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Criatividade

Estudantes apontam soluções para problemas da comunidade

publicado: 11/01/2021 00h00, última modificação: 14/01/2021 16h35
Projetos selecionados pelo programa Ouse Criar vão desde aplicativos de venda de produtos rurais a sensores para bengalas
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Equipe Invictos, de São Bento/ montagem: divulgação
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Equipe Elite, de Condado/ montagem: divulgação
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Equipe Carga Explosiva, de Mogeiro/ foto: divulgação
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Equipe Agro Oxente, de Juru/ montagem: divulgação
Divulgação
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Renato Félix

 

Sites para auxiliar as vendas de produtores rurais, reutilização consciente da água e até um sensor para bengalas. São alguns dos projetos propostos por estudantes da Rede Estadual de Ensino no programa Ouse Criar, que selecionou 20 que, agora, partem para uma nova fase, que vai buscar a viabilização dos projetos. O programa do Governo do Estado, de empreendedorismo e inovação, é desenvolvido por especialistas da Secretaria de Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba, tem recursos executados pela Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (FapesqPB) e mantém parcerias com o Sebrae, com o Sistema S e com universidades.

Cada grupo de alunos forma uma equipe e possui um professor-mentor. O Ouse Criar anunciou as 20 equipes selecionadas no final de dezembro. Entre elas, está a “Carga Explosiva”, que apresentou a ideia de um conjunto de sensores para ser acoplado em bengalas. “A ideia é que esse conjunto de sensores consiga detectar objetos parados ou em movimento que sejam uma ameaça para o usuário através de um sinal sonoro e também vibrando o dispositivo”, explica Júlio César Silveira, professor de Física e mentor da equipe Carga Explosiva. “O público alvo do nosso projeto são as pessoas com pouca ou nenhuma visão”.

A equipe é formada por cinco alunos da Escola Cidadã Integral Otávia Silveira, da cidade de Mogeiro. São eles: Ana Sofia, Maria Graziella, Vitória Beatriz, Marielly Maria e José Clementino. Ana Sofia e Maria Graziella tiveram a ideia ainda no Ensino Fundamental, quando pensaram em participar de uma feira de ciências na escola.

“Não conseguimos achar o sensor que planejamos usar e, aí, infelizmente nosso projeto não foi realizado nesta feira”, explica Ana Sofia, de 15 anos. “Em 2020 conhecemos o Ouse Criar e decidimos tentar novamente, porém com outro tipos de sensores”. Com o programa, elas tiraram o projeto da gaveta e reuniram outros colegas. Agora, partem para a próxima fase. “Pode ajudar no orçamento da bengala, na compra das peças, para podermos apresentar ela montada na próxima etapa”, diz, sobre a expectativa. “Teremos um produto de fato após o final dessa etapa”.

“No campo acadêmico, eles vão ganhar muito através de conhecimento empirico na construção de um equipamento elaborado. Precisarei ensinar a eles bastante coisa sobre eletrônica e programação, por exemplo, e tudo isso da forma que eu acredito ser a melhor: vão aprender fazendo, colocando a mão na massa”, opina Julio César, que trabalhou com sensoriamento e detecção de objetos em seu trabalho final no curso de Física. “Já no âmbito pessoal, creio que o fato de aprenderem a tirar uma ideia do papel e de desenvolver essa ideia até termos um produto pronto pro mercado vai ser a maior contribuição dessa etapa”.

 

Alavancando vendas

 

Alguns dos projetos estão preocupados com o comércio dos produtores rurais de suas regiões. Por exemplo, em São Bento, onde a equipe “Invictos” planeja um site para anunciar os produtos têxteis da cidade e dos municípios vizinhos.

Raíssa Lopez, Davy Alves, Luiz Henrique, Alycia Soares e Kauan de Sousa são os estudantes e Magna Mansuene, professora de matemática, é a mentora da equipe, da Escola Cidadã Integral Técnica São Bento.  Magna explica que a ideia é dar “a mesma oportunidade de anunciar e vender os produtos tanto para as empresas que são maiores quanto para os pequenos empreendedores”.

Para isso, o grupo planeja um site no estilo Mercado Livre: não uma homepage dos empreendedores, mas uma plataforma onde compradores e vendedores façam contato (e negócios) uns com os outros diretamente.

