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Observatório astronômico está sendo construído em Juazeirinho, na Paraíba

publicado: 04/02/2024 00h00, última modificação: 05/02/2024 12h10
Dois telescópios vão monitorar e detectar asteroides e lixo espacial na órbita da Terra; equipamento deve começar a funcionar em março
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Observatório em Juazeirinho está quase pronto/ foto: Mateus de Medeiros
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Observatório em Juazeirinho está quase pronto/ foto: Mateus de Medeiros
2024.02.04 - A União - Observatorio Juazeirinho - foto Mateus de Medeiros - 01
2024.02.04 - A União - Observatorio Juazeirinho - foto Mateus de Medeiros - 05

Um observatório está sendo construído em Juazeirinho para pesquisas de astronomia e do geoespaço, uma parceria entre a Universidade Estadual da Paraíba (UFPB) e o Observatório de Xangai, da China. Dois telescópios ópticos vão observar asteroides e lixo espacial numa órbita sobre a linha do Equador. A construção começou em setembro de 2022, concluindo neste início de 2024 com o primeiro equipamento funcionando previsto já para março. O secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior, Claudio Furtado, visitou o local na última terça-feira (30).

“O observatório é um equipamento muito importante porque ele olhará para diversos setores tanto aqui da Terra, caso da ionosfera e outras camadas da atmosfera, como também para os asteroides e para corpos que estão em órbita geoestacionária em torno da Terra”, explica Furtado. “Essa é uma colaboração da Universidade Estadual da Paraíba, vinculada ao Estado da Paraíba, com o Observatório de Xangai e também da Academia de Ciências chinesa junto da sua agência espacial. Então é muito importante porque é ciência de relevância e de alto nível tendo investimentos aqui no estado da Paraíba”.

O Observatório Astronômico e do Geoespaço da Paraíba ainda é um nome provisório, mas vai funcionar no Sítio Unha de Gato, que fica a cerca de 14 km do centro de Juazeirinho. “A escolha do local levou em consideração a proximidade da região com o equador geográfico e magnético terrestre”, explica o professor Lourivaldo Mota Lima, líder do Grupo de Física da Atmosfera, do Departamento de Física da UEPB. “A localidade é central no estado e próxima à sede da UEPB. E as condições climáticas e de pouca luminosidade à noite são favoráveis para realização de observações com o uso de equipamentos ópticos”.

“Um dos telescópios, com diâmetro de aproximadamente 1,10m, será dedicado à observação de asteroides próximos à Terra. “Principalmente os que oferecem perigo à Terra”, afirma o professor, referindo-se a possíveis asteroides que possam entrar em rota de colisão com o planeta.

“Existe um esforço de várias agências de pesquisa no mundo inteiro de observar todo o conjunto de asteroides que estão numa faixa de proximidade à Terra, de monitorar as órbitas para ver se eles têm alguns perigos”, explica o secretário. “Esse é um cuidado importante, porque já aconteceu: a Terra recebe ‘bombardeios’ diários, mas você tem que monitorar corpos celestes de um determinado tamanho para ver se ele pode trazer algum perigo. Esse equipamento aqui na Paraíba terá uma visão dessa região do céu para ver esses tipos de asteroides”.

O outro telescópio vai monitorar e identificar objetos na órbita terrestre. “Especificamente detritos espaciais em órbita geossíncrona”, conta Lourivaldo Lima. Geossíncrona é uma órbita de baixa inclinação em torno da Terra que acompanha a rotação do planeta em seu eixo. Ou seja: uma volta completa leva 23 horas 56 minutos e 4 segundos para ser concluída. 

“Uma espaçonave em órbita geossíncrona parece permanecer acima da Terra a uma longitude constante”, explica o professor. Ou seja: parece estar sempre acima do mesmo ponto do planeta e à mesma altura. “Uma órbita geoestacionária, também conhecida como órbita equatorial geossíncrona (GEO), é uma órbita geossíncrona circular de 35.786 km de altitude acima do equador da Terra e que segue a direção da rotação da Terra”.

O observatório também contará um receptor de GNSS (Global Navigation Satellite System – sistema de navegação global via satélite). “O termo GNSS refere-se ao Sistema Internacional de Satélites Multi-Constelação”, conta o professor. “O termo GNSS descreve qualquer constelação de satélites que fornece serviços de posicionamento, navegação e sincronização temporal numa base global ou regional”.

Ou seja: o observatório vai receber dados dessa constelação de satélites. “Esses dados permitem estudar vários parâmetros atmosféricos, tais como perfil de vapor d’água na região da troposfera, bem como estudar o conteúdo eletrônico total na alta atmosfera, que nós chamamos de região da ionosfera”, diz. “As variações que ocorrem nessa região são importantes, principalmente para as comunicações via satélite e também para os satélites de posicionamento na terra, que são os famosos satélites de GPS”.

O observatório também terá, entre seus equipamentos, um radar tipo ionosonda digital para estudar as camadas da ionosfera, um radar de meteoros para estudar a dinâmica da alta atmosfera, e um radiotelescópio solar para estudar as variações da energia no espectro de ondas de rádio emitidas pelo Sol.

 

 

Telescópios de Juazeirinho e Bingo têm missões diferentes

 

O observatório é chamado “do geoespaço” porque trata da região do espaço sideral próxima à Terra. “Isso inclui a alta atmosfera, a ionosfera e também a magnetosfera, como também considera as interações Sol-Terra”, diz Lourivaldo Lima. “Os dados que serão obtidos através das observações proporcionarão o desenvolvimento de pesquisas em várias frentes”.

Essa observação das proximidades do planeta diferencia o observatório de Juazeirinho do radiotelescópio Bingo, que está em instalação no município de Aguiar e mira muito mais longe.

“O Bingo vai olhar para um cenário de ondas de emissão de hidrogênio para estudar matéria escura”, explica Claudio Furtado. “Esse Observatório Astronômico do Geoespaço da Paraíba olha para três processos: a detecção de asteroides utilizando um telescópio, através de um detector lá instalado você monitora efeitos que acontecem dentro da nossa atmosfera (ou seja na região da troposfera e da ionosfera) e um terceiro equipamento que vai monitorar corpos em órbita estacionária da Terra”.

Assim, a Paraíba vai se firmando como um ponto privilegiado de observação do espaço – seja muito longe da Terra ou aqui perto.

 

Texto: Renato Félix