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Agricultura familiar e abastecimento rural marcam discussões da etapa Borborema do Painel de Mudanças Climáticas
A segunda etapa do Painel Paraibano de Mudanças Climáticas, realizada na região da Borborema da Paraíba, teve como pauta principal a agricultura familiar e o abastecimento rural. O evento aconteceu ontem (22) e reuniu cerca de 120 participantes, entre estudantes, professores, pesquisadores, gestores e representantes de instituições, no auditório da UEPB, em Monteiro.
Dividido em dois momentos, a reunião foi bem dinâmica e os estudantes participaram ativamente. Para a coordenadora do Painel, a consultora técnica ambiental da Secties, Simone Porfirio, os alunos deram uma verdadeira aula de interesse sobre os temas propostos. “Eles lotaram o auditório e à medida que íamos falando, queriam perguntar. Os alunos questionaram e um complementava a pergunta do outro. Ficou bem interessante e motivou todos da mesa, que tinha representantes de várias instituições”, comentou.
Durante a etapa de debates técnicos entre especialistas e representantes de instituições, cada um pode trazer a sua visão e expertise sobre o assunto para o diálogo. “Isso enriqueceu bastante a discussão. As temáticas foram variadas, mas o que se destacou mais foi a agricultura familiar e principalmente o uso da água, que é bem forte aqui em Monteiro por causa da transposição do Rio São Francisco”, completou Simone.
Uma das questões colocadas pelos estudantes e especialistas é a relação do homem do campo com a natureza. É possível conciliar a sobrevivência desse grupo com a preservação do meio ambiente? Segundo os especialistas que participaram da discussão isso só pode virar realidade através de ações educativas com agricultores.
Para Clemilda Inácio da Silva, representante das comunidades rurais de Monteiro, muitos agricultores não têm consciência do dano que é causado ao meio ambiente, além de não ter outras opções para a sua geração de renda. “A gente percebe que muitos homens e mulheres da zona rural são vistos como vilões do meio ambiente. Quando, na verdade, a gente entende que eles vivem e fazem aquilo porque não tem outra forma. Meu pai fazia carvão, mas era a única fonte de renda que ele tinha, não tinha tanta opção na época. Mas ao mesmo tempo nós estamos agredindo aquilo que é o nosso maior aliado. Então sempre defendo associar as duas coisas, defender o meio ambiente com a parte de geração de renda, mostrando ao agricultor que é possível preservar e também gerar renda”, disse.
A estudante de ensino médio Pétala Luany, de 17 anos, ressaltou a importância que eventos como esse aconteçam no interior do Estado. “O painel foi muito legal, a proposta de falar sobre as mudanças climáticas é muito importante, para gente já que é uma área que não se fala tanto, porque grande parte dessas palestras vão para Capital e achei muito crucial. Uma das falas que me chamou atenção é que o homem pode ter tudo, só que se ele não tiver comida ele vai desmatar, vai fazer o que for preciso em troca de alimento”, pontuou.
O gerente regional da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer) no Cariri, Walmir Azevêdo, explicou como é realizado o trabalho com os agricultores familiares na região para conscientizá-los e mitigar os danos. “A gente sabe que de fato é como meio de sobrevivência, as famílias tem que desmatar pra poder vender madeira, para poder fazer carvão e poder ter o dinheiro da sua feira, para sua subsistência. Então a gente incentiva o plantio principalmente de mudas frutíferas, porque já ajuda na sua alimentação e isso são fatores que a gente trabalha em toda a região”.
Especialistas reforçam a importância do debate climático
A professora Alecksandra Vieira, coordenadora do laboratório de Ecologia e Botânica (Laeb/CDSA) da UFCG, ressaltou que o painel sobre mudanças climáticas é extremamente relevante, principalmente nesse cenário do Cariri. “Nós observamos uma região onde está crescente o grau de degradação. Então falar sobre essas mudanças é estratégico porque cria um cenário de mobilização, difusão do conhecimento para que os atores sociais possam pensar sobre e reverter a degradação”, disse.
O representante da secretaria de agricultura e meio ambiente de Monteiro, Ricardo Oliveira, comentou que a discussão desenvolvida no painel irá contribuir para o desenvolvimento do município. “É muito interessante aqui para a nossa região que a gente discuta essa questão, porque a gente convive com a seca. Então esse tipo de movimento, de reuniões, discussões é justamente para melhorar o nosso desenvolvimento e nosso desempenho”.
O professor de matemática da Escola Cidadã Integral Manoel Alves Campos, no município do Congo, Tiago Alves, foi um dos participantes do painel que contribuiu com perguntas e observações. “Estamos trabalhando com horta na escola então decidimos que era importante vir ao painel, porque é muito bom essa troca de informação e conectar com outros órgãos para que a gente possa trocar experiências”.
A Mesa do Painel foi composta por Edvânio Maciel, analista técnico do Sebrae; Ricardo Oliveira, representante da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Monteiro; professor João Hely Gonçalves Bezerra; Antonio Alberto de Albuquerque, representante do Empaer-PB, Serra Branca; José Augusto de Souza, educador corporativo da Cagepa Borborema; Clemilda Inácio da Silva Bezerra, representante das Associações Rurais, de Monteiro; Ericson Nobrega Torres, professor do Instituto Federal da Paraíba; Alecksandra Vieira de Lacerda, professora da Universidade Federal de Campina de Grande; Ilton Neto, secretário de meio ambiente de Serra Branca; Walmir Azevedo gerente regional da Empaer Cariri.
Sobre o Painel – A ação é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio das Secretarias de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties) e do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), e visa ouvir a população acadêmica e a comunidade local na busca de soluções sustentáveis para os impactos climáticos.