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Adido científico da Embaixada da Itália no Brasil visita o Parque Tecnológico Horizontes de Inovação

publicado: 05/02/2023 00h00, última modificação: 06/02/2023 16h32
Fabio Naro viu de perto a reforma em andamento e falou sobre as parcerias entre os dois países: 'É preciso convencer as empresas italianas a investir e conhecer melhor o Nordeste'
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Fabio Naro foi acompanhado pelo secretário executivo Rubens Freire na visita ao PTHI/ foto: Renato Félix
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Fabio Naro foi acompanhado pelo secretário executivo Rubens Freire na visita ao PTHI/ foto: Renato Félix
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Fabio Naro foi acompanhado pelo secretário executivo Rubens Freire na visita ao PTHI/ foto: Renato Félix
Divulgação
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Renato Félix 

 

Adido científico da embaixada da Itália no Brasil, Fabio Naro está em João Pessoa e visitou as obras da sede do Parque Tecnológico Horizontes da Inovação. Rubens Freire, secretário executivo de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, acompanhou o professor italiano e explicou a reforma no antigo Colégio Nossa Senhora das Neves, e como será o funcionamento do parque e seu objetivo de ser uma âncora para uma revitalização do Centro Histórico de João Pessoa.

Em 2021, foi assinado pelo embaixador da Itália no Brasil, Francesco Azzarello, e o presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), Odir Antonio Dellagostin, o primeiro Programa Executivo de Cooperação Científica e Tecnológica entre a Itália e o Brasil. Esse programa incluía nove projetos de pesquisa realizados em conjunto por pesquisadores italianos e brasileiros em diversas áreas. É só um exemplo de como os dois países têm caminhado lado a lado quando o assunto é ciência, tecnologia e inovação.

Naro é professor da Faculdade de Medicina da Sapienza Università di Roma. Médico da área de histologia, sempre trabalhou como pesquisador e sua relação profissional com o Brasil começou através do programa Ciência Sem Fronteiras, criado pelo Governo Federal em 2011. Naro foi convidado para permanecer por três anos como professor visitante na Universidade Federal de Pernambuco, em 2016. Sua relação com o Brasil, no entanto, vai além da profissão: sua esposa, que ele conheceu em Roma, é paraibana.

Fabio Naro é adido científico da Embaixada da Itália no Brasil há pouco mais de dois anos. “O trabalho na embaixada é uma bela finalização desse percurso”, contou, nesta entrevista. “Meu trabalho é fazer com que os dois países se conheçam para além das coisas mais óbvias. Existe todo um mundo de ciência, de pesquisadores, de empresas, e de troca de tecnologias na relação entre Brasil e Itália”.

 

O que o senhor achou da visita ao Parque Tecnológico Horizontes de Inovação e do conceito?

Eu achei a ideia muito interessante. Para os Italianos, a ideia do desenvolvimento do centro histórico, da transformação do centro histórico de uma cidade, é um assunto fundamental. As cidades Italianas são feitas de centros históricos. Por isso, essa ideia em João Pessoa, do centro histórico como um lugar de desenvolvimento econômico, ecológico, que seja sustentável e que possa atrair investimentos, moradores, empresas, acho que está perfeitamente na mesma linha do que também se está experimentando na Itália. Por isso, acho que a troca de experiência entre os dois países poderia ser muito importante nesse assunto.

 

Qual sua opinião sobre esse encontro da ciência, tecnologia e inovação com uma área histórica?

Na verdade, a inovação tecnológica faz parte da história das cidades. Só para esclarecer o conceito: vem do Renascimento italiano. O Renascimento italiano pensava em construir a cidade ideal. Nós temos na Itália exemplos muito lindos de cidades que foram pensadas para serem modernas. No Brasil aconteceu a mesma coisa em Brasília. Então essa ideia da cidade como um lugar que seja também de inovação e de um desenvolvimento tecnológico faz parte da ideia mesma da cidade: um lugar onde os homens morem juntos e desenvolvam atividades juntos, que podem ser tecnológicas ou de empreendedorismo. Eu acho que é perfeitamente compatível. Claro, nem todas as atividades podem ser trazidas para um centro histórico, mas tudo o que está conectado com inteligência pode encontrar no centro histórico de uma cidade um lugar mais acolhedor.

