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MERCADO
Cachaças paraibanas querem ganhar o mundo
Renato Félix
A Paraíba virou a capital da cachaça neste fim de semana, com a realização do II Seminário e Feira de Cachaças do Brasil – o Brasil Cachaças, realizado de 20 a 22 de outubro. O evento reuniu, no Espaço Cultural, em João Pessoa, pesquisadores e estudiosos da bebida destilada, além de produtores e compradores de vários estados brasileiros e do exterior. A Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq-PB) é uma das instituições parceiras e participou com a apresentação de estudos e das rodadas de negócios, através de empresas participantes do edital Tecnova e do núcleo Peiex-PB.
O Tecnova é o edital destinado a apoiar o desenvolvimento de empresas inovadoras. E o núcleo Peiex, uma parceria com a Apex Brasil, seleciona e ajuda empresas a se prepararem para competir no mercado exterior. Isso se mostrou fundamental no evento, já que uma das ações mais importantes foi a rodada internacional de negócios, onde compradores do exterior sentaram frente a frente com produtores brasileiros que mostravam seus produtos. A rodada de negócios foi organizada pelo Instituto Brasileiro de Cachaças (Ibrac) em associação com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). O núcleo Peiex da Paraíba é uma ação em conjunto da Apex com a Fapesq-PB.
“Tivemos aqui oito produtores que foram treinados pelo núcleo Peiex, bem como os demais produtores da região, uma vez que este núcleo, que vem sendo desenvolvido aqui na Paraíba atende a todo o Nordeste do Brasil”, afirma Roberto Germano, presidente da Fapesq-PB. “Nós temos aqui, além de compradores internacionais, jornalistas que estão destacando a capacidade da Paraíba e do Nordeste para produzir produtos de boa qualidade e abrir o mercado para exportações”.
Nove cachaças atendidas pelo núcleo Peiex da Paraíba participaram da rodada internacional de negócios: GranRaiz (PB), Matuta (PB), Peri Peri (RN), Preciosa do Vale (PB), Princesa do Brejo (PB), Sanhaçu (PE), Triumpho (PE), Triunfo (PB) e Volúpia (PB). No total, 22 empresas participaram dessa rodada internacional de negócios.
“A cachaça é uma bebida genuinamente brasileira e a gente está posicionando a cachaça não só como um ingrediente de bebida”, conta Laudemir André Muller, da Apex Brasil. “Claro que ela pode ser consumida numa caipirinha , mas também pura. Pra esse tipo de posicionamento da cachaça tem muito mercado e muitos apreciadores de destilados que estão começando a entender esse posicionamento da cachaça brasileira”.
Para ele, o potencial é grande, mas é preciso que o produto seja de qualidade e o produtor esteja preparado para o mercado internacional. “E é esse trabalho que a Apex vem fazendo: de um lado gerar essa oportunidade, trazendo os compradores internacionais, mas também levar as empresas brasileiras que estejam preparadas para aproveitar essas oportunidades”, diz Muller.
No total, o II Brasil Cachaças contou com a participação 60 cachaças, sendo 23 da Paraíba e outros representantes dos estados de Pernambuco, Alagoas, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. O evento foi patrocinado pela Prefeitura de João Pessoa e teve como parceiros colaborativos o Governo do Estado da Paraíba, a Fapesq-PB, a Fecomercio-PB, o Sebrae-PB, a Prefeitura de Cabedelo, o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), a Associação Paraibana de Produtores de Cachaça de Alambique (Aspeca) e a Associação de Produtores de Cachaça de Areia (APCA). E contou com parceiros técnicos como a Apex Brasil e o Núcleo Operacional Peiex-PB e associações de produtores.
Abertura no rio, debates no Espaço Cultural
A abertura do evento não aconteceu no Espaço Cultural, mas num passeio de barco pelo Rio Paraíba, partindo da Praia do Jacaré. Vestidos de branco, produtores, compradores e convidados confraternizaram e puderam degustar das bebidas que participavam do evento. “Essa escolha foi dar um clima de celebração mesmo”, conta Fernanda Melo, arquiteta e urbanista que é, também, a promotora da Brasil Cachaças. “Todo mundo de branco, celebrando a paz com produtores, associações, empresas”.
Carlos Lima, diretor executivo do Ibrac, também participou do passeio. “Nossa expectativa é, além de dar visibilidade à cachaça como um produto genuinamente brasileiro, é a geração de negócios para as empresas que participam da Brasil Cachaça e, principalmente, da rodada de negócios internacional”, disse. “Trouxemos sete compradores internacionais”.
Nos dias seguintes, no Espaço Cultural, foram debatidos temas como a tributação da cachaça, requisitos de acesso a mercados internacionais, o mercado na Paraíba e no Brasil, metodologia para determinar o grau de envelhecimento da cachaça, fermentação, harmonização da cachaça na gastronomia, entre outros.
Evento reconhece destaque da Paraíba
A realização da Brasil Cachaças na Paraíba é um reconhecimento ao mercado crescente da produção da bebida no estado, segundo Carlos Lima, do Ibrac.
“Eu acho que a Paraíba é um estado que vem se destacando no cenário nacional de produção de cachaça. A gente vê aqui o surgimento de novas marcas, novos produtores entrando nesse mercado”, afirma. “É uma região em que a cachaça desempenha um papel importante na geração de emprego e renda local. Um atrativo turístico: você tem aqui uma região muito famosa, que é a região de Areia, pela produção de cachaça. Então a Paraíba tem tudo e merecia ter um evento de peso desses”
O potencial das cachaças paraibanas motivou o Governo do Estado, através da Fapesq-PB, a investir no setor. Não apenas no apoio à reaização de eventos como o Brasil Cachaças, mas também em pesquisas destinadas a compreender o produto e ajudá-lo a se tornar cada vez melhor.
A Fundação lançou um edital contemplando três linhas de ação para o estudo da cachaça paraibana. Uma voltada para a parte das leveduras, que procurando identificar, isolar e caracterizar as leveduras provenientes das produções das cachaças paraibanas. Esse conhecimento pode ajudar a melhorar a produtividade e a qualidade do produto, através do aumento do controle do processo de fermentação, além do desenvolvimento de cachaças especiais.
Outra linha é voltada para a questão físico-química das nossas cachaças com um levantamento em todas as unidades produtivas da paraíba. A ideia é ajudar no controle de qualidade da bebida e para obtenção do selo de denominação de origem. A denominação de origem consiste no reconhecimento geográfico, em que as características de um produto são consideradas únicas.
E uma terceira linha é voltada para a questão sensorial da cachaça, definindo as características tanto em relação aos gostos básicos (doce, salgado, ácido, amargo e umami), as sensações ao consumir o produto (amadeirado, alcoólica, aveludado, adstringente, etc.), e em relação ao visual, cor, corpo, cristalinidade, aos aromas.