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Inteligência artificial promove inovação na pesquisa paraibana

publicado: 24/01/2020 11h28, última modificação: 27/01/2020 11h02
Estado possui vários projetos e ações cujo desenvolvimento se baseia no emprego desse conjunto de técnicas
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Professor Yuri do Centro de Informática da UFPB. Foto: Diego Nóbrega
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Professor Gilberto do Centro de Informática da UFPB. Foto: Diego Nóbrega
Divulgação
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Não é ficção científica. É realidade científica. A Inteligência Artificial é um recurso computacional construído e dominado pelo ser humano. Reúne um conjunto de técnicas possíveis de serem aplicadas para resolver diversos problemas. A reportagem visitou o Centro de Informática da Universidade Federal da Paraíba e percorreu os laboratórios onde essas soluções são criadas e desenvolvidas. De posse delas, os cidadãos, as empresas, os governos, experimentam os benefícios. Todas as técnicas mencionadas serão ensinadas no novo curso Ciência de Dados e Inteligência Artificial da UFPB.

 

Tradutor do Português para libras – VLibras

 

A aplicação que auxilia surdos a traduzir textos do Português para a Língua Brasileira de Sinais aprendeu a diferenciar o significado de palavras com mais de um sentido. O VLibras é um recurso gratuito para computadores e celulares que lê os textos na Web e, através de um  bonequinho simpático, o avatar, transforma o conteúdo nos gestos compreensíveis aos surdos. “Grande parte tem dificuldade em ler o Português, porque a Libras é a primeira língua deles; o Português é como uma língua estrangeira”, explica Tiago Maritan, do Laboratório de Vídeo Digital (Lavid), que desde 2009 desenvolve com estudantes a aplicação criada no Centro de Informática da UFPB.

“Sempre utilizamos a inteligência artificial para desenvolver o VLibras, mas era uma abordagem clássica, não baseada em aprendizagem de máquina. Esbarramos na limitação dos aspectos relacionados ao contexto no qual as palavras estão inseridas. Laranja é a fruta, é a cor, ou é uma pessoa que se comporta como um ‘laranja’? Em 2019 montamos uma equipe de intérpretes para construir uma base de dados com mais de 100 mil sentenças – exemplos de tradução – e aplicamos a aprendizagem de máquina no VLibras. Em dezembro lançamos a versão do VLibras atualizada”, explica o pesquisador. O VLibras é usado em sites governamentais, como no site do Governo da Paraíba, e está disponível gratuitamente na Internet.

 

Análise de crédito

 

O tempo para ter a resposta a um pedido de crédito em uma loja será quase instantâneo com a entrada da inteligência artificial nesse processo.

A inteligência artificial aprende através do histórico de pedidos de crédito que foram concedidos ou negados na loja e identifica o perfil dos bons pagadores. E mais: daqueles que tiveram crédito, a máquina saberá qual o perfil de quem pagou, de quem atrasou, ou está em dívida. 

Quando um cliente novo pedir crédito, será possível dizer rapidamente se ele terá aprovação ou não.

Gilberto Farias, Chefe do Departamento de Educação Científica do Centro de Informática da UFPB e do Laboratório de Engenharia de Sistemas e Robótica (Laser), informa que a ferramenta usada é o “aprendizado de máquina na aplicação de crediário”. Essa aplicação está em desenvolvimento e começará em breve a ser usada em uma loja de varejo na Paraíba. O processo será automatizado, os riscos de inadimplência serão menores e os clientes ganharão tempo.

 

Otimização de rotas para entregas de produtos

 

As entregas em lojas de varejo serão feitas com mais eficiência em trajetos pré-programados. A inteligência artificial calculará a melhor sequência para entregas em vários endereços.

A técnica usada foi a de algoritmos com meta-heurística, específica para problemas de otimização. É a mesma da “distância entre dois pontos”, mas para resolver o problema de roteamento é mais difícil: há uma sequência de distâncias que precisam ser combinadas para dar a menor rota. O Google Maps dá rotas entre dois pontos, dentro de uma sequência que o usuário insere. O sistema desenvolvido na UFPB vai além, ele determina a sequência dos endereços fazendo o menor percurso, dentro de uma janela de tempo agendada.

“Com esse sistema conseguimos baixar em 30% o percurso que todos os caminhões fizeram em um dia de teste. A frota, de 6 caminhões foi reduzida para 5, sem ultrapassar o horário dos motoristas”, informa Gilberto Farias (Laser). A aplicação já está em uso em uma loja de varejo na Paraíba.

 

Projeto de IA agiliza processos no Tribunal de Contas do Estado da Paraíba

 

Uma das funções dos auditores do TCE é analisar os empenhos enviados pelos municípios para valiar se o gasto está de acordo. O empenho é uma promessa de pagamento, mas o TCE só libera se o empenho se refere à verba destinada – um pagamento de fardas de estudantes com a verba da Educação, por exemplo. 

O TCE recebe um volume grande para analisar e o fazem manualmente, um por um. A resposta para o município demora e prejudica os cidadãos. Essa análise pode ser feita com mais rapidez e menos erros por máquinas e agilizar a administração pública. Yuri Malheiros, do ARIA, Laboratório de Aplicações em Inteligência Artificial (CI/UFPB), explica que a máquina está aprendendo os padrões com análises de uma coleção de dados de processos antigos. “Usamos a técnica redes neurais recorrentes”, esclarece.

“Para fazer com que a máquina aprenda uma técnica de IA é preciso consultar dados anteriores. E para extrair a informação, aplica o aprendizado de máquina. É A Ciência de Dados associada à Inteligência Artificial”, fala Malheiros. 

 

Configuração inteligente dos estoques

 

Quando uma loja lança uma campanha publicitária com promoções imperdíveis o consumidor se vê motivado a comprar. E se, ao chegar à loja, o produto acabou? Essa é a chamada “ruptura de estoque” - a bem sucedida propaganda não encontra respaldo no planejamento de estoque do produto e as vendas falham. 

A inteligência artificial corrige essa falha. Nesse caso, o programa faz uma projeção do que poderia ter sido vendido se ainda houvesse o estoque. É aplicada uma técnica matemática simples. O sistema olha a curva de vendas. De repente ela zera – ocorre a ruptura – o produto acabou. A Inteligência Artificial faz uma interpolação nessa reta, como se ela continuasse seguindo até a data que o estoque é reposto na loja. Nesse vácuo, quantos produtos seriam vendidos se não acabasse o estoque? Essa é a resposta da quantidade de estoque a ser planejada.

Através da técnica “árvore de decisão aleatória”, máquina aprende a gerar o estoque corrigido com base em históricos passados.