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Pesquisa investiga efeitos do aumento da temperatura na Caatinga e na Mata Atlãntica

publicado: 07/01/2024 00h00, última modificação: 09/01/2024 09h51
Estudo avalia os riscos regionais do uso indiscriminado da terra e das mudanças climáticas e oportunidades dos serviços ecossistêmicos
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Preservação dos biomas ajuda a mitigar efeitos das mudanças climáticas/ foto: Mano de Carvalho
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Estudo é coordenado por dois pesquisadores, um da Paraíba e outro de São Paulo, com a participação de 23 pesquisadores colaboradores/ foto: divulgação
Cópia de manodecarvalho-raposinha na Fazenda das Almas
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O Brasil vem passando por uma sequência de ondas de calor antes mesmo do início do verão, e o fenômeno El Niño deve influenciar nas temperaturas. Este verão deve estar entre os três mais quentes da história. Pesquisa desenvolvida por cientistas da Paraíba e de São Paulo desde 2020 identificaram aumento da temperatura ao longo do século especialmente na região do semiárido brasileiro.

O objetivo da pesquisa é investigar os efeitos das mudanças climáticas e da cobertura vegetal no regime hidrológico local e regional para bacias estratégicas em áreas da Caatinga e Mata Atlântica do Sudeste, de forma a avaliar riscos e oportunidades de serviços ecossistêmicos hídrico-climáticos à segurança hídrica. O estudo é coordenado por dois pesquisadores, um da Paraíba e outro de São Paulo, com a participação de 23 pesquisadores colaboradores.

O projeto foi financiado pelo Governo da Paraíba, por meio da Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties), através da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq) com recursos em torno de R$ 195 mil. Na Paraíba, o projeto é coordenado pela profa. Sandra Isay Saad, da Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Em São Paulo, o projeto é coordenado pelo professor Humberto Rocha, da Universidade de São Paulo, e é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

A pesquisa também conta com a colaboração do prof. Jonathan Mota da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e equipe de alunos, e do Dr. Alexandre de Medeiros da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa), além de alunos da UFCG e da USP.

Os pesquisadores se debruçam em análise de dados climáticos e hidrológicos e na modelagem desses processos em bacias hidrográficas estratégicas no Nordeste e Sudeste brasileiros.

Sandra Saad, coordenadora da pesquisa na PB, esclarece que no Nordeste os trabalhos se concentraram na análise e na modelagem dos dados hidrometeorológicos. O objetivo central foi valorar os serviços ecossistêmicos, que de certa forma, corresponde a quantificar o valor econômico, considerando riscos e as oportunidades, que a natureza possui espontaneamente ao manter fontes de água, nascentes, rios e até açudes. Estes são alguns dos “serviços ecossistêmicos” que a natureza presta “de graça”. Por isso, os especialistas alertam para a importância de conservar o ambiente e quantificar estes serviços.

Saad explica que o grupo de cientistas em São Paulo, liderados pelo prof. Humberto Rocha, se concentrou na parte de observação de variáveis de água e clima na microbacia do Ribeirão Posses (SP). Nessa bacia já se tem um entendimento dos serviços ecossistêmicos no Sudeste, que servirão de base para a continuidade da pesquisa pelo grupo do projeto entre PB e SP, como também a implementação desta experiência no Nordeste.

Segundo a pesquisadora, este projeto fomentou diversos trabalhos acadêmicos nas seguintes linhas de pesquisa: Análise das projeções climáticas para o futuro e consequências aos recursos hídricos; Análise do desmatamento ou reflorestamento e impactos nos recursos hídricos; Análise dos Serviços Ecossistêmicos e Investigação de microclimas na Caatinga. “Fizemos uma avaliação dos melhores modelos do IPCC, o Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas, e identificamos os que melhor representam sistemas meteorológicos importantes para a estação chuvosa no Semiárido Brasileiro”, disse.

Os pesquisadores regionalizaram projeções climáticas com um detalhamento maior (detalhamento climático) para a bacia do Rio São Francisco e identificaram aumentos da temperatura distribuídos na bacia ao longo do século, especialmente na região semiárida dela. Em outro trabalho, as projeções mostraram um aumento das vazões extremas máximas para a Bacia do Piancó (PB) e uma redução das vazões médias, que representa um quadro desfavorável com redução da quantidade de água nos rios e mais concentrada em períodos mais chuvosos. “Temos estudos em andamento que buscarão avaliar a mudança climática a partir da melhoria da resolução das projeções originais, utilizando um modelo físico. Para isso, foi necessário adaptar o modelo às condições locais”, destacou Sandra.

O estudo avaliou os impactos da degradação ambiental sofrida nos últimos anos na Bacia do Rio Seridó, uma sub-bacia da Bacia do Rio Piancó-Piranhas-Açu, onde notou-se uma forte redução da umidade do solo. Ao contrário, a microbacia do Ribeirão das Posses (MG) foi submetida a um aumento de cobertura de floresta e outras melhorias promovidas pelo Projeto Conservador das Águas, um projeto de Pagamento por Serviços Ecossistêmicos. Para essa bacia analisaram-se os Serviços Ecossistêmicos gerados em função da melhoria da qualidade ambiental. Verificamos a redução da perda de solos através de um estudo de simulação numérica, implicando em Produção de Serviços Ecossistêmicos com benefícios econômicos para o reservatório do Cantareira, devido à melhoria da qualidade da água.

Com relação aos estudos de microclima da Caatinga, ainda estão em andamento e promoverão um entendimento dos fluxos de energia e componentes do ciclo hidrológico da Caatinga e as variações e servirão como base para ajustar e avaliar os modelos atmosféricos e hidrológicos.

“A aplicação das nossas pesquisas impulsionou a implementação de modelos, e consequentemente de sistemas computacionais para previsão. Alguns desses já estão disponíveis para a Aesa em Campina Grande”. Esses estudos foram realizados em um servidor computacional, comprado com a verba do projeto, e configurado para promover um ambiente computacional robusto para as pesquisas e operação, além de dar apoio às atividades de ensino e projetos de extensão na Unidade Acadêmica de Ciências Atmosféricas da UFCG.

“O conjunto das pesquisas teve, de forma resumida, avançar com a componente de modelagem de processos associados aos serviços ecossistêmicos, considerando também as mudanças climáticas”, relata o pesquisador Prof. Jonathan Mota, parceiro do projeto.

 

Serviços Ecossistêmicos

 

São benefícios que as pessoas obtêm direta ou indiretamente dos ecossistemas, incluindo serviços de provisionamento (por exemplo, água, alimentos), serviços de regulação (por exemplo, controle de erosão, purificação de água), serviços culturais e serviços de apoio (por exemplo, formação do solo).

Os ecossistemas preservados promovem a mitigação das mudanças climáticas, devido à sua capacidade de remover carbono da atmosfera e armazená-lo. Além disso, os ecossistemas bem manejados podem ajudar as sociedades a se adaptarem aos riscos climáticos atuais e às mudanças climáticas futuras, fornecendo uma série de serviços ecossistêmicos: provisionamento; regulação climática local para a agricultura; regulação do clima urbano; proteção das áreas costeiras; e proteção de bacias.

A Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, instituída pela Lei nº 14.119, de 13 de janeiro de 2021, trata- se de uma forma de incentivo à conservação e desenvolvimento sustentável. O documento prevê um programa federal de pagamento por esses serviços com foco em ações de manutenção, recuperação ou melhoria da cobertura vegetal. Segundo a Agência Câmara de Notícias, o governo deve regulamentar em breve o pagamento por serviços ambientais.