Consórcio NE busca garantir vacina contra covid na região

Enquanto os brasileiros vivenciam a influência das questões políticas sobre decisões que envolvem sua saúde e sobrevivência em meio à pandemia de coronavírus, nos Estados Unidos o presidente eleito Joe Biden afirma que “ouvirá os cientistas” e destacou pesquisadores renomados para formar um conselho consultivo para o combate à covid-19. Entre eles, é sempre importante mencionar, está a pesquisadora brasileira, Luciana Borio.

Ao confrontarmos a gestão feita até agora da crise sanitária causada pela  covid-19 nos Estados Unidos e aqui no Brasil, encontramos muitas semelhanças, especialmente com relação à ausência de um gerenciamento coordenado, em todo o país. Biden demonstrou ter uma postura diferente.

Analisar a iniciativa de Biden remete à atitude tomada pelo Consórcio Nordeste quando, em abril deste ano, instalou um Comitê Científico de Combate ao Coronavírus, uma entidade independente que atua em análises científicas da covid com base em dados. O ex-Ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende coordena o Comitê Científico do Nordeste ao lado do neurocientista Miguel Nicolelis. Assim como os coordenadores, os representantes dos estados no comitê foram indicados pelos governadores. Desde então, este comitê já emitiu 12 boletins com recomendações a cada estado do Nordeste para o controle da pandemia. 

O Consórcio Nordeste mantém articulação com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Segundo Rezende, na última terça-feira, o presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias, os coordenadores do Comitê Científico do Nordeste e outras autoridades se reuniram com Jarbas Barbosa, vice-diretor-geral da OPAS. Nesta reunião Jarbas informou que o Brasil entrou, depois de muita relutância, em um programa da OPAS relativo à vacinas. 

Há 10 vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento adiantado no mundo, na fase 3. Assim, quando as vacinas estiverem aprovadas pelos órgãos de controle e disponíveis a OMS vai garantir vacinas para as equipes de saúde e outros grupos de risco, em fase inicial, para os países integrantes. A OMS só pode fazer acordos em nível federal, não por regiões. Dessa forma, o Consórcio Nordeste reforçou o pedido à OPAS de forma a garantir, junto ao Governo Federal, o atendimento aos estados do Nordeste. A expectativa, segundo a OPAS, é que tenha vacina pronta entre março e abril de 2021.

Sérgio Rezende ressaltou que “há cerca de três meses, 35% dos infectados de todo o Brasil eram do Nordeste, sendo que a fatia da população dessa região é de 27% com relação à população brasileira. Ora, estávamos numa situação desconfortável com alto número de infectados. Contudo, os governos estaduais nordestinos tomaram várias decisões baseadas em recomendações do comitê  científico e  hoje o percentual de casos de covid do Nordeste é de 26%.”

Ele continua: “O Nordeste registra historicamente índices altos de desigualdade social e indicadores econômicos piores do que as outras regiões do país, o fato de ter-se um número percentual de casos menor do que o percentual da população é um indicativo de que o Nordeste atuou de maneira melhor do que o país, como um todo.”

Esta é a relevância da presença de cientistas junto aos gestores políticos, como é o caso dos comitês ou conselhos consultivos formados por especialistas. Rezende observou que nos Estados Unidos, nas últimas semanas, antes da eleição, houve um fato inédito “que eu não vi em eleições anteriores: cientistas da maior importância assumiram posição a favor de Biden. Durante a gestão de Trump, mais de uma vez houve corte no orçamento para o desenvolvimento científico, o que foi revertido pelo Congresso”.

Por Márcia Dementshuk