 

A presença de moradores, de gente, nesse contexto, é importante?

É claro que as cidades existem quando existem moradores. Qualquer lugar que fica vazio após as cinco da tarde vai ser um deserto e não vai se sustentar. O que faz os centros históricos das cidades italianas serem reconhecidos como um dos melhores do mundo para se viver é isso: além da atividade econômica, há as pessoas que vivem no lugar, para que o centro histórico seja um lugar agradável para trabalhar e para morar. Então precisa de serviços, de investimentos, de políticas públicas para atrair moradores. Porque senão vai ser um espaço vazio que nunca vai se sustentar.

 

Como é essa relação da alma italiana com seus centros históricos?

Em primeiro lugar, temos que lembrar que parte da alma italiana está no Brasil (risos). Porque o Brasil é o país do mundo que tem a maior parte de descendentes italianos. Eu acho que os centros históricos italianos têm problemas, isso é normal, faz parte da vida. Tem o problema do custo de vida, a invasão do turismo, a sustentabilidade no turismo de massa... Mas também outro aspecto que acho interessante: a transição do prédio histórico para uma tecnologia mais sustentável. Acho que essa ideia será importante no futuro. Então acho que o que a Itália pode sugerir ao Brasil é como fazer centros históricos mais acolhedores. E isso passa pela capacidade de atrair moradores que fiquem lá e fiquem felizes de morar no centro histórico da cidade. Porque o centro histórico de qualquer cidade do mundo é o lugar onde você conhece todo mundo, onde você pode ter pequenas lojas para encontrar o produto que você quer, onde se pode passear. Ter um estilo mais humano de viver.

 

A relação entre Itália e Brasil no âmbito da ciência e da tecnologia já possui um histórico.

Os dois países, ao longo dos anos, desenvolveram uma grande quantidade de parcerias. O Brasil é o quinto parceiro acadêmico da Itália no mundo – muito mais que países muito mais próximos da Itália. Quase mil empresas italianas, muitas delas de tecnologia avançada, investem em trabalho aqui no Brasil. O que acho que seria interessante é o contrário: que empresas brasileiras, especialmente na área de tecnologia, tivessem mais coragem de investir na Itália e fazer parcerias com empresas italianas. Acho que essa pode ser uma área em que a parceria entre os dois países, que é muito grande, poderia se desenvolver mais.

 

A gente tem uma área específica em que essa parceria se destaca?

Vou dar um exemplo: aqui no Brasil há mais de 400 pesquisadores italianos em universidades brasileiras. Em todas as áreas. Os italianos formam a segunda comunidade científica europeia aqui no Brasil. A pesquisadora mais produtiva do Brasil na área da covid-19 é uma italiana: Marta Giovanetti, que trabalhava na Fiocruz. Então, é difícil dizer qual seja a área mais desenvolvida. Não conheço uma área aqui onde os italianos não colaboram.

 

O senhor acha que empresas italianas se interessariam em uma colaboração com nosso parque tecnológico?

Eu acho que sim. Porque, na minha experiência, as empresas italianas vêm para o Brasil para ficar. A maioria das empresas italianas aqui no Brasil trabalham no Brasil, ficam no Brasil, tem empregados brasileiros, pagam imposto no Brasil, fazem parte da economia brasileira. O que acho é que a gente tem que fazer um trabalho para convencer as empresas italianas a investir e conhecer melhor o Nordeste. Na minha visão, o Nordeste é uma ponte entre o Brasil e a Europa. É o lugar mais perto, e também pode ser uma porta para a África. O Nordeste está se desenvolvendo muito rapidamente. A Itália já tem investimentos no Nordeste: tem uma gigantesca fábrica da Fiat aqui perto, em Pernambuco. Acho que fazer um esforço um pouco maior para convencer as empresas de que aqui ela podem encontrar as melhores condições para desenvolver o próprio negócio de tecnologia é um desafio interessante para a Itália e para o próprio Brasil.