“Muitas pessoas adoram nosso produto, mas não querem vir à cidade para consegui-lo pelo tempo e a distância”, explica Raissa, 16 anos. “Buscamos falar com pessoas próximas, familiares, amigos, conhecidos que trabalham com os produtos relacionados ao site, e eles gostaram bastante. Até mesmo como possíveis clientes”.

Já em Condado, a equipe “Elite” procurou a Associação dos Apicultores e Produtores Rurais da cidade. E decidiram se debruçar sobre a venda do mel. “Se a gente conseguir que o produto tenha saída, nós conseguiremos que todos os outros problemas sejam solucionados”, informa Everaldo Ismael da Silva, professor de matemática e mentor da equipe. A aposta é a divulgação da associação nas redes sociais e a integração em aplicativo de delivery. “Com isso, nós pretendemos fazer com que todas as pessoas que anseiam comprar o mel saibam onde e como comprar e de uma forma mais prática”.

A equipe é formada pelos alunos Carolaine Santos, Darlene Medeiros, Francisca Alves da Silva, Jefferson de Oliveira Silva e Milena Almeida. O projeto prevê também a criação de uma logomarca para o produto. Atualmente, segundo a associação, 12 famílias trabalham com a produção de mel em Condado. Em média 1,5 mil litros de mel são retirados por ano.

Em Juru, a equipe “Agro Oxente”, também pensou num aplicativo para a comercialização de produtos rurais. “Muitas das mercadorias comercializadas aqui vêm de fora. E aí o pessoal tem esse receio de como é produzido, dos tratos, do manejo, tem essa questão do uso exarcebado de defensivos agrícolas...”, conta Jean Francisco Gama, professor e coordenador do curso técnico em Agronegócio, e mentor da equipe. “Já o produtor tem reclamado dos preços pagos, de que estão praticamente na mão dos atravessadores”

Tainá Amaral, Hellen Bento, Taís Ramos, Ana Carolina Souza e Marcos Pereira da Silva. Da Escola Cidadã Integral Técnica Arlinda Pessoa da Silva, desenvolveram a ideia do aplicativo, que fará a ligação direta entre produtor e consumidor e permite até que o comprador visite a propriedade e faça ele mesmo a colheita. A ideia surgiu da vivência dos próprios alunos.

“Todos são filhos de produtores”, conta o professor. “Os pais relataram o mesmo problema. O aluno Marcos, por exemplo, atua bastante com o pai na produção familiar”. Assim, os estudantes puderam entrevistar também os vizinhos e identificar na prática um problema de sua comunidade e pensar em uma solução.

 

 

Reutilização de água

 

A água da chuva e a água “cinza” (da cozinha, banheiros e da limpeza) será reaproveitada no projeto da equipe da Escola Cidadã Integral Professor Crispim Coelho, de Cajazeiras. “Nossa escola possui uma estrutura física que facilita a captação de águas da chuva. Essa água, os estudantes pretendem armazenar em reservatórios construídos com geladeiras velhas”, explica Renato Nunes Ramalho, professor de Física e mentor da equipe “Tropa Crispiniana”, formada por Filipe Candido, Nicole Pereira, Emilly Gabrielly, Pedro Artur e Samille Pereira.

“Há também o aproveitamento das águas cinzas de ambientes como cozinha, banheiros e limpeza. Está será tratada por meios caseiros, envolvendo alunos e professores em disciplinas eletivas”, continua Ramalho. “Parte de toda a água será aproveitada em hortas já existentes na escola e para a limpeza do prédio”. Para isso, foi pensada até a construção de uma tubulação feita de bambu.

A ideia de utilizar geladeiras velhas surgiu da observação de um dos alunos da equipe que reside na zona rural. “Ele viu seu pai usar a geladeira que não funcionava mais como reservatório de água para criação de animais”, conta o mentor.

Como esses, outros projetos do Ouse Criar seguem para uma nova fase: a de desenvolvimento. No total, 840 estudantes participaram da primeira fase do programa em toda a Rede Estadual de Ensino. Uma experiência que pode fazer diferença na vida de cada um deles muito além da vivência acadêmica e dos projetos em que trabalharam.