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Covid-19

Rota da propagação do coronavírus na Paraíba

publicado: 15/06/2020 09h06, última modificação: 15/06/2020 09h14
Comitê Científico do Nordeste detecta o fluxo do aumento de casos no interior
Mapa 01

Nº de casos por 100 mil habitantes em 24 de maio de 2020

 

Márcia Dementshuk

 

Estudos atualizados de especialistas em colaboração com o Comitê Científico do Consórcio Nordeste demonstram como o novo coronavírus (SARS-COV-2) “trafega” pelas rodovias rumo ao interior da Paraíba, onde o aumento dos números de municípios afetados e de casos confirmados indicam a necessidade de atenção ao problema de interiorização da pandemia e suas potenciais consequências.

Os mapas 1 e 2 do Comitê Científico do Consórcio Nordeste mostram que os municípios por onde passa a BR-230 e a BR-101 tiveram grande aumento do número de casos e mudaram de cenário no intervalo de apenas duas semanas. É notória a mudança da coloração do amarelo para o vermelho nos municípios por onde passam as rodovias federais, indicando um agravamento da situação epidemiológica nessas localidades.

Dentre os diferentes índices usados para monitorar o aumento de casos confirmados de COVID-19, mapas que descrevem o número de casos por 100 mil habitantes são úteis para uma avaliação comparativa entre localidades com diferentes tamanhos populacionais. De acordo com o pesquisador Rafael L. G. Raimundo, do Centro de Ciências Aplicadas e Educação da Universidade Federal da Paraíba (Campus IV), “os mapas para o Estado da Paraíba mostram claramente um aumento tanto do número de municípios afetados como no aumento de novos casos em várias regiões paraibanas entre o final de Maio e início de Junho”.

Segundo o professor Raimundo, “neste período de 14 dias, o monitoramento do acúmulo de casos de covid-19 nos diferentes municípios permite a identificação de padrões nesse processo de interiorização da pandemia, o que pode auxiliar os tomadores de decisão a implementar medidas preventivas e mitigatórias, buscando salvar vidas”.

No caso da Paraíba, municípios como Guarabira estão com grande aumento do número de casos nessas últimas semanas. De acordo com o pesquisador da UFPB, “é bastante razoável supor que muitos desses municípios menores não terão, localmente, capacidade adequada de atendimento a um quantitativo crescente de pacientes graves infectados pelo coronavírus, os quais tendem a ser removidos para cidades maiores como Campina Grande e João Pessoa, gerando assim uma sobrecarga extra para o sistema de saúde estadual, que já se encontra operando sob alta demanda”.

Outros regiões em que se observa aumento expressivo de casos nas últimas semanas incluem municípios do litoral norte, como Mamanguape e Rio Tinto (BR-101), várias cidades do agreste paraibano e também o Alto Sertão, notadamente em Cajazeiras e Sousa.

Dessa forma, é fundamental reforçar as medidas de isolamento social e outras políticas emergenciais complementares, tais como como auxílios governamentais para que seja possível para as pessoas, financeiramente, permanecer em casa neste momento.

Aplicação da Matriz de Risco para planejamento de retorno às atividades

Para Rafael Raimundo, “não é possível falar de reabertura em situações onde as curvas de casos e de óbitos continuem ascendentes, e o sistema de saúde sobrecarregado, sob pena do agravamento da situação epidemiológica. Qualquer debate sobre a possibilidade de reabertura deve ser pautada por critérios técnicos objetivos, que dizem respeito ao risco que cada cidade ou região está vivendo em determinado momento, tais como os critérios propostos pelo Comitê Científico do Consórcio Nordeste”.

O pesquisador se refere à matriz de risco proposta pelo Comitê Científico de Combate ao Coronavírus em seu Boletim 8. É uma proposta abrangente, considerando critérios de risco chaves como uma referência para gestores estaduais e municipais.

Para formular a matriz de risco, o Comitê do Consórcio Nordeste examinou várias matrizes de risco internacionais, mas também um modelo implementado com grande efetividade pelo governo do Estado da Paraíba. Abrange três eixos de indicadores: tensão sob o sistema de saúde; situação local da epidemia; e isolamento social (veja neste link atualizações diárias) e influência geográfica. Ao todo, 13 parâmetros foram selecionados (veja nas figuras 1 e 2). Também considera-se o fator de reprodução “R”, que é a taxa que demonstra o crescimento da infecção. Uma nota técnica que detalha os cálculos dos índices propostos na matriz de risco do Comitê Científico do Nordeste, disponível no site do comitê.

Segundo informações da Secretaria de Comunicação do Governo da Paraíba, o modelo apresentado pelo Governo Estadual “é orientador e auxiliará os municípios na tomada de decisão para flexibilização. (...) A matriz foi desenvolvida pela Secretaria de Estado Saúde e pela Controladoria Geral do Estado e é baseada em indicadores, a exemplo da quantidade percentual de novos casos e óbitos, ocupação da rede hospitalar da região e percentual de isolamento social. O modelo analisa um período referente a 14 dias, o qual resulta em uma bandeira com cor indicativa sobre quais as atividades que o município poderá flexibilizar”.

A matriz sugerida pelo governo da Paraíba aos gestores municipais está mais simplificada e confere maior agilidade para a gestão pública. A matriz do comitê é uma referência, requer mais tempo para análise, pois considera maior número de critérios. A atuação do Comitê Científico do Consórcio Nordeste é uma orientação com base em pesquisas exaustivas. Acima de tudo, o poder decisório para definir o que vai ser de fato implementado são os governos estaduais.