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MEIO AMBIENTE

Consultor da ONU fala à Paraíba sobre mudanças climáticas em live nesta quarta

publicado: 12/04/2022 00h00, última modificação: 12/04/2022 17h21
Clayton Campagnolla, diretor da Divisão de Produção e Proteção Vegetal da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), é o convidado da terceira edição da série de lives A Consciência pelo Conhecimento
Divulgação

Clayton Campagnolla/ foto: Roberto Cenciarelli/ divulgação FAO

 

 

 

Renato Félix

 

Clayton Campagnolla, consultor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), fala à Paraíba nesta quarta-feira, dia 13 de abril, às 18 horas. É a terceira edição do ciclo de lives A Consciência pelo Conhecimento, que tem as mudanças climáticas como tema central. O debate é promovido pelo Governo do Estado, através da Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia, e terá a participação também de Daniel Benitez Ojeda, gerente executivo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da SEC&T.

O assunto desta terceira live é justamente “efeitos das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos” e ela será transmitida mais uma vez pelo canal da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia no YouTube.

Campagnolla também foi presidente da Embrapa e, na FAO, atualmente é diretor da Divisão de Produção e Proteção Vegetal. Ele vai falar de suas experiências na promoção da agricultura familiar e pela produção sustentável de alimentos. “Há vários eventos climáticos que interferem na produção de alimentos em todas as partes do planeta, como, por exemplo, o calor, as secas, as enchentes e inundações e os ciclones e tempestades, que estão se tornando mais frequentes”, conta ele. “Já se constatam muitos efeitos das mudanças climáticas na produção de alimentos com queda de produtividade e perda nas lavouras e pecuária, assim como na pesca e aquacultura”.

Para ele, os agricultores familiares tendem a ser mais afetados pelos efeitos do aquecimento climático porque não possuem capacidade econômico-financeira para recuperação após a ocorrência de eventos climáticos extremos como é o caso de tempestades, chuvas de granizo, geadas, ciclones e seca prolongada. “Além disso, suas limitações tecnológicas e a carência de um sistema de assistência técnica e extensão rural tendem a agravar situações emergenciais”, afirma.

“Por outro lado, como um grande contingente de agricultores familiares adotam sistemas produtivos diversificados e aplicam os princípios e práticas da produção ecologicamente sustentável, sua adaptação e resiliência às mudanças climáticas tendem a ser maiores quando comparados com os sistemas de monocultivo em grandes áreas adotados pelos produtores mais capitalizados”, prossegue. “Entretanto, se o aquecimento global não for controlado e continuar aumentando, os processos produtivos da agropecuária terão que sofrer profundas transformações para continuar atendendo às demandas de uma população crescente”.

Após a exibição ao vivo, o debate permanece online no canal da Seect para ser assistido ou reassistido. A primeira edição, com Paulo Artaxo, integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), e a segunda, com Patricia Pinho, diretora científica adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), seguem disponíveis no canal.

 

LEIA A ENTREVISTA:

 

O tema da sua live será o efeito das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos. Quais são suas impressões sobre esse assunto?

Há vários eventos climáticos que interferem na produção de alimentos em todas as partes do planeta, como por exemplo o calor, as secas, as enchentes e inundações e os ciclones e tempestades, que estão se tornando mais frequentes. Já se constatam muitos efeitos das mudanças climáticas na produção de alimentos com queda de produtividade e perda nas lavouras e pecuária, assim como na pesca e aquacultura.

Esses efeitos tendem a se agravar com a elevação da temperatura, tornando seus impactos ainda mais imprevisíveis se o aquecimento for maior que 2 °C em relação ao nível pré-industrial. É bom lembrar que os impactos vão além dos econômicos. Pode haver alteração de serviços ambientais que interferem na agropecuária devido à perda de biodiversidade, como a polinização e controle natural de pragas e doenças de plantas e animais, disponibilidade de água para irrigação, degradação de solos com consequente desertificação, e diminuição da qualidade dos alimentos devido à presença de toxinas, por exemplo.

Também pode haver impacto na saúde, uma vez que alguns estudos mostram que as mudanças climáticas reduzem o teor de alguns minerais como o ferro, o zinco e o cálcio, assim como o conteúdo de proteínas no trigo, arroz e batata. Quanto aos impactos sociais, ele será maior nos mais vulneráveis, que já enfrentam dificuldades de acesso aos alimentos por falta de renda, haverá menor perspectiva dos mais pobres consumirem alimentos saudáveis e forçará a migração de agricultores familiares, acentuando a desigualdade. 

 

Quem sofre mais com os efeitos das mudanças climáticas: a agricultura familiar ou o agronegócio? Dá pra afirmar algo nesse sentido?

Os agricultores familiares tendem a ser mais afetados pelos efeitos do aquecimento climático porque não possuem capacidade econômico-financeira para recuperação após a ocorrência de eventos climáticos extremos como é o caso de tempestades, chuvas de granizo, geadas, ciclones e seca prolongada. Além disso, suas limitações tecnológicas e a carência de um sistema de assistência técnica e extensão rural tendem a agravar situações emergenciais.

Por outro lado, como um grande contingente de agricultores familiares adotam sistemas produtivos diversificados e aplicam os princípios e práticas da produção ecologicamente sustentável, sua adaptação e resiliência às mudanças climáticas tendem a ser maiores quando comparados com os sistemas de monocultivo em grandes áreas adotados pelos produtores mais capitalizados. Entretanto, se o aquecimento global não for controlado e continuar aumentando, os processos produtivos da agropecuária terão que sofrer profundas transformações para continuar atendendo às demandas de uma população crescente.

 

Há áreas do Brasil cuja produção de alimentos já está afetada significativamente pelas mudanças climáticas?

Com o aquecimento global há a tendência de uma realocação geográfica de muitos cultivos porque muitas variedades de plantas atualmente cultivadas não são tolerantes à seca ou ao excesso de umidade. A pecuária também será impactada, pois o calor impacta o bem-estar animal diminuindo sua produtividade, bem como aumenta a incidência de doenças. A agricultura brasileira tem sofrido com os extremos climáticos: muita chuva ou muita seca. Nos últimos anos, os extremos climáticos têm se tornado mais frequentes.

No ano passado, por exemplo, tivemos chuvas nas regiões norte e nordeste, enquanto nas regiões centro-oeste e sudeste houve o oposto, com seca acentuada deixando os mananciais com níveis muito baixos. Essas variações bruscas de clima produzem efeitos diretos e indiretos na agricultura e na produção de alimentos. O desmatamento da Amazônia não é a única causa, mas contribui para as secas principalmente na região sudeste, pois com o corte de árvores há redução da água que vai para a atmosfera, reduzindo os efeitos dos chamados “rios voadores” que transportam a água pelas correntes de vento para outras regiões.

Também devemos lembrar que o manejo inadequado dos solos na agricultura tem contribuído para a degradação dos solos, podendo levar à desertificação, assim como o uso intensivo de agroquímicos têm levado à contaminação das águas e dos solos e à intoxicação ou até morte de humanos e animais.