Os telescópios, construídos artesanalmente, serão doados para escolas e universidades públicas do estado. O projeto recebe apoio da Vara de Execuções Penais de Esperança.
O município de Esperança tem pouco mais de 31 mil habitantes. Fica ao norte de Campina Grande, cerca de 30 quilômetros. A partir de agora, o projeto “Esperança no Espaço”, encontra respaldo científico e tecnológico do projeto Bingo com a formalização do Termo de Protocolo entre a Secties e a Seap.
O secretário da Secties, Claudio Furtado, considera um avanço a união desses dois projetos: “Nós temos a perspectiva de montar laboratórios com mais tecnologia e equipamentos, uma estrutura apropriada para o trabalho de profissionais e para que mais reeducandos possam participar.”
Além disso, Claudio Furtado enfatizou que o trabalho compartilhado entre as Secretarias de Estado é essencial. “Porque estamos entrando como parceiro junto a um órgão que visa a segurança pública para inserir o conhecimento científico. Unidos somos mais fortes”, salientou.
“Por um lado, temos esse projeto que já está razoavelmente maduro, liderado pelo diretor da Cadeia Pública de Esperança (Lindemberg Lima). E, por outro lado, temos o projeto do radiotelescópio Bingo. O professor Cláudio Furtado, secretário da Secties, teve a ideia de juntar esses dois projetos e expandir as capacidades de cada um”, informou o cientista Amílcar Rabelo, um dos coordenadores do projeto Bingo.
O projeto do radiotelescópio Bingo é uma pesquisa em colaboração internacional que tem entre seus produtos a construção de um grande radiotelescópio no Sertão da Paraíba, na zona rural de Aguiar. O objetivo principal do Bingo é estudar a expansão do universo por meio da análise da matéria escura. Há também outros objetivos científicos de astrofísica, estudos de estrelas de nêutron, através de pulsares, buscas de explosões rápidas de rádio, trabalhos que se juntarão aos da comunidade mundial de radioastronomia.
Amílcar Rabelo, pesquisador da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e vinculado à Secties, destacou que o projeto Bingo tem características da ciência básica - o conhecimento sobre os fenômenos naturais, a matemática e as humanidades - além do viés educacional e de inovação. O projeto de Esperança integra o eixo do empreendedorismo científico a um esforço cívico de ressocialização de presos. Assim, a troca de experiências será edificante não só na parte de engenharia e ciências, mas também no empreendedorismo e formação humana.
O resultado deste encontro é o projeto ‘Bingo: Esperança no Espaço’ reunindo cientistas, educadores, professores de ciência social e comunicadores. A divulgação desse trabalho poderá repercutir na execução desta experiência em outros locais. “Esses dois projetos têm isso no DNA, levar a ciência ao povo e, através da ciência, a gente vai se tornando também melhores seres humanos. Porque a nossa preocupação passa a ser entender a natureza”, complementa Amílcar Rabelo.
Reeducandos recuperam cidadania
São os reeducandos que constroem os telescópios. Pessoas que, em algum momento da vida, se envolveram em crimes estão privadas da liberdade. É nesse ambiente que há oportunidade de aprender e produzir.
Eles frequentam aulas teóricas e práticas sobre astronomia e instruções para a construção de telescópios, aprendendo conceitos básicos de física, matemática e astronomia para entender o funcionamento de um telescópio e ter autonomia na construção de um telescópio no futuro.
Mas a seleção para participar é criteriosa, como explica o idealizador do projeto, Lindemberg Lima, diretor da cadeia: “Primeiramente, o reeducando tem que expressar o desejo de participar do projeto e sair pela porta da frente para se tornar um cidadão de bem. Nós vamos avaliando, no decorrer do trabalho, a conduta dele. A partir disso, nós damos a oportunidade”.
O diretor fala, ainda, que os candidatos são atraídos pela possibilidade de reduzir o tempo de permanência no presídio, a cada três dias trabalhados, é diminuído um dia na pena. Mas o ganho significativo vai além disso. “É aprender cidadania, a fazer algo de bom para a sociedade, se tornar uma pessoa produtiva. É uma forma de mostrar para o reeducando que é possível se regenerar através do conhecimento”, afirma Lindemberg.
Anthony Ramos, reeducando voluntário no projeto, conta sua experiência: “A gente tem a oportunidade de ter a mudança em nossa vida, redimir aquilo que foi feito lá fora e ser visto pela sociedade de uma forma digna. Estou buscando agarrar essa chance. É gratificante poder, mesmo dentro de um lugar como esse, a Cadeia Pública de Esperança, ter a oportunidade de aprender essa tecnologia, feita pelas nossas mãos, sabendo que será levada para as crianças, a população lá fora e os jovens”.
Termo de Protocolo prevê aprimorar a construção de telescópios
Com o Termo de Protocolo foi institucionalizado o projeto de pesquisa pela Sectiese lançado um edital, operacionalizado pela Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq), pelo qual torna possível a execução das ações previstas no termo. Entre elas, o aprimoramento dos processos na construção dos telescópios óticos, uma parte que envolve a engenharia e a ciência.
Outro viés é o da divulgação científica e a formação dos reeducandos, com a realização de dois cursos, sobre astronomia, ciência e a confecção de telescópios.
O projeto também visa a educação astronômica, o uso do equipamento pelas pessoas nas instituições que recebem essas doações. A intenção é fazer com que o produto seja acompanhado de um manual de boas práticas, explicando como usar o telescópio, quais os cuidados como não olhar diretamente para o sol, como encontrar um astro no céu, noções de ciência e astronomia, entre outras dicas. Além disso, o edital prevê também a realização de ações de divulgação popular da ciência e comunicação.