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Cresce número de mulheres em negócios na área da tecnologia

publicado: 27/02/2020 16h04, última modificação: 03/03/2020 16h18
Em entrevista, Maria Clara Magalhães, da Be.Labs, fala sobre a trajetória da sturtup que dialoga com mulheres
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Maria Clara Magalhães e Marcela Fujiy na sede da Be. Labs. Arquivo pessoal.
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Mulhertech sim sr. Evento em 2019 contou com mais de 120 participantes.
Divulgação
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Sua própria existência é uma disrupção: ela é estudante de Engenharia Elétrica, é nordestina, é empresária na área de tecnologia, é mulher. Através do perfil de Maria Clara Magalhães é possível entender porque é difícil a mulher seguir uma carreira profissional na área das ciências exatas - especialmente em desenvolvimento tecnológico.

Maria Clara Magalhães está com 23 anos, é alagoana, estuda em Campina Grande e é sócia co-fundadora da Be.labs - aceleradora para startups na Paraíba que completará dois anos em maio - com Marcela Fujiy, Christian Fujiy.

Uma reportagem do “Crunchbase.News”, sugerida pela empresária, revela que 20% das startups recém-financiadas em 2019 têm uma fundadora mulher. Se o número parece baixo, visto que 80% são lideradas por homens, o mesmo Relatório da Diversidade de 2019 da Crunchbase indica que a proporção de mulheres presentes dobrou desde 2009 - era de 10%. Na Paraíba os números do Programa Centelha Paraíba - de apoio a startups em estágio inicial - indicam que a participação da mulher é maior: 28% das 540 ideias submetidas foram provenientes de mulheres.

Para Maria Clara, “se queremos criar um futuro diverso, inclusivo, temos que discutir as tecnologias, o impacto de gênero”. Em abril ela viaja para os Estados Unidos e representará o nordeste  no MIT, em Harvard, discutindo tecnologias, gênero e como fazer acontecer a mudança.

O mês em que as mulheres comemoram um dia, 8 de março, inicia hoje. E nessa entrevista Maria Clara demonstra que a cada dia uma vitória é alcançada. Ela fala do posicionamento das mulheres no mercado, das barreiras e a disrupção nesse quadro.

 

P - Por que restringir o mercado de atuação do Be.Labs ao Nordeste brasileiro?

Escolhemos ter um alcance no Nordeste porque entendemos que vigora um estigma maior nessa região e ela é deixada de lado. Nós já tivemos aceleradas de São Paulo, mas a banda aqui toca de outro jeito. É um trabalho mais difícil, mas é a nossa compreensão daquilo que temos que fazer.

 

 P - Qual a diferença entre as startups do Sudeste e do Nordeste?

O Sudeste é muito mais esclarecido quanto ao mindset, enquanto aqui precisamos formular, construir o pensamento; é um trabalho de formiguinha, de pré-aceleração. Não é de aceleração como preconiza o negócio de startups. Tivemos que dar um passo atrás para poder desenvolver essas mulheres que tem uma visão do empreendimento mas falta o feeling de negócio.

 

P - O que está faltando para as mulheres entrarem na área de tecnologia?

Na visão que temos do alto da força de trabalho na área de tecnologia a maioria dos altos cargos são preenchidos por homens brancos. É difícil achar que a gente [mulher] pode chegar lá se espelhando em pessoas distintas da nossa realidade. Eu estudo no curso de Engenharia Elétrica da UFCG; tenho cerca de 60 professores e quatro são mulheres. É normal as estudantes olharem e pensarem: como eu vou chegar lá se nenhuma mulher nunca chegou? Isso cria um distanciamento entre as estudantes de tecnologia.

 

P - Na sua opinião, por que as mulheres não se aventuram em áreas das Ciências Exatas?

Mesmo as que se aventuram como eu, que trabalham na área, somos bombardeadas a todo o momento por pessoas dizendo que não sabemos fazer, que não podemos, que não vamos conseguir desenvolver, porque somos mulheres. Quando ocupamos os espaços temos que ser muito, muito fortes para enfrentar o preconceito que existe - assédio moral, sexual...

 

P- Como é o perfil dessas mulheres que encaram o desafio e ocupam o espaço no mercado?

As pessoas que topam o desafio não estão sozinhas. A maioria das mulheres que estão conosco [na aceleradora] Que topam se aventurar na área de tecnologia tem a consciência da coletividade. É é algo muito bonito: é como se estivéssemos andando em bando.

São pessoas curiosas que têm essa característica de enfrentamento, de persistência, de resiliência porque acredita e vai desenvolver porque sabe que pode.

 

P - Qual o estigma que a mulher enfrenta nessa área?

Se qualquer pessoa digitar agora no Google “mulher nordestina” vai ter como resposta índices de violência, o que reflete essa cultura do “cabra da peste”. Eu fiz o TCC em cima deste tema; entrevistas com pessoas aleatórias em Arapiraca (PE), onde estou agora, na casa dos meus pais, perguntando o que ela acha sobre o “feminino”. As respostas eram simples, por exemplo: muitas narraram que queriam mas não conseguiam se divorciar por sofrer preconceito da sociedade. Imagina empreender e mais, na área de tecnologia? Chegar a ser um unicórnio, é uma realidade praticamente impossível para a maioria das mulheres.

 

Encontro Mulheres na Tecnologia ocorre 28 de março, em JP

 

Mulher Tech Sim Senhor é um grande encontro de mulheres de tecnologia da Paraíba organizado pela comunidade Women Techmakers, um programa mundial da Google criado para incentivar mulheres a atuar em tecnologia.

Segundo dados da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), entre 2007 e 2017, o número de mulheres que trabalham no setor de TI caiu de 24% para 20%. O Encontro pretende combater essa queda e fortelecer a mulher no mercado de trabalho e em cursos da área de tecnologia.

O encontro acontece em João Pessoa desde 2016. No ano passado, quando Maria Clara Magalhães e Marcela Fujiy participaram dando uma palestra, mais de 120 mulheres de 12 cidades estiveram presente. Os principais temas abordados serão: conteúdos técnicos das áreas de programação, gerência de projetos, inteligência artificial; e assuntos como diversidade, mercado de trabalho -  sororidade, ou seja – a união entre as mulheres.

O Mulher Tech Sim Senhor será dia 28 de março, durante a manhã e a tarde no Auditório Master do Bloco Central da UNIESP, em João Pessoa. As inscrições custam R$ 10,00. Informações pelo Instagram: @mulhertechsimsr.