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ENTREVISTA

A rede de conexões dos cérebros humanos e seu papel na evolução

publicado: 17/11/2020 00h00, última modificação: 24/11/2020 11h47
O pesquisador Miguel Nicolelis falou sobre o assunto na live ‘Horizontes da Inovação’, disponível no canal da Fapesq no YouTube
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Miguel Nicolelis/ foto: divulgação
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Capa de "O Verdadeiro Criador de Tudo"/ foto: divulgação
Divulgação
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Renato Félix

As conexões cerebrais e como elas foram fundamentais para a humanidade construir – para o bem e para o mal – o mundo em que vivemos hoje. É o tema do livro “O Verdadeiro Criador de Tudo”, do neurocientista, professor e pesquisador Miguel Nicolelis. O cientista, que atualmente coordena o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, falou sobre seu trabalho na live Horizontes da Inovação, programa de comunicação pública da Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba, disponível no Canal da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq).

O livro aborda o posicionamento do cérebro humano no centro da trajetória humana no planeta. Nicolelis pesquisa no Brasil e nos EUA o cérebro humano há quase 40 anos (que se completarão em 2022). Em “O Verdadeiro Criador de Tudo”, ele apresenta, entre outros, o conceito de brainets.

“É uma ideia que desenvolvi no livro pra tentar explicar como a história da nossa espécie se desenrolou graças à criação de grupos sociais extremamente coesos, que multiplicaram por três a capacidade que então havia dos nossos primos primatas de formar grupos sociais”, conta ele na live. Isso ocorre porque nosso cérebro foi moldado para se correlacionar com elementos da nossa espécie.

“O que discuto no livro é como a formação desses grupos – através de mecanismos que permitem literalmente que a atividade elétrica de cérebros de vários indivíduos se sincronizem em relação a um abstração mental, a uma nova tecnologia, a uma nova narrativa da realidade – foi essencial que para nós construíssemos esse chamado ‘universo humano’, que é basicamente o resumo de tudo aquilo foi realizado nos últimos 100 mil anos pela nossa espécie”.

Se nós não tivéssemos adquirido essa capacidade de sincronizar os nosso cérebros e criar esse universos, que hoje eu defino como universo paralelos, mediante mitos, visões religiosas, ideologias políticas, sistemas econômicos, definições culturais, essa gênese de universos é uma das características vitais pro sucesso – e também para os graves erros cometidos pela nossa espécie nessa nossa existência histórica.

A sincronização de cérebros – através da comunicação oral e escrita – é que permitiu a transmissão do conhecimento através das eras. Mas também diz respeito à capacidade do cérebro humano de criar bolhas “Universos paralelos em torno do qual as pessoas se congregam porque seus cérebros foram sincronizados para seguir essa abstração mental – às vezes mais importante que a vida”, afirma Nicolelis.

Partidos políticos, cultos, times de futebol, mercado são exemplos dessas abstrações mentais. “Em nome dessa abstração, você faz coisas que põem em risco a própria sobrevivência da espécie”, analisa. E isso, também, aumenta o perigo das fake news, turbinadas pelas redes sociais. “Fake news não são uma questão nova, existem há milhares de anos. Mas hoje as redes sociais conseguem espalhar isso para mais gente mais rapidamente. O presidente americano Donald Trump, por exemplo, criou um universo paralelo onde ele não perdeu a eleição, onde os Estados Unidos lidaram e lidam com a pandemia com sucesso...”.

Miguel Nicolelis fala também da chamada inteligência artificial, da evolução humana no começo dos tempos, da aldeia global e outros assuntos, como a solidão provocada pela tecnologia. O Horizontes da Inovação é transmitido ao vivo às terças-feiras, às 18h, quando os espectadores podem mandar perguntas e participar da conversa, mas os programas ficam disponíveis para serem assistidos ou assistidos em qualquer horário.

Assista: https://bit.ly/36ZjyNE