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Ciência por trás das paredes: como a Paraíba transforma museus em espaços vivos de educação, identidade e inovação
Você sabia que antes mesmo de um museu ser construído a ciência já está em ação? Na Paraíba, cada nova instituição museológica nasce de um minucioso trabalho de pesquisa, tecnologia e articulações institucionais. Neste 18 de maio, celebramos o Dia Internacional dos Museus, uma ferramenta importante e estratégica para aproximar a população da ciência e da pesquisa.
Por trás das paredes e vitrines estáticas, existe um universo dinâmico de pesquisa e planejamento. E, na Paraíba, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties), vem consolidando esse processo como política pública, transformando museus em instrumentos de letramento científico e turismo estratégico.
O tema proposto pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) para o Dia Internacional dos Museus deste ano é: “Museus, educação e pesquisa em uma comunidade de rápida transformação”. E é isso que a Secties tem buscado promover. Segundo o secretário Claudio Furtado, a imagem tradicional do museu como espaço estático precisa ser atualizada: “Do ponto de vista da ciência, um museu só é interessante se provocar o retorno do visitante. É preciso dinamismo, formação de pessoal, pesquisa ativa e acordos estratégicos.”
Ele destaca que, antes mesmo da inauguração de um museu, existe toda uma engrenagem de planejamento, envolvendo especialistas em museologia, arqueologia, paleontologia, astronomia e educação. “É um trabalho invisível, mas essencial. São profissionais que analisam acervos, estabelecem parcerias internacionais, formam pesquisadores, catalogam artefatos e constroem narrativas fundamentadas cientificamente.”
O Complexo Científico do Sertão é um dos instrumentos utilizados pela Secties para realizar esse trabalho. Com museus de Paleontologia em Sousa, Arqueologia em Cajazeiras, Astronomia em Carrapateira e o radiotelescópio BINGO em Aguiar, o projeto cobre um recorte histórico e territorial da Paraíba.
“A ideia é contar a história do território, dos dinossauros até os povos originários. Os museus precisam estar em consonância com as demandas da sociedade paraibana. Temos pesquisas de ponta, mas elas não chegam à população. Os museus cumprem esse papel de visibilizar o conhecimento”, afirma Maira Dias, museóloga responsável pelos projetos museológicos do Complexo Científico do Sertão.
Essa mesma estrutura está presente em outros projetos: o Museu do Horizonte, que será criado no Parque Tecnológico Horizontes de Inovação, no Centro Histórico de João Pessoa, onde vai reunir temas como mudanças climáticas, ciência e futuro. A Paraíba também mantém acordos internacionais com museus como o MUSE, na Itália, além de parcerias com instituições como Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Casa de José Américo.
Popularização da ciência
A partir dessa visão, a Secties tem estruturado políticas que conectam ciência, educação e cultura, reconhecendo a diversidade de saberes como um dos maiores ativos do estado. A ampliação e o fortalecimento da infraestrutura museológica, aliada ao estímulo à pesquisa e à popularização científica, têm sido caminhos estratégicos para promover um desenvolvimento mais justo e sustentável.
Para o secretário Claudio Furtado, o papel dos museus vai muito além da preservação da memória. Eles se tornaram ferramentas estratégicas de educação científica, principalmente em um estado que aposta na interiorização do conhecimento como forma de inclusão. Segundo ele, a atuação da Secties tem buscado consolidar esses espaços como polos de transformação social e democratização do acesso à ciência.
“A ciência precisa estar onde as pessoas vivem. Isso significa investir em espaços acessíveis, conectados à realidade de cada território. Quando levamos centros científicos e museus ao Sertão, por exemplo, não estamos apenas promovendo educação – estamos gerando pertencimento, oportunidades e visibilidade para saberes muitas vezes invisibilizados”, disse o secretário da Secties.
Ele também destaca que a agenda dos museus está diretamente ligada aos desafios contemporâneos e às metas globais de desenvolvimento sustentável. Para Claudio Furtado, museus que dialogam com as questões do presente tornam-se ainda mais relevantes no projeto de futuro que a Paraíba vem construindo. “Os museus têm um papel fundamental na promoção da educação de qualidade, na valorização das culturas locais e na redução das desigualdades regionais. Eles integram a política pública de ciência e tecnologia como agentes ativos do desenvolvimento. É por isso que apoiamos esses espaços: porque acreditamos que não há inovação sem inclusão.”
Os museus são instituições de memória. Para Maira Dias “eles organizam nossos processos identitários, inclusive os científicos. Guardam a história da ciência em processo, mostrando que ela não é algo estático, mas em constante desenvolvimento. A gente não consegue olhar para o futuro sem entender o passado. E o museu proporciona essa vivência. Ele não é apenas uma vitrine, é um espaço de experiências marcantes”.
A especialista ressaltou que, além da ciência e da memória, os museus têm o papel de refletir as escolhas políticas e sociais do presente. “O museu que precisamos hoje é aquele que dialoga com as mudanças climáticas, com o combate à xenofobia, à desigualdade e ao negacionismo. A juventude precisa se apropriar desses espaços, entender por que essas histórias estão sendo contadas e que outras histórias podem ser incluídas."
Na Paraíba, o museu do futuro está sendo construído hoje, com pesquisa, escuta das comunidades, memória e tecnologia. “É preciso ocupar esse lugar de contar a história da Paraíba de forma plural e acessível. Os museus ajudam as pessoas a se reconhecerem, a valorizarem sua terra e a conhecerem a ciência produzida aqui”, concluiu Maira Dias.